Discurso da sustentabilidade: fragilidade e desconfiança
Mesmo amplamente favorável a uma profunda modificação em nossos modos de produção e ciente de que o desenvolvimentismo atual nos aproxima da finitude, ainda não fui convencido pelo discurso da sustentabilidade.
A fragilidade deste debate reside na consciência filosófica de que o ser humano, segundo os filósofos da comunicação Vílem Flusser e Ivan Bistrina, produzem, a partir da natureza, uma outra tipologia de coisas que denominamos cultura, desta forma, dividimos aquilo com o qual nos relacionamos nestas duas classificações: natureza e cultura.
Fazendo um mergulho ainda maior, podemos subdividir a classificação cultural em sistemas como: mitologia, religião, arte, utilidades práticas, dentre outras. Porém, Flusser identificou que a cultura ainda é transformada novamente pelo ser humano, e este subproduto é o lixo.
Flússer defende um conjunto de saberes que se especializa para estudar este lixo, exemplo disso é a arqueologia e a antropologia – estudam o lixo do passado – e a psicologia, que estuda nosso lixo interno. O que os autores que me embasaram para escrever este texto não apontam, e não o fazem porque ainda não existe, é uma saída para resolver este subproduto acumulativo.
Percebendo que existe um terceiro reino das coisas, além da natureza e a cultura, o lixo, e que este só se faz acumular, não volta para a natureza e foi expulso da cultura, podemos vislumbrar um futuro poluído até agora. Acredito que nossas especulações podem tardar este futuro, mas não resolvê-lo.
Esta não é uma percepção recente, quando criança, não conseguia acreditar nas frases de efeito do “Capitão Planeta”, em um desenho animado da época. Era muito novo, não tinha embasamento nenhum, apenas sensações e assim não me sentia convencido de nada.
Há algumas semanas, em um importante colóquio, na mesa de um bar, um colega professor da Universidade Federal do Amazonas afirmou: “a sustentabilidade apenas se sustentará quando o homem começar a comer seus próprios excrementos”, obviamente com o intuito de chocar, o docente não está errado, o nosso lixo não tem lugar.
Reitero de que esta é uma discussão filosófica e que, das tentativas de solução, possam surgir discursos com mais musculatura, porém, na atualidade, estamos apenas empilhando, coisas em cima de coisas.
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