Não recrimino alguém que se sente aliviado com a morte de uma pessoa sofredora por uma doença incurável ou em estado terminal. Nessas situações, a frase mais proferida é: ela descansou. Também consigo compreender a sensação de dever cumprido, quando alguém, depois de gozar uma vida inteira de felicidade e realização, decide ir embora.
Já presenciei idosos que obviamente já tinha decidido morrer e, apenas, aguardavam a visita da barca sendo puxada por um cachorro. Também tenho a experiência de velhos e velhas que tomaram a decisão contrária e nem pensam na possibilidade de deixar esse mundo. Continuam com planos futuros, produção intelectual, lucidez, opinião forte, mesmo com cerca de 90 anos.
O próprio José Saramago, escritor premiado, já descreve de forma real e geopolítica, o que aconteceria se as pessoas parassem de morrer. Em “Intermitência da Morte”, Saramago fala de uma Europa velha, com seguridades sociais explodindo pela falta da morte. Mais uma prova da importância da morte.
Mas o que não consigo entender é a alegria trazida pelo assassinato de alguém, como ocorreu com Muamar Kadafi. O controverso ditador, obviamente, também matou muita gente, ora impondo a miséria ditatorial, ora nos conflitos dos últimos meses.
Porém, acredito que nada justifica o assassinato, muito menos a alegria nesta ação.
A morte, antropologicamente e culturalmente falando, foi de fundamental importância para a construção sistemática da cultura que encontramos hoje, em sociedade. A consciência da morte diferenciou nossos ancestrais dos outros animais – com exceção do elefante, que demonstra ter o mesmo entendimento. A percepção da finitude humana fez com que se criasse um vácuo de significados, dando origem a construções culturais como religião, fé, paraíso mítico, vida após a morte, dentre outros.
São valores primitivos que se caracterizam como base para a organização de grupos e dogmas. Também primitivo é a festa com a morte bárbara de um homem, independente de sua história, que ensanguentado e esbofeteado, clama pela vida e pela legalidade.
As últimas palavras de Kadafi foram pedindo clemência para que não o matassem e lembrando seus algozes: “Vocês não podem fazer isso”.
Os valores democráticos sempre me nortearam. Acredito que a liberdade e o poder sob o controle social é o que pode garantir a harmonia de uma nação. Mas a vida não é valor, mas sim algo que não nos pertence, é algo dele, é algo individual.
Hoje, organismos internacionais realizam investigações sobre a morte de Kadafi. É evidente, não dará em nada. Já os insurgentes batem cabeça para organizar o conjunto de tribos (não estou aqui falando de maneira pejorativa), que se configura a Líbia. Historicamente, temos outras experiências que nos apontam como é o futuro de uma nação, após a queda de um ditador com duras políticas coercivas.
Para a biologia, a morte é um processo natural de desgaste orgânico. Mas se alegrar com a morte de Kadafi, nenhuma ciência explica.
Ético: modo de fazer
Este texto nasceu em uma conversa entre minha namorada e eu. Em meio a inúmeras declarações, reafirmava que o principal aspecto que compõe a beleza de seu comportamento é a forma com que ela tem de ser naturalmente ética. Para quem ainda não fez nenhum tipo de autocrítica, pode parecer óbvio que a ética nasça de um comportamento natural. Para esses, eu respondo: não necessariamente.
Em minhas parcas observações e minhas experiências, percebo que existem duas maneiras de ser ético: a natural e a vigilante. Mas antes de entrar nas formas de executar, vamos aos conceitos do que é a ética.
Ética é a avaliação particular de valores morais. São as escolhas que fazemos individualmente. Ainda existem outras modalidades da ética como, por exemplo, a profissional, que é quando, de maneira classista, definimos um código de condutas pertinentes àquelas atividades.
Mas voltando a falar da execução da ética, o que me impressiona nas pessoas que são naturalmente éticas é que, para elas, não existem escolha, meditação, raciocínio lógico para chegar a uma conduta acertada. Para esses indivíduos, existe o óbvio, a sensação e a emoção do que está certo e do que está errado. Existe uma verdadeira fluidez a caminho da conduta, com espírito público e retidão de caráter.
Porém, nem todas as pessoas nasceram assim. Por questões genéticas, comportamentais, culturais ou filosóficas, muitas são levadas a instantes de julgamento antes de qualquer tipo de ação. Esses julgamentos são centésimos de segundos, quando passam pelas mentes interesses, malícias, estratégias e o indivíduo no centro da questão. É neste momento que podemos não ser éticos.
Muitos podem ler este texto e acreditarem que são naturalmente éticos, para estes eu digo: vão em frente e gozem o mundo de leveza que a naturalidade da ética vai lhes proporcionar. Outros ainda não perceberam que realmente preservam, em seus interiores, um nível de malícia e esperteza. Essas características fazem os olhos secarem frente às oportunidades, fazem titubear ao escolher o caminho correto.
Para aqueles que ficaram preocupados e realizando um profundo auto-julgamento, quero falar que vocês já estão no caminho certo. A preocupação, em doses corretas, nos faz ficarmos mais vigilantes, atentos, na busca pelo ideal da ética. Este é o objetivo mais nobre que podemos seguir.
Por vezes, fazemos algo que não é correto, mas o amanhecer nos proporciona duas situações incríveis: a possibilidade de consertar e a possibilidade de não fazer mais. O ético que tem de ser vigilante para sê-lo é um vencedor exausto. Com ele, as coisas não são sensações e emoções. As coisas são sempre, sempre, sempre pensadas.
Ficar atento e vigilante para ser ético é estafante. Tem de se estar atento em cada situação – das mais triviais, às mais decisivas. Cansa, preocupa, causa julgamentos internos terríveis, mas vale à pena.
Parabéns aqueles que são éticos de forma natural. Mas parabéns mesmo aos incansáveis éticos vigilantes, que dormem com um olho fechado e o outro aberto para vigiar até seus sonhos.
Em minhas parcas observações e minhas experiências, percebo que existem duas maneiras de ser ético: a natural e a vigilante. Mas antes de entrar nas formas de executar, vamos aos conceitos do que é a ética.
Ética é a avaliação particular de valores morais. São as escolhas que fazemos individualmente. Ainda existem outras modalidades da ética como, por exemplo, a profissional, que é quando, de maneira classista, definimos um código de condutas pertinentes àquelas atividades.
Mas voltando a falar da execução da ética, o que me impressiona nas pessoas que são naturalmente éticas é que, para elas, não existem escolha, meditação, raciocínio lógico para chegar a uma conduta acertada. Para esses indivíduos, existe o óbvio, a sensação e a emoção do que está certo e do que está errado. Existe uma verdadeira fluidez a caminho da conduta, com espírito público e retidão de caráter.
Porém, nem todas as pessoas nasceram assim. Por questões genéticas, comportamentais, culturais ou filosóficas, muitas são levadas a instantes de julgamento antes de qualquer tipo de ação. Esses julgamentos são centésimos de segundos, quando passam pelas mentes interesses, malícias, estratégias e o indivíduo no centro da questão. É neste momento que podemos não ser éticos.
Muitos podem ler este texto e acreditarem que são naturalmente éticos, para estes eu digo: vão em frente e gozem o mundo de leveza que a naturalidade da ética vai lhes proporcionar. Outros ainda não perceberam que realmente preservam, em seus interiores, um nível de malícia e esperteza. Essas características fazem os olhos secarem frente às oportunidades, fazem titubear ao escolher o caminho correto.
Para aqueles que ficaram preocupados e realizando um profundo auto-julgamento, quero falar que vocês já estão no caminho certo. A preocupação, em doses corretas, nos faz ficarmos mais vigilantes, atentos, na busca pelo ideal da ética. Este é o objetivo mais nobre que podemos seguir.
Por vezes, fazemos algo que não é correto, mas o amanhecer nos proporciona duas situações incríveis: a possibilidade de consertar e a possibilidade de não fazer mais. O ético que tem de ser vigilante para sê-lo é um vencedor exausto. Com ele, as coisas não são sensações e emoções. As coisas são sempre, sempre, sempre pensadas.
Ficar atento e vigilante para ser ético é estafante. Tem de se estar atento em cada situação – das mais triviais, às mais decisivas. Cansa, preocupa, causa julgamentos internos terríveis, mas vale à pena.
Parabéns aqueles que são éticos de forma natural. Mas parabéns mesmo aos incansáveis éticos vigilantes, que dormem com um olho fechado e o outro aberto para vigiar até seus sonhos.
Homenagem ao Robson
Texto sob encomenda. Uma justa encomenda.
Quando o vi, no fundo do salão do Clube do Exército, no dia 6 de setembro, para prestigiar a formatura de minha namorada, um misto de alívio e alegria me contagiou. Balancei a cabeça e, separados por mais de mil pessoas, ele entendeu o que eu queria dizer: “Obrigado”. Depois de quase 11 anos, continuamos amigos, somos parte de um trio.
Senti-me aliviado, pois meu amigo Robson Moreira havia chegado àquela manhã em Brasília e, acreditando erroneamente que a formatura da Deine seria no dia 8, já havia marcado reuniões de trabalho em Caldas Novas, a mais de 300 quilômetros dali. Mas se ele prometeu que estaria na formatura, naquela noite, ele cumpriria. Do aeroporto, acompanhado de Ludyney – o outro do trio – viajou para cumprir suas obrigações profissionais.
Durante o dia inteiro, monitorei sua viagem por meio do telefone. Sabia onde estavam passo a passo. No meio da tarde, já não acreditava que Robson conseguiria cumprir a promessa que nos fez. Na formatura, além da expectativa da Deine, que gosta muito dele, eu seria homenageado, e queria que ele estivesse lá. Mas seu retorno, com o prazo tão apertado e ao cair da noite, parecia perigoso.
Em minhas últimas ligações, já estava aconselhando-os a não prosseguirem com a viagem. Depois, começou a cerimônia. Perdemos contato. No meio da formatura, conseguimos trocar mensagens. Eles estavam bem, perdidos em Brasília, mas bem.
Antes de receber notícias dos meus amigos, já não conseguia esconder a preocupação. Minha alegria com a homenagem deu lugar a cara fechada, só amenizada quando os avistei, em meio à multidão. Naquele momento lembrei que o Robson sempre cumpre suas promessas.
Nesta aventura de quase 700 quilômetros percorridos e muito trabalho executado, mais uma prova das características que mais marcam este meu amigo. O Robson é incansável e impávido. Para abalá-lo tem que ser uma catástrofe, para cansá-lo tem que ser uma maratona. Naquela noite de festa, ele estava lá, incansável, impávido.
O Robson sempre foi assim. Hoje, o gerente de sucesso de uma rede de comunicação, já vendeu refrigerantes na cabeça, em grandes eventos, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O lutador guerreiro, que entrou como telemarketing no maior jornal do Estado e saiu do veículo como um dos mais prestigiados jornalistas da empresa.
Quando preciso, Robson se reinventa. Alçando os estágios que almejava quando estudante, largou tudo, assumiu o amor a Bia e foi estudar na Europa. Atualmente, é pai de família.
Ousado e empreendedor, meu amigo que muito me orgulha, mergulha de cabeça em seus projetos e, com a marca de quem não se cansa, sagra-se vencedor em seus intentos.
Robson já lutou para realizar um sonho meu: ser político. Ele não mediu esforços, lutou mais que eu. Ainda aguentava o tranco e as pauladas quando eu já não aguentava mais.
Em uma oportunidade, sabendo que sou fã de Belchior, ele me preparou uma surpresa: reservou uma mesa em frente ao palco no show do artista que mais me emociona. O amigo revelava suas facetas.
Tantas lutas, tantas aventuras. Nesses 11 anos de amizade, o resultado é a certeza que sempre posso contar com você e você sempre poderá contar comigo. Faço aqui uma justa homenagem a Robson Del Casale Moreira.
Quando o vi, no fundo do salão do Clube do Exército, no dia 6 de setembro, para prestigiar a formatura de minha namorada, um misto de alívio e alegria me contagiou. Balancei a cabeça e, separados por mais de mil pessoas, ele entendeu o que eu queria dizer: “Obrigado”. Depois de quase 11 anos, continuamos amigos, somos parte de um trio.
Senti-me aliviado, pois meu amigo Robson Moreira havia chegado àquela manhã em Brasília e, acreditando erroneamente que a formatura da Deine seria no dia 8, já havia marcado reuniões de trabalho em Caldas Novas, a mais de 300 quilômetros dali. Mas se ele prometeu que estaria na formatura, naquela noite, ele cumpriria. Do aeroporto, acompanhado de Ludyney – o outro do trio – viajou para cumprir suas obrigações profissionais.
Durante o dia inteiro, monitorei sua viagem por meio do telefone. Sabia onde estavam passo a passo. No meio da tarde, já não acreditava que Robson conseguiria cumprir a promessa que nos fez. Na formatura, além da expectativa da Deine, que gosta muito dele, eu seria homenageado, e queria que ele estivesse lá. Mas seu retorno, com o prazo tão apertado e ao cair da noite, parecia perigoso.
Em minhas últimas ligações, já estava aconselhando-os a não prosseguirem com a viagem. Depois, começou a cerimônia. Perdemos contato. No meio da formatura, conseguimos trocar mensagens. Eles estavam bem, perdidos em Brasília, mas bem.
Antes de receber notícias dos meus amigos, já não conseguia esconder a preocupação. Minha alegria com a homenagem deu lugar a cara fechada, só amenizada quando os avistei, em meio à multidão. Naquele momento lembrei que o Robson sempre cumpre suas promessas.
