sexta-feira, 10 de junho de 2011 | By: Rodrigo Pael

Das responsabilidades


Aconteceu em Mato Grosso do Sul, claro. Em uma madrugada, há alguns anos, o Governador André Puccinelli, então prefeito da Capital, Campo Grande, ordenou – “ranque os trilhos do meio da cidade”. O prefeito da época sempre se baseou em pesquisas e, uma especificamente, indicava que 70% da população  da capital morena queria a retirada dos trilhos. As alegações eram as mais diversas: “atrapalha o trânsito”, “estraga os amortecedores do carro”, e por ai vai.
Porém, o que a maioria da população campo-grandense desconhece, ou ignora, é que a cidade onde nasci, cresceu em volta dessa linha férrea. Cada dormente daqueles, cada madeira de lei – não sei onde se encontram na atualidade – além do valor econômico, também tinham um valor cultural inestimável.
No dia seguinte da retirada dos trilhos, o secretário de cultura do Estado, que não me lembro o nome agora, esbravejou em uma rádio da capital: “Os trilhos foram retirados, isso é um absurdo, alguém tem que fazer alguma coisa”.
“Alguém tem que fazer alguma coisa”. Esses dias, estava dando aula, e uma aluna muito querida chegou atrasada e justificou a situação com um discurso enérgico e forte. Empolgante.  Ela reclamava da ausência de estacionamento para estudantes, da falta de iluminação no local onde estacionou o carro e da segurança pública no DF. E, para finalizar soltou esta: “Alguém tem que fazer alguma coisa”.
Uma frase puxou a outra e as duas histórias explicitaram uma mesma dificuldade: o distanciamento de nossas responsabilidades como coletivo, como um todo que forma o espírito público.
Na primeira história, quando o secretário de cultura evidenciou que alguém tinha que fazer alguma coisa, com toda certeza, esqueceu de sua militância nos movimentos culturais e do papel hierárquico que ocupava ha época. Quando minha aluna, com a energia que lhe é peculiar, discursou em sala, talvez não tenha se atentado que, na faculdade onde estuda, não tem um diretório central dos estudantes e nenhum centro acadêmico, algo que prego tanto, por já ter participado do movimento estudantil.
Temos que ter muito cuidado quando proferimos a frase: “alguém tem que fazer alguma coisa”, por vezes estamos eclipsando a nossa responsabilidade sobre aquilo. Sempre digo que, em cada momento de crise que vivemos, temos que refletir qual é a nossa responsabilidade sobre o que ocorreu, por mais que seja nenhuma.  É por meio desta avaliação que tomamos rédeas das coisas.
Imaginem se o secretário realizasse uma ação política para preservar o patrimônio da Capital de meu Estado? Imaginem se esta minha aluna eternizasse seu nome, na Instituição que estudou, fundando o diretório central dos estudantes?
Acredito que o nascedouro dos grandes feitos está na indagação de qual é nosso papel em uma demanda coletiva, como posso fazer mais?
Bom, essas oportunidades passaram, não deixemos as próximas passarem também.

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