Meu pai, o homem mais correto que conheço, nunca havia me deixado dirigir. “Não vou te ensinar porque depois bate a coceirinha da vontade”, me dizia. Ele estava correto. Dirigir antes dos 18 anos é ilegal e o velho nunca concordou com nenhuma ilegalidade. Esta postura de meu pai me fez acreditar que nunca viria aprender a dirigir.
Já com 18 anos e em uma auto-escola, ainda não acreditava na possibilidade de um dia aprender a guiar um carro. Ter que mexer com as duas mãos no volante, mexer com os pés e, de tempos em tempos, mexer com um controle ao lado (o câmbio) me parecia impossível.
Além das dificuldades instrumentais, sempre fui convencido de que era muito descoordenado. Logo, o fracasso no intento era iminente. “Não aprenderei a dirigir”, decretei.
Com o passar dos dias, enfrentei o desafio. Comecei a pegar o jeito e em 10 dias estava dirigindo razoavelmente. Isso já faz 10 anos e tirei minha habilitação sem grandes dificuldades.
Nesta oportunidade, não apenas ganhei minha CNH, mas um legado para a vida toda. Quantas vezes a gente acredita que não vai dar conta de fazer algo e, tempos depois, nos vemos habilitados para tal ação.
Depois desta simples e paradigmática conclusão, alguns desafios começaram a ser encarados de forma diferente. Sei que estou longe de ser um exímio motorista – os motociclistas que o digam –, mas até que me viro bem.
Outros desafios que acreditava nunca transpor era o de escrever com qualidade, ter uma boa formação acadêmica, estudar inglês e por ai vai...
Ao olhar a seleção para o doutorado em Comunicação na UnB, tive a mesma sensação de quando via os carros passarem na rua, aos meus 17 anos: não vou conseguir.
As sensações falam alto em nossos ouvidos, repetem frases de censura do passado, enumeram nossas dificuldades, esfregam em nossa cara as nossas limitações.
Não me importa, vou tentar!
Prefiro me concentrar na sensação que vem depois das vitórias e das aprovações. É uma estratégia chamada linha do tempo. Eu me transporto para a sensação que vem depois.
Caso não consiga ser aprovado, tudo bem. Tento novamente em momento oportuno, até conseguir. Mas para isso, tenho de parar de ficar divagando em meu blog e sistematizar um projeto.
Bom, eu vou lá. Vou tentar, e você?
1 comentários:
Essa tal frase recorrente do "não vai dar certo pra mim"... Por que será que às vezes insistimos em achar que os outros têm super poderes e super tempo disponível? Por que será que tendemos a achar que o sucesso do outro é iminente tanto quanto o nosso fracasso, né?! Um viva aos flashes de otimismo que ainda cercam nossa mente e um viva maior ainda para os momentos que conseguimos agarrá-los e acreditar em nós mesmos. Se o "pra sempre sempre acaba" o 'nunca' deve ter o mesmo destino! Abs, Pael! =)
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