Nesta aventura de quase 700 quilômetros percorridos e muito trabalho executado, mais uma prova das características que mais marcam este meu amigo. O Robson é incansável e impávido. Para abalá-lo tem que ser uma catástrofe, para cansá-lo tem que ser uma maratona. Naquela noite de festa, ele estava lá, incansável, impávido.
O Robson sempre foi assim. Hoje, o gerente de sucesso de uma rede de comunicação, já vendeu refrigerantes na cabeça, em grandes eventos, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O lutador guerreiro, que entrou como telemarketing no maior jornal do Estado e saiu do veículo como um dos mais prestigiados jornalistas da empresa.
Quando preciso, Robson se reinventa. Alçando os estágios que almejava quando estudante, largou tudo, assumiu o amor a Bia e foi estudar na Europa. Atualmente, é pai de família.
Ousado e empreendedor, meu amigo que muito me orgulha, mergulha de cabeça em seus projetos e, com a marca de quem não se cansa, sagra-se vencedor em seus intentos.
Robson já lutou para realizar um sonho meu: ser político. Ele não mediu esforços, lutou mais que eu. Ainda aguentava o tranco e as pauladas quando eu já não aguentava mais.
Em uma oportunidade, sabendo que sou fã de Belchior, ele me preparou uma surpresa: reservou uma mesa em frente ao palco no show do artista que mais me emociona. O amigo revelava suas facetas.
Tantas lutas, tantas aventuras. Nesses 11 anos de amizade, o resultado é a certeza que sempre posso contar com você e você sempre poderá contar comigo. Faço aqui uma justa homenagem a Robson Del Casale Moreira.
Churrasquinho vagabundo
Ainda era adolescente quando percebi minha predileção pelos churrasquinhos vendidos nas ruas, o popular churrasquinho de gato. Lembro que uma pequena padaria perto da casa de meus pais, em Campo Grande-MS, foi o estabelecimento que me apresentou essa iguaria. Já quando morava em São Paulo, por muitas vezes, a carnezinha assada no palito era minha única refeição noturna. Com dois reais já estava alimentado. O cardápio não parecia dos melhores, mas a vista era fantástica: as luzes da Avenida Paulista.
Em uma determinada oportunidade, estava em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, passando as férias com minha família, quando avistei uma pequena churrasqueira com churrasquinho de gato assando, debaixo de um sol escaldante. Escondido de meu irmão e de minha cunhada, comprei um espetinho, já que o Ricardo e a Carol são muito preocupados com questões sanitárias. Quando dei por mim, trombei com meu irmão. Com receio das críticas, falei sem graça: “Estava com fome, fui comprar um churrasquinho vagabundo”. Ele: “Churrasquinho vagabundo?... Hum... São os melhores”.
Estava batizado: churrasquinho vagabundo.
Tarde da noite em Brasília, eu e minha namorada estávamos famintos e em busca de algo para comer quando nos deparamos com um estabelecimento peculiar. Um toldo grande e velho cobria uma calçada rachada e uma fachada sem manutenção. Mesas e cadeiras de plástico, além de uma churrasqueira típica completavam o ambiente, que estava apropriado para propiciar um delicioso “churrasquinho vagabundo”.
No comércio, só havia isso. Era possível avistar que dentro da casa havia uma bagunça, engradados, freezers e só. Imaginem um local administrado por um homem separado da mulher e desleixado. Esse é o aspecto do local. Já o churrasquinho, huummmm! Feijão tropeiro, mandioquinha, vinagrete e molho shoyu para derramar na macaxeira (como diz a Deine).
Toda esta história é para falar do proprietário. O senhor de um metro e meio tem o olhar triste, é magro e chamado de baixinho – também pudera. Ele parece um homem de verdade, só que em miniatura. Inspira cuidados e uma profunda pena, de si e de seu empreendimento.
Assumo que só apareço por lá por causa do churrasquinho, cada dia mais gostoso. Os atendentes são uma graça, parecem que sempre estão bêbados e dificilmente esquecem meu pedido. A conta bem baratinha fecha uma refeição prazerosa.
Porém, nos últimos dias, venho percebendo um importante progresso: primeiro foram os pratos e talheres, todos novos; depois, um telão com projetor que exibe clipes musicais e jogos às quartas-feiras. Mas ontem, fiquei surpreso com uma nova churrasqueira, super moderna e com exaustor. E tenho a forte impressão que o progresso vai continuar.
Atento a isso, percebi que o baixinho – para mim, digno de pena – está progredindo e de vento em poupa.
Também percebi que existe uma importante diferença entre o meu pensamento sobre o baixinho e o dele sobre ele mesmo: eu tenho pena dele, ele não.
Ele não enxerga aquilo que, não sei por que, enxergo. Ele abriu um boteco, foi superavitário, investiu e continua investindo em seu negócio. Ele é feliz, atende bem, paquera as piriguetes que frequentam seu estabelecimento. Está vivendo e tocando a vida para frente.
É inegavelmente importante o que as pessoas pensam da gente, porém é fundamental nos conhecermos, sabermos de nossas virtudes e limitações, fazermos vista grossa para impressões negativas e colocarmos nossa energia na força do trabalho. Focar uma meta e se entregar a ela, ser feliz e alegre na conquista de sonhos democráticos.
Os sonhos do baixinho são democráticos. Ele não busca ser o homem mais bonito e o mais rico do mundo. Apenas 1% da população mundial tem esse nível de beleza e riqueza. Logo, o empreendedor tem 99% de chance de ser feliz.
Temos que realizar esses sonhos democráticos: trabalhar com competência, nos relacionarmos com amor e dormir em paz. O que não podemos é ter pena de nós mesmos.
Em uma determinada oportunidade, estava em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, passando as férias com minha família, quando avistei uma pequena churrasqueira com churrasquinho de gato assando, debaixo de um sol escaldante. Escondido de meu irmão e de minha cunhada, comprei um espetinho, já que o Ricardo e a Carol são muito preocupados com questões sanitárias. Quando dei por mim, trombei com meu irmão. Com receio das críticas, falei sem graça: “Estava com fome, fui comprar um churrasquinho vagabundo”. Ele: “Churrasquinho vagabundo?... Hum... São os melhores”.
Estava batizado: churrasquinho vagabundo.
Tarde da noite em Brasília, eu e minha namorada estávamos famintos e em busca de algo para comer quando nos deparamos com um estabelecimento peculiar. Um toldo grande e velho cobria uma calçada rachada e uma fachada sem manutenção. Mesas e cadeiras de plástico, além de uma churrasqueira típica completavam o ambiente, que estava apropriado para propiciar um delicioso “churrasquinho vagabundo”.
No comércio, só havia isso. Era possível avistar que dentro da casa havia uma bagunça, engradados, freezers e só. Imaginem um local administrado por um homem separado da mulher e desleixado. Esse é o aspecto do local. Já o churrasquinho, huummmm! Feijão tropeiro, mandioquinha, vinagrete e molho shoyu para derramar na macaxeira (como diz a Deine).
Toda esta história é para falar do proprietário. O senhor de um metro e meio tem o olhar triste, é magro e chamado de baixinho – também pudera. Ele parece um homem de verdade, só que em miniatura. Inspira cuidados e uma profunda pena, de si e de seu empreendimento.
Assumo que só apareço por lá por causa do churrasquinho, cada dia mais gostoso. Os atendentes são uma graça, parecem que sempre estão bêbados e dificilmente esquecem meu pedido. A conta bem baratinha fecha uma refeição prazerosa.
Porém, nos últimos dias, venho percebendo um importante progresso: primeiro foram os pratos e talheres, todos novos; depois, um telão com projetor que exibe clipes musicais e jogos às quartas-feiras. Mas ontem, fiquei surpreso com uma nova churrasqueira, super moderna e com exaustor. E tenho a forte impressão que o progresso vai continuar.
Atento a isso, percebi que o baixinho – para mim, digno de pena – está progredindo e de vento em poupa.
Também percebi que existe uma importante diferença entre o meu pensamento sobre o baixinho e o dele sobre ele mesmo: eu tenho pena dele, ele não.
Ele não enxerga aquilo que, não sei por que, enxergo. Ele abriu um boteco, foi superavitário, investiu e continua investindo em seu negócio. Ele é feliz, atende bem, paquera as piriguetes que frequentam seu estabelecimento. Está vivendo e tocando a vida para frente.
É inegavelmente importante o que as pessoas pensam da gente, porém é fundamental nos conhecermos, sabermos de nossas virtudes e limitações, fazermos vista grossa para impressões negativas e colocarmos nossa energia na força do trabalho. Focar uma meta e se entregar a ela, ser feliz e alegre na conquista de sonhos democráticos.
Os sonhos do baixinho são democráticos. Ele não busca ser o homem mais bonito e o mais rico do mundo. Apenas 1% da população mundial tem esse nível de beleza e riqueza. Logo, o empreendedor tem 99% de chance de ser feliz.
Temos que realizar esses sonhos democráticos: trabalhar com competência, nos relacionarmos com amor e dormir em paz. O que não podemos é ter pena de nós mesmos.
Do orgulho ao perdão
Sempre propaguei que uma das semelhanças que tenho com minha mãe é a dificuldade em perdoar. Lembro dela me falando: “Não espere o meu perdão, simplesmente não erre”. A postura implacável de minha mãe perdura até hoje e é graças a ela que sou o que sou. Espero que minha genitora tenha orgulho do resultado – como diria meu irmão.
Na missa deste domingo, 11, muito foi falado sobre o perdão. Desta forma, aproveitei a oportunidade para refletir sobre a postura herdada de minha mãe. Nesta análise, encontrei, além do caráter radicalmente honesto de dona Adélia, alguns comportamentos antagônicos à sua frase de efeito descrita no primeiro parágrafo. Percebi que algumas decisões dela eram muito semelhantes ao comportamento de quem perdoa facilmente.
Rememorei quantas vezes ela teve motivo para fechar a cara, mas momentos depois estava sorrindo. Quantas vezes demonstrou humildade e arrependimento. Quantas vezes se deu por vencida, quando cercada pelo amor sincero de seus filhos.
O que mais me impressionou nesta avaliação foi perceber que a postura demonstrada por minha mãe confirma outra frase sempre repetida por mim em momentos controversos: “Orgulho é perda de tempo”.
Quando defino o orgulho como perda de tempo, é por analisar quantas vezes as pessoas, por orgulho, deixam de fazer as coisas, deixam de dar demonstrações de afeto, de carinho, de amor, deixam de correr atrás do que realmente querem. Ou seja, perdem tempo.
Sendo assim, antes tarde do que nunca, revi meus conceitos. Acredito que a falta de elasticidade dos comportamentos de minha mãe residem no campo da ética e da moralidade. Logo, e para marcar posição, ela se define como alguém que tem dificuldade em perdoar.
Na verdade, aprendi com minha mãe a ter uma memória de criança quando magoado, de superar rapidamente a mágoa pessoal. Aprendi não ter coragem de tratar alguém com falta de educação. Ela me ensinou que é possível ter comportamento de amor quando pisaram na bola conosco. É bom esclarecer: o que minha mãe não perdoa são desonestidade e mau-caratismo.
Já presenciei momentos que quando demonstrei fraqueza fui fortemente cobrado por isso. Nesta mesma oportunidade, recebi o pedido de desculpas de quem humildemente entendeu que eu não precisava de um puxão de orelha, mas sim de um colo.
Percebo que essas cobranças de minha mãe me deram um “couro duro” para aguentar a vida fora de casa – algo que não tinha como filho caçula, mimado por meus pais e pelo meu irmão mais velho. Também herdei de meu lar a revolta contra qualquer tipo de preconceito e a obrigação de perseguir uma conduta honesta.
Sou muito grato a tudo que aprendi em casa.
Revendo o significado de perdoar, percebi o quanto é divino e difícil perdoar, mas não perco tempo com mágoas quando quero telefonar ou desfrutar da companhia de alguém. Também tenho que ficar atento para não cobrar uma alta performance, que desgaste minhas relações e me impeça de ser feliz.
Na verdade, não posso cobrar do outro exatamente aquilo que estou tentando conquistar: facilidade em perdoar. Posso dizer, porém, que não perder tempo com o orgulho é um dos segredos da harmonia.
Na missa deste domingo, 11, muito foi falado sobre o perdão. Desta forma, aproveitei a oportunidade para refletir sobre a postura herdada de minha mãe. Nesta análise, encontrei, além do caráter radicalmente honesto de dona Adélia, alguns comportamentos antagônicos à sua frase de efeito descrita no primeiro parágrafo. Percebi que algumas decisões dela eram muito semelhantes ao comportamento de quem perdoa facilmente.
Rememorei quantas vezes ela teve motivo para fechar a cara, mas momentos depois estava sorrindo. Quantas vezes demonstrou humildade e arrependimento. Quantas vezes se deu por vencida, quando cercada pelo amor sincero de seus filhos.
O que mais me impressionou nesta avaliação foi perceber que a postura demonstrada por minha mãe confirma outra frase sempre repetida por mim em momentos controversos: “Orgulho é perda de tempo”.
Quando defino o orgulho como perda de tempo, é por analisar quantas vezes as pessoas, por orgulho, deixam de fazer as coisas, deixam de dar demonstrações de afeto, de carinho, de amor, deixam de correr atrás do que realmente querem. Ou seja, perdem tempo.
