Há alguns anos, fui convidado para fazer parte da coordenação de uma campanha política no nordeste do País. O renomado, sério e intelectual Secretário de Estado iria concorrer a única vaga ao Senado, que estava sendo disputada naquele ano. Apesar da fraca concorrência, sua campanha não deslanchava.
Apesar de já experiente, o político participava da campanha com a energia de uma criança, não se cansava, viajava por todos os cantos do Estado, por onde ia, conquistava eleitores por sua vida ilibada e por seu carisma de homem bom. Com o passar do tempo, consegui identificar o que estava limitando a conquista da vitória, mas já era tarde de mais.
Na intimidade, conversando amenidades, percebi uma profunda tristeza e uma repetição temática, todas as vezes que conversávamos, o nosso “senador”, murchava ao falar de um antigo assessor, pelo qual fez de um tudo para que ele fizesse parte deste projeto político, mas o “ingrato resolveu se meter com uma parte obscura da política e foi convidado a se retirar da campanha.”
A coordenação da campanha agiu corretamente, retirou-o da campanha, mas emocionalmente, nosso candidato não conseguia se desligar do assunto, não conseguia mudar de pauta, avançar... acabamos perdendo a eleição.
No ano passado, um grande amigo meu, em diversos encontros, almoços, jantares e reuniões, também apresentava uma repetição temática, por vezes cansativa. No caso deste jovem e vaidoso rapaz, a grande dúvida estava entre dois amores, o primeiro era um caso antigo, uma ex-namorada que sempre se deram bem e juntos realizaram as maiores loucuras. Esta mulher era impressionante, bem sucedida, empreendedora, ativa, uma visionária de sucesso.
Mas a segunda sim era amor mesmo, uma mulher tranqüila, séria e honesta, concursada, com sonhos mais modestos, porém apresentava como pontos positivos a estabilidade psicológica e a segurança dos pés no chão. Todas às vezes, nós nos encontrávamos, fazíamos uma lista de pontos positivos e negativos de ambas.
Foi em um almoço que, pela vigésima vez, ele apresentava as suas indecisões, no entanto, este dia foi diferente, ele me perguntou: “O que devo fazer?”
Com a possibilidade de tecer minha opinião ofertada pelo questionamento, contei a ele a história de meu candidato ao Senado que não prosperou, fiz isso para introduzir o assunto: “o que eu quero que você faça é mudar de pauta”.
“Você é um homem brilhante, com opiniões fortes e com um grande sucesso com as mulheres. É um advogado que, apesar de não estar exercendo a profissão, obviamente faria muito sucesso se abrisse um escritório. Posso estar parecendo grosso e radical, caso eu seja mal interpretado, me questione e eu me defendo, mas não vou mais conversar sobre estes seus relacionamento que estão empatando sua vida, apenas conversarei com você sobre seu futuro escritório de advocacia.”
Tive tempo hábil, ao contrário de meu candidato do começo da história, para esse meu amigo, o diagnóstico funcionou. Ele focou em sua vida profissional, casou-se com o verdadeiro amor e está super feliz.
Não sei se ele será feliz para sempre em sua vida afetiva, mas tenho certeza que hoje ele tem uma outra forma de se realizar também: a vida profissional.
Esta estratégia, mudar de pauta, herdei de meus estudos em marketing político, “nunca devemos ser pautados por ninguém, nem por nada, temos que criar as nossas pautas.” Se na política, nosso adversário nos pauta, nos faz ficar na defensiva, respondendo a questionamentos, com isso a gente perde tempo, dinheiro, energia e a eleição.
Na vida não é diferente, não podemos nos deixar nos pautarem, temos que construir nossas próprias pautas, contudo, quando, inevitavelmente estamos presos a uma pauta que nos limita, temos que mudá-la, transformá-la, investir em outro assunto.
Você, neste momento, está preso em uma pauta que está te impedindo de ganhar a eleição? Mude de pauta.
4 comentários:
Esse texto retrata bem o que estou passando nesse momento tanto na vida afetiva quanto profissional.
Parece simples falar mude a pauta: busque outros caminhos.
Eu que me considero uma pessoa super otimista, sempre motivo as pessoas, quando estão passando por algum problema que atrasa a vida. Aconselho a mudar o foco, visualizar outro objetivo, traçar novas metas. Que você consegue sair do embaraço que tanto atrapalha a vida.
O difícil mesmo é quando o problema bate a nossa porta. Essa indecisão, a incerteza se vale a pena ou não mudar de situação. É nessa hora que começamos a ver que não é tão fácil mudar a pauta. Talvez por medo de encarar o novo, a acomodação do antigo, a sensação confortável que a situação nos transmite nos leva a essa dúvida.
O bom de ler agora o seu texto é que realmente dá para seguir outras rotas de fuga, focar mais no profissional e se preocupar menos com outras que hoje nos atrapalha. Acho que a palavra seria descomplicar o que nós mesmos escolhemos complicar.
Na vida nunca podemos deixar que a perda de uma batalha nos leve a derrota de achar que perdemos a guerra!
Luciana Andrade
Queria poder seguir a risca tudo que voce escreve...
Seria ótimo.
Adriana Keyla.
Excelente ponto de reflexão! o/
Nunca leio os teus textos quando você os publica. Mas de vez em quando dou uma passadinha aqui para saber o que você anda escrevendo. Toda vez, os textos me fazem refletir e ter mais força para enfrentar os obstáculos. Realmente estou precisando trocar de pauta.
NUNCA deixe de alimentar esse blog, viu?! Parabéns!!!
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