Sendo assim, antes tarde do que nunca, revi meus conceitos. Acredito que a falta de elasticidade dos comportamentos de minha mãe residem no campo da ética e da moralidade. Logo, e para marcar posição, ela se define como alguém que tem dificuldade em perdoar.
Na verdade, aprendi com minha mãe a ter uma memória de criança quando magoado, de superar rapidamente a mágoa pessoal. Aprendi não ter coragem de tratar alguém com falta de educação. Ela me ensinou que é possível ter comportamento de amor quando pisaram na bola conosco. É bom esclarecer: o que minha mãe não perdoa são desonestidade e mau-caratismo.
Já presenciei momentos que quando demonstrei fraqueza fui fortemente cobrado por isso. Nesta mesma oportunidade, recebi o pedido de desculpas de quem humildemente entendeu que eu não precisava de um puxão de orelha, mas sim de um colo.
Percebo que essas cobranças de minha mãe me deram um “couro duro” para aguentar a vida fora de casa – algo que não tinha como filho caçula, mimado por meus pais e pelo meu irmão mais velho. Também herdei de meu lar a revolta contra qualquer tipo de preconceito e a obrigação de perseguir uma conduta honesta.
Sou muito grato a tudo que aprendi em casa.
Revendo o significado de perdoar, percebi o quanto é divino e difícil perdoar, mas não perco tempo com mágoas quando quero telefonar ou desfrutar da companhia de alguém. Também tenho que ficar atento para não cobrar uma alta performance, que desgaste minhas relações e me impeça de ser feliz.
Na verdade, não posso cobrar do outro exatamente aquilo que estou tentando conquistar: facilidade em perdoar. Posso dizer, porém, que não perder tempo com o orgulho é um dos segredos da harmonia.
Em defesa da cueca furada
Inspirado por uma conversa sobre amenidades no ambiente de trabalho, resolvi fazer uma defesa à cueca furada. Minhas colegas me relataram que em um clube da luluzinha foi discutido o homem que se depila e a maioria votou a favor dessa prática. Apenas para esclarecer, minhas colegas demonstraram não gostar do homem sem pêlos.
Tenho muitas amigas mulheres e faço o exercício de escutá-las para ver se não estou errando como amigo, namorado, filho, dentre outros. Ouvindo a conversa na manhã de hoje, fui remetido a outras conversas de minhas amigas, que traçavam o perfil do homem ideal para elas.
A caracterização deste homem perfeito, para elas, segue o seguinte padrão: é obviamente bonito, barbeado, educado, se veste bem e com roupas de marca, bem sucedido e, até para ir dormir, adota determinado guarda roupa e uma suposta etiqueta de comportamentos na cama. O engraçado é que as moças, na época, estavam todas solteiras e reclamando da solidão.
Tudo para mim parecia bastante óbvio: este homem relatado não existia. Procurá-lo seria uma tarefa inglória, que causava desgaste e aborrecimento. Lembro-me das experiências dessas minhas amigas, quando encontravam um protótipo deste personagem – na verdade elas buscavam um personagem, não um homem de carne e osso. Sempre eram relações frustrantes, com sexualidade, mas sem intimidade e que acabavam em traição, falta de respeito e tudo isso que está na moda.
Acredito que nem homens, nem mulheres têm de construir um personagem e idealizar a relação com ele. Estipular características externas e comportamentos causa decepções. O importante é estabelecer pré-requisitos internos. Temos que procurar seres humanos bons, reais, que têm virtudes de dar orgulho, mas fragilidades que os fazem serem amparados.
Esses dias, fui criticado por mandar muitas mensagens para minha namorada: “Mulher não gosta disso”, disseram. Será? Me deu vontade de responder: “Cadê o seu namorado perfeito?” Ela estava solteira, na época. Por que até este comportamento espontâneo e apaixonado tem que ser reprimido?
Por isso, hoje escrevo em defesa da cueca furada. Em primeiro lugar, dormir, colocar alguém em sua cama, tem de ser a expressão da intimidade, mesmo que não seja para acontecer nada. Dormir junto é quando você, completamente entregue e desarmado pelo sono, está do lado de alguém na mesma situação. É muita cumplicidade para acontecer fortuitamente.
Sendo íntimos, passado os iniciais períodos da conquista e demais momentos especiais, é possível ir dormir juntinhos e gostosamente com uma cueca furada. É broxante? Perde o tesão? Para aqueles que são suficientemente íntimos, essas coisas não diminuem a libido, pelo contrário, pode até aproximar seres humanos, aproximar corpos.
Na verdade, defendo a existência do homem e da mulher, reais em suas espontaneidades. Defendo uma relação íntima. Defendo o amor.
Tenho muitas amigas mulheres e faço o exercício de escutá-las para ver se não estou errando como amigo, namorado, filho, dentre outros. Ouvindo a conversa na manhã de hoje, fui remetido a outras conversas de minhas amigas, que traçavam o perfil do homem ideal para elas.
A caracterização deste homem perfeito, para elas, segue o seguinte padrão: é obviamente bonito, barbeado, educado, se veste bem e com roupas de marca, bem sucedido e, até para ir dormir, adota determinado guarda roupa e uma suposta etiqueta de comportamentos na cama. O engraçado é que as moças, na época, estavam todas solteiras e reclamando da solidão.
Tudo para mim parecia bastante óbvio: este homem relatado não existia. Procurá-lo seria uma tarefa inglória, que causava desgaste e aborrecimento. Lembro-me das experiências dessas minhas amigas, quando encontravam um protótipo deste personagem – na verdade elas buscavam um personagem, não um homem de carne e osso. Sempre eram relações frustrantes, com sexualidade, mas sem intimidade e que acabavam em traição, falta de respeito e tudo isso que está na moda.
Acredito que nem homens, nem mulheres têm de construir um personagem e idealizar a relação com ele. Estipular características externas e comportamentos causa decepções. O importante é estabelecer pré-requisitos internos. Temos que procurar seres humanos bons, reais, que têm virtudes de dar orgulho, mas fragilidades que os fazem serem amparados.
Esses dias, fui criticado por mandar muitas mensagens para minha namorada: “Mulher não gosta disso”, disseram. Será? Me deu vontade de responder: “Cadê o seu namorado perfeito?” Ela estava solteira, na época. Por que até este comportamento espontâneo e apaixonado tem que ser reprimido?
Por isso, hoje escrevo em defesa da cueca furada. Em primeiro lugar, dormir, colocar alguém em sua cama, tem de ser a expressão da intimidade, mesmo que não seja para acontecer nada. Dormir junto é quando você, completamente entregue e desarmado pelo sono, está do lado de alguém na mesma situação. É muita cumplicidade para acontecer fortuitamente.
Sendo íntimos, passado os iniciais períodos da conquista e demais momentos especiais, é possível ir dormir juntinhos e gostosamente com uma cueca furada. É broxante? Perde o tesão? Para aqueles que são suficientemente íntimos, essas coisas não diminuem a libido, pelo contrário, pode até aproximar seres humanos, aproximar corpos.
Na verdade, defendo a existência do homem e da mulher, reais em suas espontaneidades. Defendo uma relação íntima. Defendo o amor.
Evolução Humana
Pensar grande sempre foi preponderante na evolução humana. Prova disso são dois dos aspectos mais importantes para a evolução cognitiva do homem ancestral, no que tange a construção de instrumentos: a articulação e o pensar em algo maior. As características que nos diferem, em termos de evolução, dos outros animais, foram às habilidades em articular dois ou mais corpos para fomentar um instrumento e a produção de instrumentos maiores que os corpos iniciais.
Vários animais produzem instrumentos. Alguns produzem muito mais do que isso, edificam uma cultura complexa com estruturas políticas e momentos quase ritualísticos. Porém, uma característica permeia a produção de instrumento pelos outros animais não humanos: a não articulação de dois corpos e a diminuição espacial do corpo inicial. Ou seja, quando um macaco quer construir um objeto para pegar cupins, ele destaca um pequeno galho, retira as folhas, lambe, e introduz no habitat do cupim. Deste modo, um corpo se tornou um objeto e, do corpo inicial – galho com folhas –, se formou um objeto menor – um catador de cupins.
Outro exemplo de instrumento produzido por animais que mantêm as características citadas é quando o macaco pega uma pedra e utiliza para quebrar uma castanha e comer. A pedra se transformou em um quebrador de castanha, sem muita complexidade.
Já o ser humano não. Em um determinado momento de sua pré-história, ele começou a articular dois ou mais corpos para produzir instrumentos: uma estaca e uma pedra, amarradas com uma tira de couro tornaram-se machadinhas e assim por diante. Além de ser um marco na evolução humana, também pontuou um dos itens que enumerei como principais nesta evolução.
Agora, o mágico é se prestarmos a atenção no segundo item que evidenciei: pensar grande. A segunda diferença de nossos instrumentos para os dos outros animais é que os nossos podem ser maiores que o corpo inicial. Deste modo, um paradigmático momento da evolução humana foi quando o homem se deu conta que ele pode transformar aquilo que está em suas mãos, e transformar em algo muito maior.
Não sei se esta evolução ocorreu da consciência de suas virtudes ou pela negligência de suas limitações, apenas sei que os registros pesquisados demonstram que os nossos ancestrais perceberam a possibilidade de mudar as condições contidas em suas mãos e produzir algo nunca antes imaginado.
É possível perceber que as pessoas, na atualidade, que cresceram profissionalmente ou montaram seus negócios, mesmo tendo uma origem humilde e condições aparentemente adversas, conservam essas características ancestrais: a articulação de suas habilidades e o pensar grande, pensar em algo maior, algo diferente do que elas possuíam em determinado momento de suas histórias.
Acredito que aqueles que querem transformar as suas vidas devem ao invés de abrir os olhos para enxergar suas condições, fechar os olhos e sonhar com o inimaginável, deixar a imaginação fluir e construir o novo.
Vários animais produzem instrumentos. Alguns produzem muito mais do que isso, edificam uma cultura complexa com estruturas políticas e momentos quase ritualísticos. Porém, uma característica permeia a produção de instrumento pelos outros animais não humanos: a não articulação de dois corpos e a diminuição espacial do corpo inicial. Ou seja, quando um macaco quer construir um objeto para pegar cupins, ele destaca um pequeno galho, retira as folhas, lambe, e introduz no habitat do cupim. Deste modo, um corpo se tornou um objeto e, do corpo inicial – galho com folhas –, se formou um objeto menor – um catador de cupins.
Outro exemplo de instrumento produzido por animais que mantêm as características citadas é quando o macaco pega uma pedra e utiliza para quebrar uma castanha e comer. A pedra se transformou em um quebrador de castanha, sem muita complexidade.
Já o ser humano não. Em um determinado momento de sua pré-história, ele começou a articular dois ou mais corpos para produzir instrumentos: uma estaca e uma pedra, amarradas com uma tira de couro tornaram-se machadinhas e assim por diante. Além de ser um marco na evolução humana, também pontuou um dos itens que enumerei como principais nesta evolução.
Agora, o mágico é se prestarmos a atenção no segundo item que evidenciei: pensar grande. A segunda diferença de nossos instrumentos para os dos outros animais é que os nossos podem ser maiores que o corpo inicial. Deste modo, um paradigmático momento da evolução humana foi quando o homem se deu conta que ele pode transformar aquilo que está em suas mãos, e transformar em algo muito maior.
Não sei se esta evolução ocorreu da consciência de suas virtudes ou pela negligência de suas limitações, apenas sei que os registros pesquisados demonstram que os nossos ancestrais perceberam a possibilidade de mudar as condições contidas em suas mãos e produzir algo nunca antes imaginado.
É possível perceber que as pessoas, na atualidade, que cresceram profissionalmente ou montaram seus negócios, mesmo tendo uma origem humilde e condições aparentemente adversas, conservam essas características ancestrais: a articulação de suas habilidades e o pensar grande, pensar em algo maior, algo diferente do que elas possuíam em determinado momento de suas histórias.
Acredito que aqueles que querem transformar as suas vidas devem ao invés de abrir os olhos para enxergar suas condições, fechar os olhos e sonhar com o inimaginável, deixar a imaginação fluir e construir o novo.
Eu não consigo fazer
Meu pai, o homem mais correto que conheço, nunca havia me deixado dirigir. “Não vou te ensinar porque depois bate a coceirinha da vontade”, me dizia. Ele estava correto. Dirigir antes dos 18 anos é ilegal e o velho nunca concordou com nenhuma ilegalidade. Esta postura de meu pai me fez acreditar que nunca viria aprender a dirigir.
Já com 18 anos e em uma auto-escola, ainda não acreditava na possibilidade de um dia aprender a guiar um carro. Ter que mexer com as duas mãos no volante, mexer com os pés e, de tempos em tempos, mexer com um controle ao lado (o câmbio) me parecia impossível.
Além das dificuldades instrumentais, sempre fui convencido de que era muito descoordenado. Logo, o fracasso no intento era iminente. “Não aprenderei a dirigir”, decretei.
Com o passar dos dias, enfrentei o desafio. Comecei a pegar o jeito e em 10 dias estava dirigindo razoavelmente. Isso já faz 10 anos e tirei minha habilitação sem grandes dificuldades.
Nesta oportunidade, não apenas ganhei minha CNH, mas um legado para a vida toda. Quantas vezes a gente acredita que não vai dar conta de fazer algo e, tempos depois, nos vemos habilitados para tal ação.
Depois desta simples e paradigmática conclusão, alguns desafios começaram a ser encarados de forma diferente. Sei que estou longe de ser um exímio motorista – os motociclistas que o digam –, mas até que me viro bem.
Outros desafios que acreditava nunca transpor era o de escrever com qualidade, ter uma boa formação acadêmica, estudar inglês e por ai vai...
Ao olhar a seleção para o doutorado em Comunicação na UnB, tive a mesma sensação de quando via os carros passarem na rua, aos meus 17 anos: não vou conseguir.
As sensações falam alto em nossos ouvidos, repetem frases de censura do passado, enumeram nossas dificuldades, esfregam em nossa cara as nossas limitações.
Não me importa, vou tentar!
Prefiro me concentrar na sensação que vem depois das vitórias e das aprovações. É uma estratégia chamada linha do tempo. Eu me transporto para a sensação que vem depois.
Caso não consiga ser aprovado, tudo bem. Tento novamente em momento oportuno, até conseguir. Mas para isso, tenho de parar de ficar divagando em meu blog e sistematizar um projeto.
Bom, eu vou lá. Vou tentar, e você?
Já com 18 anos e em uma auto-escola, ainda não acreditava na possibilidade de um dia aprender a guiar um carro. Ter que mexer com as duas mãos no volante, mexer com os pés e, de tempos em tempos, mexer com um controle ao lado (o câmbio) me parecia impossível.
Além das dificuldades instrumentais, sempre fui convencido de que era muito descoordenado. Logo, o fracasso no intento era iminente. “Não aprenderei a dirigir”, decretei.
Com o passar dos dias, enfrentei o desafio. Comecei a pegar o jeito e em 10 dias estava dirigindo razoavelmente. Isso já faz 10 anos e tirei minha habilitação sem grandes dificuldades.
Nesta oportunidade, não apenas ganhei minha CNH, mas um legado para a vida toda. Quantas vezes a gente acredita que não vai dar conta de fazer algo e, tempos depois, nos vemos habilitados para tal ação.
Depois desta simples e paradigmática conclusão, alguns desafios começaram a ser encarados de forma diferente. Sei que estou longe de ser um exímio motorista – os motociclistas que o digam –, mas até que me viro bem.
Outros desafios que acreditava nunca transpor era o de escrever com qualidade, ter uma boa formação acadêmica, estudar inglês e por ai vai...
Ao olhar a seleção para o doutorado em Comunicação na UnB, tive a mesma sensação de quando via os carros passarem na rua, aos meus 17 anos: não vou conseguir.
As sensações falam alto em nossos ouvidos, repetem frases de censura do passado, enumeram nossas dificuldades, esfregam em nossa cara as nossas limitações.
Não me importa, vou tentar!
Prefiro me concentrar na sensação que vem depois das vitórias e das aprovações. É uma estratégia chamada linha do tempo. Eu me transporto para a sensação que vem depois.
Caso não consiga ser aprovado, tudo bem. Tento novamente em momento oportuno, até conseguir. Mas para isso, tenho de parar de ficar divagando em meu blog e sistematizar um projeto.
Bom, eu vou lá. Vou tentar, e você?
Tributo à verdade
Reconheço que não sou o leitor mais assíduo da bíblia, mas se existe uma palavra que me encanta e se repete diversas vezes nas escrituras é a palavra verdade. Este vocábulo me persegue e me fascina. Das poucas vezes que li a bíblia, ele sempre apareceu.
Ouvindo um líder religioso esses dias, novamente ouvi a palavrinha sendo repetida. A homilia pregava o quão temos que ser verdadeiros, conosco e com o outro. Já faz algum tempo, escrevi um texto sobre como sair de uma crise emocional e lá defendia a importância de sermos verdadeiros interna e externamente.
Em uma conversa com uma amiga, relembrei este texto e a convidei para ler. Dias depois ela publicou no twitter a importância de ser verdadeiro consigo e seus pares. A verdade sempre me aparece como única saída.
Por vezes, sou procurado para conversar sobre coisas da vida pessoal e sempre preparo os ouvidos de quem me procura com: “Você quer ouvir a verdade?”
Uns dizem que sou pé no chão, outros dizem que vou além de ser realista, dizem que sou pessimista.
Acredito que muitas coisas me encantam, mas poucas me enganam. Tenho consciência do que é plano, projeto, meta e sonho e prefiro o projeto, mas bem construído.
É preciso ser vigilante para ser verdadeiro, para não se enganar com a espuma do mar ou com o que parece místico e é apenas resquícios de sonhos frustrados, traumas do passado, medo do futuro e fuga.
Às vezes, fugimos da verdade porque ela não nos parece ser agradável, boa, ou harmônica e assim nos distanciamos dela ao construir um castelo de alegorias sobrenaturais ou intangíveis.
Sempre defendi a verdade mesmo quando não aparenta ser a melhor opção. Se a verdade é ruim, a fuga dela é ainda pior. O que recomendo neste caso é se aproximar da verdade, redimensioná-la, olhá-la cara a cara e projetar uma solução clara e igualmente verdadeira.
O contato estreito com a verdade pode não ser fácil. Pode ser desgastante e até traumático. Mas, consciente desta verdade, a possibilidade de edificar uma saída é muito maior.
Em uma aula na faculdade, um professor estava explicando como funcionam as ideologias pela ótica marxista, quando questionei: “Sabendo que as ideologias escondem a verdade, como devemos proceder?” Ele me respondeu: “Temos que escrachar”.
Na verdade, o que ele quis dizer é que temos de alargar o estreito canal que nos liga com a verdade. Temos que tocar nela, não nos contentarmos com a interpretação.
Perceba a verdade em você, a verdade em outros e esteja preparado para lidar com ela.
Ouvindo um líder religioso esses dias, novamente ouvi a palavrinha sendo repetida. A homilia pregava o quão temos que ser verdadeiros, conosco e com o outro. Já faz algum tempo, escrevi um texto sobre como sair de uma crise emocional e lá defendia a importância de sermos verdadeiros interna e externamente.
Em uma conversa com uma amiga, relembrei este texto e a convidei para ler. Dias depois ela publicou no twitter a importância de ser verdadeiro consigo e seus pares. A verdade sempre me aparece como única saída.
Por vezes, sou procurado para conversar sobre coisas da vida pessoal e sempre preparo os ouvidos de quem me procura com: “Você quer ouvir a verdade?”
Uns dizem que sou pé no chão, outros dizem que vou além de ser realista, dizem que sou pessimista.
Acredito que muitas coisas me encantam, mas poucas me enganam. Tenho consciência do que é plano, projeto, meta e sonho e prefiro o projeto, mas bem construído.
É preciso ser vigilante para ser verdadeiro, para não se enganar com a espuma do mar ou com o que parece místico e é apenas resquícios de sonhos frustrados, traumas do passado, medo do futuro e fuga.
Às vezes, fugimos da verdade porque ela não nos parece ser agradável, boa, ou harmônica e assim nos distanciamos dela ao construir um castelo de alegorias sobrenaturais ou intangíveis.
Sempre defendi a verdade mesmo quando não aparenta ser a melhor opção. Se a verdade é ruim, a fuga dela é ainda pior. O que recomendo neste caso é se aproximar da verdade, redimensioná-la, olhá-la cara a cara e projetar uma solução clara e igualmente verdadeira.
O contato estreito com a verdade pode não ser fácil. Pode ser desgastante e até traumático. Mas, consciente desta verdade, a possibilidade de edificar uma saída é muito maior.
Em uma aula na faculdade, um professor estava explicando como funcionam as ideologias pela ótica marxista, quando questionei: “Sabendo que as ideologias escondem a verdade, como devemos proceder?” Ele me respondeu: “Temos que escrachar”.
Na verdade, o que ele quis dizer é que temos de alargar o estreito canal que nos liga com a verdade. Temos que tocar nela, não nos contentarmos com a interpretação.
Perceba a verdade em você, a verdade em outros e esteja preparado para lidar com ela.
Política: a crise das facilidades
Já evidenciados por cientistas políticos e pesquisadores de outras áreas, dois fenômenos estão balizando a prática política ao redor do mundo: a influência de fatores místicos e sobrenaturais e a diminuição das oposições. O primeiro fator descreve a influência de elementos religiosos na mobilização de agentes políticos; o segundo, o enfraquecimento da politização, do contraditório e de projetos e discursos alternativos.
As administrações políticas passam por um momento diferenciado em diversas partes do mundo e em especial no Brasil. Existe uma estabilidade econômica e democrática, possibilitando a continuidade de projetos parecidos e a solidificação de uma sensação de bem estar. Aparentemente, um mar de rosas. Dois acontecimentos, porém, apresentam os indícios das limitações que governantes e administradores públicos vão enfrentar em um futuro próximo: a crise das facilidades.
Na capital de meu Estado, Mato Grosso do Sul, o prefeito Nelson Trad Filho, exigiu que seu secretariado assinasse uma carta de demissão, documento que seria publicado no diário oficial, caso os titulares das pastas não atendessem às demandas pontuadas. Na verdade, a ampla aliança que sustenta o prefeito de Campo Grande abriga diversas lideranças políticas com identidades públicas e aspirações particulares. Com a proximidade das eleições municipais, essas intenções individuais estão ganhando mais contorno. Uma robusta aliança, que era para ser sinônimo de facilidades administrativas, está em crise.
Outra situação, que também se caracteriza como crise das facilidades, é o caso da proximidade do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, com empresários e empreiteiros com contratos milionários. Cabral admite o problema ético e a imprensa denuncia as viagens de helicóptero ofertadas ao governador.
Ambos os administradores públicos vivem a principal crise política de suas vidas. Os problemas enfrentados poderiam vir de uma oposição propositiva, da mobilização popular, da luta democrática, mas não. As crises descritas são oriundas do conforto, da estabilidade, das facilidades.
Essas derrapadas na política nos servem como exemplo. O exercício da ética e a continuidade do bem-estar são trabalhosos. É fundamental estarmos vigilantes, principalmente em tempos de calmaria. A atenção serve para os agentes políticos e servem também para a gente.
As administrações políticas passam por um momento diferenciado em diversas partes do mundo e em especial no Brasil. Existe uma estabilidade econômica e democrática, possibilitando a continuidade de projetos parecidos e a solidificação de uma sensação de bem estar. Aparentemente, um mar de rosas. Dois acontecimentos, porém, apresentam os indícios das limitações que governantes e administradores públicos vão enfrentar em um futuro próximo: a crise das facilidades.
Na capital de meu Estado, Mato Grosso do Sul, o prefeito Nelson Trad Filho, exigiu que seu secretariado assinasse uma carta de demissão, documento que seria publicado no diário oficial, caso os titulares das pastas não atendessem às demandas pontuadas. Na verdade, a ampla aliança que sustenta o prefeito de Campo Grande abriga diversas lideranças políticas com identidades públicas e aspirações particulares. Com a proximidade das eleições municipais, essas intenções individuais estão ganhando mais contorno. Uma robusta aliança, que era para ser sinônimo de facilidades administrativas, está em crise.
Outra situação, que também se caracteriza como crise das facilidades, é o caso da proximidade do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, com empresários e empreiteiros com contratos milionários. Cabral admite o problema ético e a imprensa denuncia as viagens de helicóptero ofertadas ao governador.
Ambos os administradores públicos vivem a principal crise política de suas vidas. Os problemas enfrentados poderiam vir de uma oposição propositiva, da mobilização popular, da luta democrática, mas não. As crises descritas são oriundas do conforto, da estabilidade, das facilidades.
Essas derrapadas na política nos servem como exemplo. O exercício da ética e a continuidade do bem-estar são trabalhosos. É fundamental estarmos vigilantes, principalmente em tempos de calmaria. A atenção serve para os agentes políticos e servem também para a gente.
Sobre pais e filhos
Já faz algumas semanas, um grande amigo, que está vivendo uma oportunidade profissional excepcional, veio passar uns dias em minha casa. Por mais agradável que seja sua presença e por maior que seja nossa amizade, este gerente de negócios veio a trabalho. Suas atividades compreendem articulações políticas em Brasília e vistorias técnicas no Norte e Nordeste do País.
Tendo em vista suas atribuições, viagens e distância de casa estão se tornando cada vez mais cotidianas. Uma aventura muito atraente para um jovem empreendedor como ele, porém é casado e pai de uma linda menininha de menos de um ano. Pai de primeira viagem.
Em uma madrugada, percebi que meu amigo estava bastante incomodado e sentei com ele para conversar. Era isso mesmo. Ele me relatou quanta angústia o causava ficar longe de sua esposa e companheira e de sua filha. Afirmou que estava perdendo fases importantes do desenvolvimento da criança e que sua mulher estava tendo que arcar com tudo sozinha: “levar à creche, a médicos”. Com lagrimas nos olhos, o paizão me deu abertura: “O que fazer?”, me perguntou ele.
Nesta oportunidade, contei para ele como era a relação do meu irmão mais velho e a minha com nosso pai. Quando eu e meu irmão éramos pequenos, a rotina do meu pai era viajar, passava dias fora de casa. Meu pai é engenheiro agrônomo e o trabalho dele estava fora de nossa cidade, em cidades do interior, fazendas, assentamentos... Com o tempo, começamos a ir com ele. Que aventura! Não tomar banho no frio, nos enrolar em jornais quando o frio apertava ainda mais, estradas longas, comidas gordurosas.
Lembro de uma vez em que chegamos a um hotel tão ruim, que meu pai perguntou: “Que horas sai o café da manhã?” e a proprietária respondeu: “O senhor quer café da manhã?”.
Meu pai é aquele de quem eu menos falo em meus textos. Faço isso para protegê-lo, porque todos que o conhecem querem um pai como ele. Não faço elogios a ele, pois todos já os foram feitos. Minha cunhada diz que um dia meu irmão colocará um busto do meu pai no meio da sala, por tanta admiração. Meu pai é o homem mais honesto e correto com quem pude ter contato. Uns dizem que ele nasceu para ser político; outros para ser engenheiro agrônomo. Eu posso garantir que ele nasceu para ser pai.
Bom, voltando à história, na minha infância meu pai viajava muito, mas se eu disser que ele foi ausente um raio cairá sobre minha cabeça. Quando meu irmão nasceu, meu pai estava fazendo um curso na Colômbia. Deixou minha mãe com minha avó. Ele não podia perder a oportunidade de estudar ainda mais.
Meu pai tinha uma estratégia muito clara: quando ele estava em casa, ele era só nosso, brincava de lutinha para espantar o frio, jogava bola com a gente, dava catequese aos sábados pela manhã – um saco. Não me lembro de uma reunião de pais e mestres na escola que ele tenha perdido. Se acontecesse algo comigo na escola, a diretora Teruko, uma japonesa, já ligava para ele. Até hoje, se a Tia Bethe, a Tia Beló, ou a própria Teruko passarem por ele, vão cumprimentá-lo sorridentes.
Esta dedicação do meu pai não significava permissividade. Meu pai, com um olhar, recobrava a disciplina, não por medo, mas sim pelo respeito que temos a ele.
Sempre afirmei que educar uma criança é imputar pequenos traumas para que ela não faça algo errado. Meu pai fazia isso por meio de exemplo. Sempre sério e correto, nunca o vi furar um sinal vermelho, tratar alguém sem elegância, não ser devoto a minha mãe com todo amor e zelo.
Meu pai sabe bem a diferença entre qualidade de tempo e quantidade de tempo. Para ele, seus filhos merecem qualquer sacrifício, até mesmo a distância por alguns dias, para proporcionar a eles mais estrutura e, também, para ser um pai realizado profissionalmente.
Tenho neste exemplo uma grande frustração: nunca o superarei como pai. Mas caso consiga ser um terço do que ele é para a gente, já serei um magnífico pai.
Meu pai sempre conserva uma cara de certeza, um olhar para frente e uma fé inabalável.
Esta é a referência que tenho e acredito que, desta forma, confortei o coração de meu amigo.
Tendo em vista suas atribuições, viagens e distância de casa estão se tornando cada vez mais cotidianas. Uma aventura muito atraente para um jovem empreendedor como ele, porém é casado e pai de uma linda menininha de menos de um ano. Pai de primeira viagem.
Em uma madrugada, percebi que meu amigo estava bastante incomodado e sentei com ele para conversar. Era isso mesmo. Ele me relatou quanta angústia o causava ficar longe de sua esposa e companheira e de sua filha. Afirmou que estava perdendo fases importantes do desenvolvimento da criança e que sua mulher estava tendo que arcar com tudo sozinha: “levar à creche, a médicos”. Com lagrimas nos olhos, o paizão me deu abertura: “O que fazer?”, me perguntou ele.
Nesta oportunidade, contei para ele como era a relação do meu irmão mais velho e a minha com nosso pai. Quando eu e meu irmão éramos pequenos, a rotina do meu pai era viajar, passava dias fora de casa. Meu pai é engenheiro agrônomo e o trabalho dele estava fora de nossa cidade, em cidades do interior, fazendas, assentamentos... Com o tempo, começamos a ir com ele. Que aventura! Não tomar banho no frio, nos enrolar em jornais quando o frio apertava ainda mais, estradas longas, comidas gordurosas.
Lembro de uma vez em que chegamos a um hotel tão ruim, que meu pai perguntou: “Que horas sai o café da manhã?” e a proprietária respondeu: “O senhor quer café da manhã?”.
Meu pai é aquele de quem eu menos falo em meus textos. Faço isso para protegê-lo, porque todos que o conhecem querem um pai como ele. Não faço elogios a ele, pois todos já os foram feitos. Minha cunhada diz que um dia meu irmão colocará um busto do meu pai no meio da sala, por tanta admiração. Meu pai é o homem mais honesto e correto com quem pude ter contato. Uns dizem que ele nasceu para ser político; outros para ser engenheiro agrônomo. Eu posso garantir que ele nasceu para ser pai.
Bom, voltando à história, na minha infância meu pai viajava muito, mas se eu disser que ele foi ausente um raio cairá sobre minha cabeça. Quando meu irmão nasceu, meu pai estava fazendo um curso na Colômbia. Deixou minha mãe com minha avó. Ele não podia perder a oportunidade de estudar ainda mais.
Meu pai tinha uma estratégia muito clara: quando ele estava em casa, ele era só nosso, brincava de lutinha para espantar o frio, jogava bola com a gente, dava catequese aos sábados pela manhã – um saco. Não me lembro de uma reunião de pais e mestres na escola que ele tenha perdido. Se acontecesse algo comigo na escola, a diretora Teruko, uma japonesa, já ligava para ele. Até hoje, se a Tia Bethe, a Tia Beló, ou a própria Teruko passarem por ele, vão cumprimentá-lo sorridentes.
Esta dedicação do meu pai não significava permissividade. Meu pai, com um olhar, recobrava a disciplina, não por medo, mas sim pelo respeito que temos a ele.
Sempre afirmei que educar uma criança é imputar pequenos traumas para que ela não faça algo errado. Meu pai fazia isso por meio de exemplo. Sempre sério e correto, nunca o vi furar um sinal vermelho, tratar alguém sem elegância, não ser devoto a minha mãe com todo amor e zelo.
Meu pai sabe bem a diferença entre qualidade de tempo e quantidade de tempo. Para ele, seus filhos merecem qualquer sacrifício, até mesmo a distância por alguns dias, para proporcionar a eles mais estrutura e, também, para ser um pai realizado profissionalmente.
Tenho neste exemplo uma grande frustração: nunca o superarei como pai. Mas caso consiga ser um terço do que ele é para a gente, já serei um magnífico pai.
Meu pai sempre conserva uma cara de certeza, um olhar para frente e uma fé inabalável.
Esta é a referência que tenho e acredito que, desta forma, confortei o coração de meu amigo.
Das revistas femininas aos blogs balzaquianos
Em 30 ou 40 anos, as pesquisas em comunicação estarão abordando um tipo de conteúdo midiático que está fazendo muito sucesso nos últimos anos: os blogs escritos por mulheres com aproximadamente 30 anos. Sendo assim, já antecipo minhas superficiais impressões.
Como todo olhar crítico, as revistas femininas das décadas de 60 e 70, que traziam em suas páginas uma religiosa pregação da relação da mulher com sua casa e, por conseguinte, com seus filhos e maridos, as publicações das décadas seguintes começaram a libertar a mulher para uma relação de amor com um homem. Depois, com as descobertas da medicina, começaram a ensinar a mulher a ter prazer na relação sexual, até chegarmos aos dias de hoje.
Atualmente, a relação da mulher com as coisas, retratada pelos veículos de comunicação, está no ápice de uma escalada da abstração. Se em determinado momento a relação era com o gigantismo do lar, depois passou a ser uma relação de amor e, logo em seguida, um ligeiro encontro com si mesma. Agora, a moda é uma relação que não é sexual, mas quase sem o sentido do toque apenas possibilitado pela intimidade. Chegou o momento de uma relação genital.
Percebo as jovens se encantando com os textos fáceis, ligeiros, quase que poéticos sobre relações, por vezes promíscuas – não quero parecer conservador – retratadas em blogs de mulheres que atingiram um bom nível de reflexão de suas experiências, mas se esquecem do fator individualidade.
É fundamental termos responsabilidade com o que colocamos na rede mundial de computadores. Às vezes, experiências íntimas ganham o poder de bandeiras a serem erguidas ou frases de efeito a serem bradadas. Acredito que estes novos meios estão eclipsando a individualidade, aprisionando as mulheres a um comportamento aparentemente festivo e leve, mas que não é diferente do modismo das mulheres retratadas nas revistas femininas.
Certamente é válido saber como esta ou aquela balzaquiana agiu em determinada situação sexual. Provavelmente podem vir a serem experiências edificantes, mas apenas cada um e cada uma “sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Nada mais extremo, fascinante, diferente, avassalador, erótico, incrível e libertário que uma relação de amor em si e nas suas particularidades.
Reitero meu desejo de não parecer conservador. Na verdade, o que me cansa é a repetição do mesmo. Existem vários blogs com o mesmo perfil atraente de mulheres com cerca de 30 anos, que viveram diversas experiências e que contam, com um texto ligeiro, como é legal enxergar os momentos delas como elas os enxergaram.
Acredito que ler é sempre válido, mas não busque em nenhuma leitura uma saída, um estratagema para as relações. Temos todo um histórico de relações, contendo erros, mas também acertos. Quem deve julgar como proceder e, efetivamente, executar, é você mulher moderna.
Faço este recorte por perceber a surpresa das mulheres, assíduas na leitura de determinados blogs, encontrarem uma felicidade extrema em comportamentos que julgavam antiquados ou que nunca fariam. Seja sempre esta ebulição da complexidade que é só sua.
Como todo olhar crítico, as revistas femininas das décadas de 60 e 70, que traziam em suas páginas uma religiosa pregação da relação da mulher com sua casa e, por conseguinte, com seus filhos e maridos, as publicações das décadas seguintes começaram a libertar a mulher para uma relação de amor com um homem. Depois, com as descobertas da medicina, começaram a ensinar a mulher a ter prazer na relação sexual, até chegarmos aos dias de hoje.
Atualmente, a relação da mulher com as coisas, retratada pelos veículos de comunicação, está no ápice de uma escalada da abstração. Se em determinado momento a relação era com o gigantismo do lar, depois passou a ser uma relação de amor e, logo em seguida, um ligeiro encontro com si mesma. Agora, a moda é uma relação que não é sexual, mas quase sem o sentido do toque apenas possibilitado pela intimidade. Chegou o momento de uma relação genital.
Percebo as jovens se encantando com os textos fáceis, ligeiros, quase que poéticos sobre relações, por vezes promíscuas – não quero parecer conservador – retratadas em blogs de mulheres que atingiram um bom nível de reflexão de suas experiências, mas se esquecem do fator individualidade.
É fundamental termos responsabilidade com o que colocamos na rede mundial de computadores. Às vezes, experiências íntimas ganham o poder de bandeiras a serem erguidas ou frases de efeito a serem bradadas. Acredito que estes novos meios estão eclipsando a individualidade, aprisionando as mulheres a um comportamento aparentemente festivo e leve, mas que não é diferente do modismo das mulheres retratadas nas revistas femininas.
Certamente é válido saber como esta ou aquela balzaquiana agiu em determinada situação sexual. Provavelmente podem vir a serem experiências edificantes, mas apenas cada um e cada uma “sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Nada mais extremo, fascinante, diferente, avassalador, erótico, incrível e libertário que uma relação de amor em si e nas suas particularidades.
Reitero meu desejo de não parecer conservador. Na verdade, o que me cansa é a repetição do mesmo. Existem vários blogs com o mesmo perfil atraente de mulheres com cerca de 30 anos, que viveram diversas experiências e que contam, com um texto ligeiro, como é legal enxergar os momentos delas como elas os enxergaram.
Acredito que ler é sempre válido, mas não busque em nenhuma leitura uma saída, um estratagema para as relações. Temos todo um histórico de relações, contendo erros, mas também acertos. Quem deve julgar como proceder e, efetivamente, executar, é você mulher moderna.
Faço este recorte por perceber a surpresa das mulheres, assíduas na leitura de determinados blogs, encontrarem uma felicidade extrema em comportamentos que julgavam antiquados ou que nunca fariam. Seja sempre esta ebulição da complexidade que é só sua.
Aos verdadeiros guerreiros
“Você vai para frente por ter para onde voltar”, dizia o meu grande amigo Ludyney Claudino Moura, ao ficar sabendo que estava de malas prontas para Brasília, no ano de 2009. Meu amigo pastor não estava errado. Com muita luta e sacrifício, meus pais construíram um estruturado lar. Por vezes, acredito que eles construíram seus patrimônios não por eles, mas sim por nós, eu e meu irmão. Porém, tudo o que podiam já nos deram e agora é construir o nosso estofo para os nossos futuros filhos.
Mas não é apenas o conforto de poder regredir que nos faz alçar novos voos. Às vezes, é justamente não ter para onde voltar e esses são os verdadeiros guerreiros, e é sobre esses que quero falar hoje. Não vou citar nomes para não expor ninguém, mas eles se reconhecerão em minhas palavras.
Minha vinda para Brasília me ensinou muitas coisas, mas os encontros mais impactantes e até mesmo apaixonantes foram com esses verdadeiros guerreiros. Eles vieram para o Distrito Federal de vários lugares: do Nordeste, de Minas Gerais, de Mato Grosso do Sul, dentre outros. Vieram porque algo tinha que ser feito, vieram porque era isso ou nada, vieram para aprender, para trabalhar, para mudar e o fizeram.
Alguns deles fecharam os olhos e os ouvidos para as limitações. Estudaram 15 horas por dia, abriram seus negócios, trabalharam feito loucos, têm o orgulho de seus irmãos, hoje, estudarem na Europa, sustentam suas famílias, venceram e ainda apenas estão no começo de suas vidas.
O que esses jovens, de 20 a 25 anos, têm de diferente é não ter como voltar. É não ter retrovisor, mas sim faróis. Mas a história deles não para por aqui. O futuro deles é muito maior que o passado. Caso parem para avaliar até onde chegaram, vão redobrar as suas forças para alcançar o topo da montanha. Este aprendizado é a vida.
Neste texto, agradeço a Deus a oportunidade de observar vocês de perto – uns mais de perto que outros –, sempre com o aprendizado de seguir em frente, ultrapassar obstáculos, pular os muros das limitações, aprender aquilo que ainda não sei e acreditava nunca conseguir aprender.
Por vê-los chorar, querendo ajudar mais os seus, é que os abraço, tento acalmá-los, lembrando os quem são e aonde vão, que são os melhores partidos dentre seus iguais e que já fazem o possível e o impossível por aqueles que amam.
Aqui, faço um convite: olhem-se no espelho e, com um sorriso no canto da boca, perguntem à imagem que aparecer na sua frente até onde você pode chegar.
Mas não é apenas o conforto de poder regredir que nos faz alçar novos voos. Às vezes, é justamente não ter para onde voltar e esses são os verdadeiros guerreiros, e é sobre esses que quero falar hoje. Não vou citar nomes para não expor ninguém, mas eles se reconhecerão em minhas palavras.
Minha vinda para Brasília me ensinou muitas coisas, mas os encontros mais impactantes e até mesmo apaixonantes foram com esses verdadeiros guerreiros. Eles vieram para o Distrito Federal de vários lugares: do Nordeste, de Minas Gerais, de Mato Grosso do Sul, dentre outros. Vieram porque algo tinha que ser feito, vieram porque era isso ou nada, vieram para aprender, para trabalhar, para mudar e o fizeram.
Alguns deles fecharam os olhos e os ouvidos para as limitações. Estudaram 15 horas por dia, abriram seus negócios, trabalharam feito loucos, têm o orgulho de seus irmãos, hoje, estudarem na Europa, sustentam suas famílias, venceram e ainda apenas estão no começo de suas vidas.
O que esses jovens, de 20 a 25 anos, têm de diferente é não ter como voltar. É não ter retrovisor, mas sim faróis. Mas a história deles não para por aqui. O futuro deles é muito maior que o passado. Caso parem para avaliar até onde chegaram, vão redobrar as suas forças para alcançar o topo da montanha. Este aprendizado é a vida.
Neste texto, agradeço a Deus a oportunidade de observar vocês de perto – uns mais de perto que outros –, sempre com o aprendizado de seguir em frente, ultrapassar obstáculos, pular os muros das limitações, aprender aquilo que ainda não sei e acreditava nunca conseguir aprender.
Por vê-los chorar, querendo ajudar mais os seus, é que os abraço, tento acalmá-los, lembrando os quem são e aonde vão, que são os melhores partidos dentre seus iguais e que já fazem o possível e o impossível por aqueles que amam.
Aqui, faço um convite: olhem-se no espelho e, com um sorriso no canto da boca, perguntem à imagem que aparecer na sua frente até onde você pode chegar.
Das responsabilidades
Aconteceu em Mato Grosso do Sul, claro. Em uma madrugada, há alguns anos, o Governador André Puccinelli, então prefeito da Capital, Campo Grande, ordenou – “ranque os trilhos do meio da cidade”. O prefeito da época sempre se baseou em pesquisas e, uma especificamente, indicava que 70% da população da capital morena queria a retirada dos trilhos. As alegações eram as mais diversas: “atrapalha o trânsito”, “estraga os amortecedores do carro”, e por ai vai.
Porém, o que a maioria da população campo-grandense desconhece, ou ignora, é que a cidade onde nasci, cresceu em volta dessa linha férrea. Cada dormente daqueles, cada madeira de lei – não sei onde se encontram na atualidade – além do valor econômico, também tinham um valor cultural inestimável.
No dia seguinte da retirada dos trilhos, o secretário de cultura do Estado, que não me lembro o nome agora, esbravejou em uma rádio da capital: “Os trilhos foram retirados, isso é um absurdo, alguém tem que fazer alguma coisa”.
“Alguém tem que fazer alguma coisa”. Esses dias, estava dando aula, e uma aluna muito querida chegou atrasada e justificou a situação com um discurso enérgico e forte. Empolgante. Ela reclamava da ausência de estacionamento para estudantes, da falta de iluminação no local onde estacionou o carro e da segurança pública no DF. E, para finalizar soltou esta: “Alguém tem que fazer alguma coisa”.
Uma frase puxou a outra e as duas histórias explicitaram uma mesma dificuldade: o distanciamento de nossas responsabilidades como coletivo, como um todo que forma o espírito público.
Na primeira história, quando o secretário de cultura evidenciou que alguém tinha que fazer alguma coisa, com toda certeza, esqueceu de sua militância nos movimentos culturais e do papel hierárquico que ocupava ha época. Quando minha aluna, com a energia que lhe é peculiar, discursou em sala, talvez não tenha se atentado que, na faculdade onde estuda, não tem um diretório central dos estudantes e nenhum centro acadêmico, algo que prego tanto, por já ter participado do movimento estudantil.
Temos que ter muito cuidado quando proferimos a frase: “alguém tem que fazer alguma coisa”, por vezes estamos eclipsando a nossa responsabilidade sobre aquilo. Sempre digo que, em cada momento de crise que vivemos, temos que refletir qual é a nossa responsabilidade sobre o que ocorreu, por mais que seja nenhuma. É por meio desta avaliação que tomamos rédeas das coisas.
Imaginem se o secretário realizasse uma ação política para preservar o patrimônio da Capital de meu Estado? Imaginem se esta minha aluna eternizasse seu nome, na Instituição que estudou, fundando o diretório central dos estudantes?
Acredito que o nascedouro dos grandes feitos está na indagação de qual é nosso papel em uma demanda coletiva, como posso fazer mais?
Bom, essas oportunidades passaram, não deixemos as próximas passarem também.
Discurso da sustentabilidade: fragilidade e desconfiança
Mesmo amplamente favorável a uma profunda modificação em nossos modos de produção e ciente de que o desenvolvimentismo atual nos aproxima da finitude, ainda não fui convencido pelo discurso da sustentabilidade.
A fragilidade deste debate reside na consciência filosófica de que o ser humano, segundo os filósofos da comunicação Vílem Flusser e Ivan Bistrina, produzem, a partir da natureza, uma outra tipologia de coisas que denominamos cultura, desta forma, dividimos aquilo com o qual nos relacionamos nestas duas classificações: natureza e cultura.
Fazendo um mergulho ainda maior, podemos subdividir a classificação cultural em sistemas como: mitologia, religião, arte, utilidades práticas, dentre outras. Porém, Flusser identificou que a cultura ainda é transformada novamente pelo ser humano, e este subproduto é o lixo.
Flússer defende um conjunto de saberes que se especializa para estudar este lixo, exemplo disso é a arqueologia e a antropologia – estudam o lixo do passado – e a psicologia, que estuda nosso lixo interno. O que os autores que me embasaram para escrever este texto não apontam, e não o fazem porque ainda não existe, é uma saída para resolver este subproduto acumulativo.
Percebendo que existe um terceiro reino das coisas, além da natureza e a cultura, o lixo, e que este só se faz acumular, não volta para a natureza e foi expulso da cultura, podemos vislumbrar um futuro poluído até agora. Acredito que nossas especulações podem tardar este futuro, mas não resolvê-lo.
Esta não é uma percepção recente, quando criança, não conseguia acreditar nas frases de efeito do “Capitão Planeta”, em um desenho animado da época. Era muito novo, não tinha embasamento nenhum, apenas sensações e assim não me sentia convencido de nada.
Há algumas semanas, em um importante colóquio, na mesa de um bar, um colega professor da Universidade Federal do Amazonas afirmou: “a sustentabilidade apenas se sustentará quando o homem começar a comer seus próprios excrementos”, obviamente com o intuito de chocar, o docente não está errado, o nosso lixo não tem lugar.
Reitero de que esta é uma discussão filosófica e que, das tentativas de solução, possam surgir discursos com mais musculatura, porém, na atualidade, estamos apenas empilhando, coisas em cima de coisas.
Na vida, às vezes, é preciso mudar de pauta
Há alguns anos, fui convidado para fazer parte da coordenação de uma campanha política no nordeste do País. O renomado, sério e intelectual Secretário de Estado iria concorrer a única vaga ao Senado, que estava sendo disputada naquele ano. Apesar da fraca concorrência, sua campanha não deslanchava.
Apesar de já experiente, o político participava da campanha com a energia de uma criança, não se cansava, viajava por todos os cantos do Estado, por onde ia, conquistava eleitores por sua vida ilibada e por seu carisma de homem bom. Com o passar do tempo, consegui identificar o que estava limitando a conquista da vitória, mas já era tarde de mais.
Na intimidade, conversando amenidades, percebi uma profunda tristeza e uma repetição temática, todas as vezes que conversávamos, o nosso “senador”, murchava ao falar de um antigo assessor, pelo qual fez de um tudo para que ele fizesse parte deste projeto político, mas o “ingrato resolveu se meter com uma parte obscura da política e foi convidado a se retirar da campanha.”
A coordenação da campanha agiu corretamente, retirou-o da campanha, mas emocionalmente, nosso candidato não conseguia se desligar do assunto, não conseguia mudar de pauta, avançar... acabamos perdendo a eleição.
No ano passado, um grande amigo meu, em diversos encontros, almoços, jantares e reuniões, também apresentava uma repetição temática, por vezes cansativa. No caso deste jovem e vaidoso rapaz, a grande dúvida estava entre dois amores, o primeiro era um caso antigo, uma ex-namorada que sempre se deram bem e juntos realizaram as maiores loucuras. Esta mulher era impressionante, bem sucedida, empreendedora, ativa, uma visionária de sucesso.
Mas a segunda sim era amor mesmo, uma mulher tranqüila, séria e honesta, concursada, com sonhos mais modestos, porém apresentava como pontos positivos a estabilidade psicológica e a segurança dos pés no chão. Todas às vezes, nós nos encontrávamos, fazíamos uma lista de pontos positivos e negativos de ambas.
Foi em um almoço que, pela vigésima vez, ele apresentava as suas indecisões, no entanto, este dia foi diferente, ele me perguntou: “O que devo fazer?”
Com a possibilidade de tecer minha opinião ofertada pelo questionamento, contei a ele a história de meu candidato ao Senado que não prosperou, fiz isso para introduzir o assunto: “o que eu quero que você faça é mudar de pauta”.
“Você é um homem brilhante, com opiniões fortes e com um grande sucesso com as mulheres. É um advogado que, apesar de não estar exercendo a profissão, obviamente faria muito sucesso se abrisse um escritório. Posso estar parecendo grosso e radical, caso eu seja mal interpretado, me questione e eu me defendo, mas não vou mais conversar sobre estes seus relacionamento que estão empatando sua vida, apenas conversarei com você sobre seu futuro escritório de advocacia.”
Tive tempo hábil, ao contrário de meu candidato do começo da história, para esse meu amigo, o diagnóstico funcionou. Ele focou em sua vida profissional, casou-se com o verdadeiro amor e está super feliz.
Não sei se ele será feliz para sempre em sua vida afetiva, mas tenho certeza que hoje ele tem uma outra forma de se realizar também: a vida profissional.
Esta estratégia, mudar de pauta, herdei de meus estudos em marketing político, “nunca devemos ser pautados por ninguém, nem por nada, temos que criar as nossas pautas.” Se na política, nosso adversário nos pauta, nos faz ficar na defensiva, respondendo a questionamentos, com isso a gente perde tempo, dinheiro, energia e a eleição.
Na vida não é diferente, não podemos nos deixar nos pautarem, temos que construir nossas próprias pautas, contudo, quando, inevitavelmente estamos presos a uma pauta que nos limita, temos que mudá-la, transformá-la, investir em outro assunto.
Você, neste momento, está preso em uma pauta que está te impedindo de ganhar a eleição? Mude de pauta.
A verdadeira expansão da mente
Muitos tentam atingir uma certa expansão da mente ou chegar até outras dimensões, por meio de substâncias entorpecentes, drogas, dos mais variados tipos. Eu, que nem beber bebida alcoólica bebo, acredito que apelar para essas substâncias, no mínimo, não é saudável. Mas explorar a potencialidade de sua mente é uma obrigação.
Nos anos de 2005 e 2006, fui assessor de comunicação do vice-governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Egon Krakhecke, um homem erudito e intelectualizado. Na companhia de Egon, conheci grande parte do meu Estado. Na época, eram muitas viagens, sempre muito rápidas, por vezes, visitávamos até 4 cidades em um só dia, já aconteceu de acordar em um quarto de hotel sem saber que município era aquele.
Nas incursões pelo Estado do Pantanal, as vezes, esticava o pescoço para conferir o que o chefe estava lendo no banco da frente do automóvel, dentre notas técnicas e memorandos, havia sempre clássicos e poesias. A figura austera e séria impõe respeito, e no carro imperava o silêncio, apenas quebrado quando o vice ligava o som.
Desde muito pequeno, estabeleci alicerces que acreditava seguir pela vida inteira, princípios éticos, condutas morais e padrões estéticos, mas a vida nos ensina a cada esquina.
Foi viajando a trabalho que percebi a simplicidade da tão falada expansão da mente, que povoava minha cabeça quando lia os livros de Fritjof Capra. Egon tem um gosto musical diferente do meu, e dentro do carro, hierarquicamente, respeitávamos o que ele colocava para tocar. Em um certo dia, fiquei com a impressão que ele tinha passado dos limites, quando por horas ininterruptas um CD de música andina se repetia em nossos ouvidos. Obrigado, tive de escutar.
Ouvindo aquelas músicas que nunca tinha me dedicado a prestar atenção, fui percebendo a beleza de sua emoção e a tradução da voz milenar de um povo. A música andina é forte, emocionante e avassaladora, transmuta em música sons do altiplano, do correr de regos de água gelada e límpida, dos sons de pássaros que desaparecem nas alturas. Tudo aquilo é ritualístico, simbólico e espiritualizado, é de uma beleza incomum.
Percebendo e, principalmente sentindo tudo isso, minha impressão é que dentro de minha cabeça acabava de criar um espaço imaterial, mas pronto para elaborar, formular, criticar e aprender um outro padrão estético, diferente das músicas que eu ouvia até então. A apropriação de um outro padrão estético mexe com o espírito, influencia a alma.
Depois desta oportunidade, além do enriquecedor contato com uma amostra de sistemas de uma cultura mágica, também aprendi a me portar frente a possibilidade de me conectar com formas diferentes de expressar os sentimentos pelo ser humano e pelo mundo. As formas peculiares de cores e sons que encontramos no contato com o outro, podem transformar nosso dia, nossa semana, nossas vidas.
Acredito que, se fechar em seus paramentos estéticos é limitar suas possibilidades filosóficas. Ao invés de experimentar substâncias, convido a todos a experimentar sensações, emocionar-se com a produção artística do outro e expandir a mente visitando novas dimensões.
O poder da escolha
Um grande amigo do meu irmão e por conseguinte, também meu amigo, estava terminando dois mestrados ao mesmo tempo quando eu morava em São Paulo. O personagem é de uma inteligência espetacular e, em um determinado dia, fomos a um rodízio de comida japonesa, o terceiro melhor da cidade segundo uma revista especializada. A conversa estava boa e entramos em alguns assuntos dos saberes econômicos, área de estudo do prodigioso acadêmico, até que, depois de muito nos explicar, objetou de forma assertiva: “economia está ligada aos efeitos psicológicos”.
Impactante informação para mim, que sempre acreditei na pragmática dos números.
Acabo de me despedir de um outro amigo que está fazendo sua primeira viagem internacional. Há menos de 5 meses, ele apresentava uma situação completamente diferente, trabalhava em um ambiente insalubre e era intensamente assediado moralmente por seu chefe. Mesmo reconhecidamente competente, aquela realidade o fazia muito mal, e aquelas condições tendiam a piorar.
Com dificuldades em outras áreas da sua vida, resolveu mudar, fazer um limpa, ousar e fazer escolhas diferentes. Mesmo com um cenário muito negativo, conseguiu olhar para dentro e identificou a pessoa maravilhosa e cheia de virtudes que residia naquele espaço. Confiando naquilo que viu internamente, teve a epifania de perceber o potencial de suas decisões e a certeza de que, as conseqüências das coisas que acontecem conosco, na grande maioria das vezes, são frutos dessas decisões.
Não suportando mais as injustiças e os acontecimentos de seu trabalho, pediu demissão e em questão de dias estava contratado em um outro lugar, e depois de uma semana já era respeitado por causa de sua cavalar competência. Ao mesmo tempo, outras áreas da vida, por meio exclusivamente de suas escolhas, foram se organizando e se mostrando muito melhores que aquele período anterior.
Convencendo psicologicamente os números de suas finanças, resolveu abrir uma empresa e mediante aos frutos de sua ousadia, e atento aos parâmetros de sua responsabilidade, hoje está tirando uns dias no exterior. Antes de viajar, suas palavras para mim foram “eh 2011 maravilhoso.”
Eu vou além, ‘eh escolhas maravilhosas’, ‘eh características maravilhosas’. Esse meu amigo é um grande exemplo em diversas áreas, mas no quesito de chamar a responsabilidade para si e mudar o próprio destino, apesar da pouca idade, deveria estar dando aula. Expresso aqui o desejo de boa viagem e um convite para te visitar e comemorar as mais recentes vitórias.
Acredito que temos de ter a coragem de decidir, de mudar aquilo que é preciso e que não está nos fazendo bem, não podemos delegar a responsabilidade das nossas decisões nas mãos de outros entes. Faça a escolha certa, tenha como base princípios simples, como por exemplo, respeito ao outro e honestidade de caráter, desta forma, até os mais consolidados postulados econômicos se renderão à você.
Ciência acelerou o tempo, que atropela a própria ciência
Sempre gasto o que não posso quando vou à livraria ‘Cultura’, no Shopping Iguatemi (Brasília-DF). A minha intenção era apenas comprar um livro didático para a mais nova empreitada que inventei, aprender a falar francês, tentar, pela segunda vez. Porém, acabei passando pela seção de livro em comunicação, encontrei as mais recentes publicações de Norval Baitello Jr. e um desejo antigo, ‘Semiótica Russa’, de Boris Schinaiderman. Lá se foi uma grana que não poderia gastar.
Procurando com os olhos onde eu poderia gastar o dinheiro que não tinha, observei uma série de títulos que num passado muito recente faziam todo o sentido, mas hoje, qualquer adolescente descarta como obsoleto. No espaço reservado aos livros de comunicação, obras tratando da ‘blogosfera’ ou do fenômeno ‘orkut’, já foram amplamente superados pelos ‘face books’ e ‘twitteres’ da vida. O interessante é que a mesma escola de pensadores que teorizava os avanços tecnológicos, no momento de reproduzi-los no papel, já se tornam ultrapassados.
Percebo que a estratégia dos autores mais antenados com o marketing e o posicionamento de seu produto (livro teórico), no mercado, é ampliar os conceitos no título e fundar novas filosofias a cada modernidade, como: teoria das “novas mídias”, “cibercultura”, ‘dromocracia”, dentre outros. Não estou aqui fazendo juízo de valor, todos os que estão denominando suas obras desta forma são grandes mestres para mim.
O que quero evidenciar aqui é que, se você não percebeu ainda, essas coisas estão fora de controle. Neste momento estou lendo alguns autores que publicaram na década de 40, 50, 60, 70, como Vilen Flusser, por exemplo, e que ainda percebo acertos importantes quando apontavam para o futuro. Atualmente, encontro erros até naqueles que tentam desvendar o passado.
Se tínhamos a ilusão de que o homem de certa forma controlava a edificação do futuro, hoje tenho a sensação que o progresso caminha sem rédeas, sendo debatido pelas maquinas em um espaço que é pura virtualidade. O próprio Diertmar Kamper, fala sobre uma crescente abstração do corpo, aqui defendo a abstração do homem. Fico preocupado, centrado no meu famoso pessimismo, se qualquer investimento hoje, não estará retrógrado amanhã.
Nesta imersão, também reflito sobre aqueles que iniciam sua experiência intelectual hoje, o que dizer para esses jovens: ‘mergulhem na técnica rentável de como fazer’, ou ‘preparem seus espíritos para entender a vocês mesmos’? Vou rezar, como bom católico que sou, para que alguém esteja gerindo essas inexplicáveis mudanças.
Apelo a outras alternativas por perceber que, qualquer proposta de diminuir o aceleramento, além de ser antagônica é muito pouco palatável, confesso que até para mim. Mas o ser humano é incrivelmente criativo e posso ser surpreendido com formulas de prolongar a existência das coisas.
O Menino do Pijama Listrado: Um menino comum em um ambiente diabólico
Assisti tardiamente, mas o fiz...
Ainda relutante no início do filme, o assisti por insistência, estavamcertos: “você vai gostar”. Tão certos que na metade da película comecei a anotar minhas sensações, e é o que estou escrevendo aqui, e aproveito a oportunidade para fazer um convite a você, que está lendo este texto neste momento, você mesma, são pouquíssimas pessoas que lêem meus textos, quando sentir que deve, anote suas sensações e tente colocá-las no papel...
Meus amigos mais próximos sabem que não sou atraído em nada por filmes que não se enquadram em grandes sucessos americanos, gosto de me divertir, relaxar com grandes bilheterias, nada de filme Cult, ou alternativo. Por vezes, confundem filmes alternativo com mal feitos, mas novamente fui surpreendido. O Filme “O Menino do Pijama Listrado” está longe de ser uma grande produção, mas é extremamente bem feito, tem evidente começo, meio e um baita fim, retrata uma bucólica Alemanha nazista e o conflito entre dois mundos, o do nacionalismo e o da exclusão.
Como pequeno detalhe quase que imperceptível o apoio religioso ao Estado nazista foi lembrado, mas isso é quase que insignificante perto das sensações. Acabo de assistir o filme e inicia-se em mim uma leve dor de estomago, não estou arrependido, assisti uma obra de arte que me trouxe a emoção de sair de uma aguda crise renal, das mais fortes que já passei, uma dor importante e fantástica, que remonta um encontro com sentimentos desencontrados, porém de profunda relevância, saio desta crise avaliando alguns valores que apresentam contornos com maior relevo depois da dor.
A história fala de um menino normal em condições nada normais, vivenciando a sua infância avizinhado por um campo de concentração, lá, na ausência de alternativas e com uma sorte incomensurável, faz um amigo do outro lado da cerca, este menino normal de oito anos, é filho de um militar da alta patente, uma espécie de coordenador do centro de extermínio judeu. No desenrolar, este ótimo filme nos arrebenta com o choque entre dois mundos da época da Segunda Guerra Mundial, a soberana Alemanha e o confinamento monstruoso de Judeus.
Outro aspecto que me chamou a atenção no filme – e isso sempre acontece - foi o papel de duas mulheres, a avó do menino com pequenas aparições mas ressoante desaprovação daquela estrutura militar, e a degradação e decadência emocional da mãe quando começa a sentir o cheiro do verdadeiro trabalho de seu marido.
Também somos levados a participar da história quando sentimentos como medo, covardia, desonra e arrependimento são tratados de maneira sensível e azulada pelos olhos dos pequenos atores. Com isso encerro este breve comentário, mais leve, mais tranqüilo e menos ansioso, reiterando o chamado para você se emocionar também...
Da fisiologia às boas notícias
Escolhi morar em São Paulo para cursar o mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC, no final de 2006 e começo de 2007, a decisão foi mais uma prova de que aprendendo muito observando as pessoas. Quando me inscrevi no processo de seleção, além da vontade de pesquisar o meu tema, queria colocar em prática aquilo que via o Josian, namorado de minha querida prima Naiara, fazer: ser empreendedor, mudar de ares, buscar um diferencial e investir em mim.
Nem sempre essas decisões significam conforto e acolhida pelo novo ambiente. Mesmo sendo completamente apaixonado pela capital da garoa, tendo feito amigos para a vida toda e sendo muito grato a tudo que aquela cidade e aquela instituição me proporcionaram, o começo não foi fácil.
Caí de pára-quedas em São Paulo conhecendo pouquíssimas pessoas, todas bem receptivas, mas com os seus compromissos particulares que não possibilitavam suprir a carência de um filho caçula e longe de casa pela primeira vez. Em relação a grana, nem se fala, com um orçamento extremamente restrito, porém bem planejado, era possível me alimentar com R$ 11 por dia, ou seja, dois pratos feitos. Não podia reclamar, foi minha escolha, com as condições que conseguimos construir, o jeito era mergulhar nos estudos.
Porém, com o passar dos meses, o somatório da carência afetiva e das dificuldades enfrentadas com a falta de dinheiro, inevitavelmente o ser humano titubeia, balança, murcha, e isso trás reflexos na própria aparência. Cinco meses e dez quilos mais magro, barbudo como um terrorista, ou um sindicalista da década de 70, percebi que estava sofrendo desses sintomas. Na época, ainda não tinha sido aprovado na prova de proficiência em línguas e todo aquele esforço poderia ir por água abaixo.
Telefonemas de minha mãe, meu irmão e minha avó acalentavam meu coração, a lembrança das expectativas de meu pai, me preocupavam. Em uma determinada manhã, olhei-me no espelho e vi que demonstrava em minha face aflições, medos e inseguranças, assim tomei uma decisão: fiz a barba, coloquei uma calça jeans nova e fui cortar meu desgrenhado cabelo. Na volta do salão, me sentindo mais apresentável, meu celular tocou, era a querida secretária do programa de Mestrado, comemorando aos berros minha aprovação naquela famigerada prova de inglês.
Alegria, felicidade, festa e muita dança, no meu quarto, sozinho. No computador, a música que tocava era ‘Vamos Celebrar’ de Oswaldo Montenegro – escutem - . Mas esta alegria momentânea não durou tanto tempo assim, sou desconfiado do destino e um eterno descontente. Com o passar dos meses a solidão, a carência e a crise financeira apertavam novamente. Só para pagar os estudos, eram mais de R$ 1 mil por mês, já havia pleiteado a bolsa da CAPES, mas o resultado nunca saía.
Mais uma vez aqueles sintomas me acometeram, 3 meses depois e 7 quilos mais magro, barbudo e cabeludo, percebi que alguma coisa tinha que ser feita. Lembrei que, há alguns meses, uma estratégia inexplicável tinha dado certo, “a mudança de minha aparência para mexer com as minhas entranhas”.
Adepto que sou da mística de nossas ações, novamente fiz a barba, coloquei aquela calça, com uma bonita composição e fui dar um jeito nos poucos cabelos que me restam. Como uma reprise melhorada de eventos passados, meu celular tocou, era a Cida, sensivelmente emocionada, já havia criado um carinho por aquele sul-mato-grossense que queria dar um jeito na vida. “Corre para cá, você foi selecionado para a bolsa, mérito do teu projeto”.
Quando encontro pessoas que, por algum motivo estão entristecidas, de imediato já cobro uma mudança de postura, se não dá para mudar de dentro para fora, que seja de fora para dentro. As vezes, por uma combinação feliz, estamos mais apresentáveis que outros dias e temos que aproveitar esses momentos.
Na semana passada, encontrei alunos desta forma, bem arrumados, cabelos escovados e tudo mais, de imediato, já aventei a possibilidade deles estarem armando uma balada, pois são jovens e cheios de energia e, para minha surpresa, eles disseram que não, que estavam indo para casa.
“Meus queridos, vão dar uma volta. Quando estamos especiais desta forma, temos que andar por ai, buscarmos a felicidade no contato com o outro e esperarmos as boas notícias, pois elas virão.”
Texto encomendado pelas minhas alunas Taciane Silva e Sabrina Duarte
O ambiente, o projeto e a meta
Em uma co-orientação de Trabalho de Conclusão de Curso, na Instituição em que trabalho, uma jovem aluna se mostrou triste por algum motivo específico, perguntador que sou, questionei o motivo da tristeza, sendo que o trabalho corria bem e a aprovação era certa, como se confirmou semanas depois, então ela me informou: ‘queria entrar no programa de mestrado da UnB, mas o prazo já acabou’.
Por vezes, percebo que pessoas de todas as idades apresentam uma estratégia clara de vida, mas com um objetivo ainda pouco definido, há os casos que o objetivo é extremamente bem recortado, mas o projeto de vida para atingi-lo está longe do ideal. Mas aqueles que me preocupam de verdade são os que não têm, nem estratégias e nem objetivos.
Não era o caso desta orientanda. Para testar a minha tese a questionei porque ela queria entrar no programa de mestrado, a resposta foi certeira e firme, como é de sua personalidade: “quero trabalhar em assessoria de imprensa, mas também quero dar aula de jornalismo.” Para os avaliadores mais apressados, a resposta não tem nada de excepcional, porém, posso garantir que tem.
Essa moça de menos de 22 anos tem um gigantesco patrimônio nas mãos, um objetivo claro e bem definido (trabalhar em assessoria e dar aula), e uma boa estratégia (fazer mestrado). Para descobrir o diferencial desta jovem é simples, pergunte aqueles ao seu redor, qual é o objetivo de vida que pretendem alcançar e como farão para obter êxito? Eu sempre faço isso com meus alunos e as respostas, em determinadas ocasiões, me preocupam.
Quando trabalhava em uma empresa de comunicação, comecei a conversar com a secretária do diretor, estava na ante-sala a espera de uma reunião, no meio do diálogo descobri que o sonho daquela recém formada jornalista era de ser professora no curso de jornalismo, fiquei feliz pela clareza de sua meta, mas quando questionei o que ela estava fazendo para conquistar tal objetivo, frustrei-me: “especialização em organização de eventos”.
Venho percebendo que a forte inclusão de pessoas de baixa renda no meio acadêmico está proporcionando um fenômeno muito interessante: o primeiro membro da família com um curso superior. Esta criação de uma nova massa crítica é muito salutar, porém, por não conviverem em um ambiente de pessoas oriundas da academia, o próximo passo acadêmico e a formulação de planos para atingir metas, ficam comprometidos.
Para a minha jovem aluna teci meus comentários elogiosos e clamei para que ela não desistisse de suas metas. Já para a secretária do chefe, abusando da instantânea intimidade criada, a orientei a largar esta especialização e se esforçar para ser aprovada em uma pós-graduação stricto sensu. A especialização é voltada para aqueles que querem atuar no mercado em um segmento definido, para quem quer voltar para a academia, o caminho é o mestrado.
Independente de qual carreira seguir, o primeiro passo é se entender como um maravilhoso projeto que tem que dar certo. Para tanto, é fundamento se auto-conhecer, saber de suas virtudes e limitações, identificar qual diferença você quer fazer no mundo, dar nome a esta diferença por meio de uma profissão, estabelecer as estratégias, conversar com pessoas experientes e transformar cada minuto de seu dia um precioso e produtivo tempo para avançar.
Mãos à obra.
Como convencer as paredes do quarto
Esta história aconteceu há anos, mas sempre me vem à memória quando percebo que aprendo muito observando este ente tão complexo, o ser humano. Era do meio para o final do ano e dois amigos meus estavam se preparando para prestar o mesmo concurso. O primeiro, já tinha prestado o concurso muitas vezes, e neste ano específico, estava mais empenhado que nunca, tinha passado na primeira das duas fases do certame e resolvera freqüentar dois cursinhos – um durante a semana e outro nos finais de semana – sua dedicação era tanta que, qualquer nova obra literária que aparecia na cidade sobre o assunto chegava primeiro na casa dele.
Este personagem anunciava aos quatro ventos os cursinhos que estava fazendo, sempre os melhores, e a bibliografia que já possuía em casa era invejável, dizem seus colegas que, na sala de aula, sentava-se na primeira fileira, sempre com uma caneta na mão e uma cara de conteúdo no rosto. Porém, um amigo do trabalho dele já me alertava, ‘a postura é inversamente proporcional ao repertório cultural’.
O segundo personagem se tornou um grande amigo, um homem que chama a atenção pela simetria e pela bela voz, mas aquele jeitão, não tão comprometido, estava me preocupando, também, ele só fazia o cursinho de final de semana. Ele é um ser diferenciado, aparenta ter muito menos idade do que realmente tem, e isso me causa óbvia inveja. Também prestava o concurso há anos, estava preocupado, estudando, mas o empenho demonstrado por nosso personagem anterior era visivelmente maior.
Passaram algumas semanas e o resultado da segunda etapa do concurso foi publicado, meu amigo que compõe o segundo personagem foi aprovado e festejou, já o, aparentemente, mais aplicado, não. A postura do reprovado foi de revolta com todos, criticou a prova, os elaboradores, os aprovados, o sistema solar, a lei da gravidade, dentre outros.
Avaliando a postura dos dois e, principalmente daquele que reprovou, me veio a mente milhares de imagens de situações onde obviamente eu, ou outras pessoas estavam tentando convencer o destino que merecíamos algo. Isto acontece quando adotamos uma postura assim, superlotando nossos horários de estudos estapafúrdios, comprando centenas de livros que não conseguiremos ler mesmo se tivéssemos duas vidas, fazendo caras e bocas de conteúdo, mas na verdade, temos graves limitações primarias de cultura e aprendizado.
Não estou criticando aqueles que, por algum motivo, não reuniram um repertório cultural importante, mas evidencio que não é com uma postura que o destino se convence. O destino é convencido por coisas reais. Não adianta ler grandes doutrinadores do direito, se ainda não conseguimos interpretar os códigos do português; não funcionará a tentativa de entender Guimarães Rosa, se não enxergarmos a complexidade mística da formação do povo brasileiro. Não adianta. Não é com posturas, faces e trejeitos, é com honestidade. É perceber em si que ainda tem limitações, que ainda não é um intelectual, mas que pode se torná-lo, se for verdadeiro consigo e com os outros.
Existe um verso do insuperável Raul Seixas, que sempre escuto vivamente em meus ouvidos, quando alguém tenta convencer o destino de algo: “convence as paredes do quarto e dorme tranqüilo, sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo”.
Do dente de ouro do próprio Deus à verba indenizatória
O meu melhor amigo é um jovem pastor batista, um teólogo inteligentíssimo que domina o assunto. Mesmo sendo católico apostólico romano praticante, sempre que tenho alguma dúvida religiosa, recorro ao Pr. Ludyney Claudino Moura para que, por meio de uma contextualização histórica, minhas inquietações sejam dirimidas.
No começo de nossa amizade, fiquei impressionado com uma história que corria nas redondezas do meu bairro, ‘um líder religioso que, de tão intimamente ligado a Deus, fazia nascer miraculosamente dentes de ouro na boca de fiéis que o seguiam’. Depois de convencido pelos relatos e pela veracidade dos acontecimentos – mesmo sem ter presenciado um caso – relatei o fato ao meu amigo pastor.
Ludyney ouviu pacientemente a história, e como um sacerdote experiente objetou: “mesmo que seja verdade, o que isto prova?”com esta indagação percebi a força de um discurso vazio. Sem significado prático mesmo no campo do místico, fui apresentado a bravata, foi conduzido a refletir sobre a falta de significado de um dente de ouro.
A mídia começou cobrindo os trabalhos legislativos impressionada com um dente de ouro. Com um discurso tão fácil como o do líder religioso que faz milagres sem substância Neste mês, parlamentares chamaram a atenção por não nomearem assessores, devolvendo a verba indenizatória e pregando uma falsa economia do erário público.
Eu, na juventude, impressionado com os milagres de um suposto ‘profeta’ é compreensível, mas a mídia encantada com essa vazieis retórica não tem nada de ingenuidade, mas sim uma ideologia liberal, falida e burra. O impacto desta política de um mandato minimalista é incrivelmente irrelevante e não colabora em nada com coisa nenhuma.
Caso todo o Governo Federal, os três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) abrissem mão de todos os seus cargos comissionados faríamos uma economia de menos de 1% de tudo que o país arrecada, ou seja, irrelevante frente as atividades políticas de fundamental importância para a vida republicana e para a máquina administrativa.
No que tange as contratações de deputados e senadores e as verbas indenizatórias, um parlamentar que abre mão desses recursos terá seus trabalhos limitados e seus eleitores frustrados. No começo do ano que vem será possível avaliar o desempenho dos ‘arautos da ética’ e dos outros parlamentares. No endereço eletrônico da Câmara e em outros organismos de fiscalização terão dados tabulados que demonstram, em números, qual foi o desempenho do político eleito.
É possível quantificar quantos pronunciamentos seu parlamentar proferiu, quais bandeiras ele defendeu, quantos projetos de lei foram apresentados e quantos foram aprovados, de quantas comissões e frentes parlamentares o deputado ou senador faz parte e qual é a atuação deles nestes grupos suprapartidários.
É possível, por meio deste levantamento, verificar quanto em recursos foram destinados para os municípios, estados e Distrito Federal, e desses valores quantas creches, escolas, postos de saúde, praças, parques, hospitais, estradas, se tornaram realidade pela gestão política deste parlamentar.
Isso sim é verdade, melhora a qualidade de vida da população e é palpável, já a propaganda do trabalho simplista e franciscano de políticos apenas serve de discurso vazio para a reeleição, mais nada, algo tão importante quanto um dente de ouro.
Aos meus queridos afilhados de casamento...
Nos últimos dois anos, fui convidado para ser padrinho de quatro casamentos, três já aconteceram: Samara e Cícero construíram uma bela história e hoje me enchem de orgulho com a beleza de seu lar; já no casamento de meu ex-aluno Elizeu e sua atual esposa Priscilla, tive a honra de participar de uma encantadora cerimônia; no final do ano, serei padrinho de um casal de noivos que se conheceram em uma inusitada ocasião, e eu estava lá...
Mas do último casamento que participei, Wolney e Marina me conquistaram por, além de me convidar para ser padrinho, me cobraram uma conversa séria e madura sobre matrimonio. Quem sou eu para dar conselhos sobre casamento? Deste assunto, conheço apenas teoricamente.
Pela distância geográfica, não pude dialogar com ambos sobre o enlaço matrimonial, por isso estou utilizando este espaço para registrar minhas particulares impressões sobre a escolha de uma vida a dois. Sou fruto de um casamento de mais de três décadas e quem observa meus pais juntos, viajando para lá e para cá, sempre juntos, me questiona: ‘sempre foi lindo assim?’
Nos últimos 50 anos, uma forma de construção de lógica está cada vez mais roubando o espaço de nosso repertório cultural – experiências, crenças, vivências, sensações e construção filosófica -, atualmente nossa avaliação da realidade é mistificada pelas histórias da televisão. Falamos como se fala nos telejornais, sonhamos como se sonham nas novelas, nos relacionamos como se relacionam no ‘Caldeirão do Huck’, rezamos como orienta os padres e pastores que povoam os canais de TV, conversamos como se estivéssemos em uma entrevista com o Jô Soares e nos emocionamos de maneira tão verdadeira como faz o Gugu, em seu Programa de auditório.
Para os mais apegados a realidade, e aos pessimistas, a vida é um pouco diferente, ora eles já perceberam que as rédeas da vida estão unicamente nas suas mãos, ora estão começando a se incomodar com uma série de situações onde os desfechos não são finais felizes para sempre, estão sentindo que a mística televisiva se baseia na realidade, mas não a reproduz.
No casamento não é diferente, aquelas imagens de jovens se casando, sarados, belíssimos, onde os movimentos são sincronizados e a química é perfeita, nem sempre acontece nos casamentos da vida real, às vezes a blusa prende e não sai, a agilidade não é a de um acrobata. Às vezes caem da cama, às vezes batem o dedinho do pé na quina da parede, às vezes o que era para ser um musical da Brodway é apenas o cotidiano.
As pessoas que se casam são reais e humanas e, por mais que queiram, não são personagens. Acredito que a maior lição que aprendi observando os casamentos de sucesso foi essa, a não mistificação do relacionamento, existe sabedoria de quem faz esta escolha, mas está escolhendo algo real, nada de ‘outra dimensão’, é o mesmo espaço/tempo, com menos espaço e com mais tempo... juntos.
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