sexta-feira, 24 de junho de 2011 | By: Rodrigo Pael

Das revistas femininas aos blogs balzaquianos

Em 30 ou 40 anos, as pesquisas em comunicação estarão abordando um tipo de conteúdo midiático que está fazendo muito sucesso nos últimos anos: os blogs escritos por mulheres com aproximadamente 30 anos. Sendo assim, já antecipo minhas superficiais impressões.
Como todo olhar crítico, as revistas femininas das décadas de 60 e 70, que traziam em suas páginas uma religiosa pregação da relação da mulher com sua casa e, por conseguinte, com seus filhos e maridos, as publicações das décadas seguintes começaram a libertar a mulher para uma relação de amor com um homem. Depois, com as descobertas da medicina, começaram a ensinar a mulher a ter prazer na relação sexual, até chegarmos aos dias de hoje.
Atualmente, a relação da mulher com as coisas, retratada pelos veículos de comunicação, está no ápice de uma escalada da abstração. Se em determinado momento a relação era com o gigantismo do lar, depois passou a ser uma relação de amor e, logo em seguida, um ligeiro encontro com si mesma. Agora, a moda é uma relação que não é sexual, mas quase sem o sentido do toque apenas possibilitado pela intimidade. Chegou o momento de uma relação genital.
Percebo as jovens se encantando com os textos fáceis, ligeiros, quase que poéticos sobre relações, por vezes promíscuas – não quero parecer conservador – retratadas em blogs de mulheres que atingiram um bom nível de reflexão de suas experiências, mas se esquecem do fator individualidade.
É fundamental termos responsabilidade com o que colocamos na rede mundial de computadores. Às vezes, experiências íntimas ganham o poder de bandeiras a serem erguidas ou frases de efeito a serem bradadas. Acredito que estes novos meios estão eclipsando a individualidade, aprisionando as mulheres a um comportamento aparentemente festivo e leve, mas que não é diferente do modismo das mulheres retratadas nas revistas femininas.
Certamente é válido saber como esta ou aquela balzaquiana agiu em determinada situação sexual. Provavelmente podem vir a serem experiências edificantes, mas apenas cada um e cada uma “sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Nada mais extremo, fascinante, diferente, avassalador, erótico, incrível e libertário que uma relação de amor em si e nas suas particularidades.
Reitero meu desejo de não parecer conservador. Na verdade, o que me cansa é a repetição do mesmo. Existem vários blogs com o mesmo perfil atraente de mulheres com cerca de 30 anos, que viveram diversas experiências e que contam, com um texto ligeiro, como é legal enxergar os momentos delas como elas os enxergaram.
Acredito que ler é sempre válido, mas não busque em nenhuma leitura uma saída, um estratagema para as relações. Temos todo um histórico de relações, contendo erros, mas também acertos. Quem deve julgar como proceder e, efetivamente, executar, é você mulher moderna.
Faço este recorte por perceber a surpresa das mulheres, assíduas na leitura de determinados blogs, encontrarem uma felicidade extrema em comportamentos que julgavam antiquados ou que nunca fariam. Seja sempre esta ebulição da complexidade que é só sua.

16 comentários:

Giorgia Barreto L. Parrião disse...

Muito bacana, Pael. Adorei!

Cleide Portela disse...

Parabéns pelo texto Pael. Gostei do seu ponto de vista em relação as mudanças ocorridas tanto nas revistas, quanto no público a qual se destinam: mulheres "modernas". Acredito que algumas coisas podem ser chamadas evolução, mas outras não passam de hedonismo mesclado com auto satisfação.

A mulher moderna não deveria ser aquela que a busca incessantemente pertencer a um padrão, deixando ser dominada. Na verdade, aprendi que foi pelo contrário que sempre lutaram: liberdade.

De certa forma que esse padrão imposto pelas mídias e também por alguns homens, visando nos moldar a um tipo ideal, tem atingido seu objetivo e satisfeito algumas pessoas - senão não teria continuidade. Mas por outro lado, existem mulheres realmente modernas que não são dependentes de uma imposição, não se prendem a experiências alheias e que fazem a sua história.

Como você disse acima "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é" e eu concordo plenamente: as mulheres, são únicas! Ninguém pensa, fala, sente ou faz igual. Em cada mulher há um mistério: o prazer está em descobri-las e o segredo em serem descobertas.

E assim como expôs seu desejo: "Nada mais extremo, fascinante, diferente, avassalador, erótico, incrível e libertário que uma relação de amor em si e nas suas particularidades.", quero mais uma vez concordar, sem exceções, nem acréscimos.


Abraços.

Anônimo disse...

“Seja sempre esta ebulição da complexidade que é só sua”...
Fantástico, Rodrigo! É tão importante o olhar aguçado para perceber a beleza das particularidades. O despertar da consciência de que cada história de vida é interessante, única e bela.

Já te falei, me encantei com este texto. Provavelmente pela identificação com o tema, mas também pela sua capacidade, ou mesmo sensibilidade, de expor suas “superficiais impressões”.

Claro, objetivo, provocador... A leitura foi uma delícia.

Malu Mourac disse...

"Nada mais extremo, fascinante, diferente, avassalador, erótico, incrível e libertário que uma relação de amor em si e nas suas particularidades"

adorei querido amigo
O texto e gostoso, agradável e fala de um sentimento que por muitas vezes me peguei sentindo...
Esses blogs retratam momentos da vida dessas balzaquianas com muito glamour, mas o que lhe aconteceram até chegar a esses momentos?
Pra mim a felicidade são momentos únicos na nossa existência, mas o que importam mesmo é o que vc faz entre um momento feliz e o próximo momento, e o caminho árduo que se percorre até o próximo momento de felicidade.
e cada um de nós temos que fazer os nossos próprios caminhos árduos...

Malu Moura

Ana Guimarães disse...

Pael, voce não parece conservador, você É! E assim mesmo, em Caps Lock. É um erro comum acreditar que apenas pessoas desinformadas ainda querem cercear a liberdade de expressão ou, o que é pior, a liberdade em si. Que as mulheres queiram dividir suas experiências, sejam elas amorosas, sociais, eróticas ou mesmo genitais (termo muito carregado e preconceituoso, inclusive), acho mais que válido, acho digno e transformador. Que um professor de comunicação, em pelono século XXI, use tantos eufemismos para continuar defendendo o que as mulheres possam/devam fazer é triste, isso sim é triste. Fico profundamente sentida.

Anônimo disse...

Creio que a Ana Guimarães não entendeu o que você quis passar com seu texto, diferente das outras mulheres que comentaram neste espaço e até em outros meios virtuais.
Não percebi, nele, eufemismo para ditar comportamentos feminisnos. A ideia passada é justamente contrária. O que se buscou foi lançar reflexões para que as mulheres (principalmente) percebam e desfrutem da liberdade que possuem, não apenas em leituras virtuais, mas em suas próprias vidas. Você não falou em "pessoas desinformadas", mas em mulheres modernas, que trabalham, estudam, conseguem embasar pontos de vistas com propriedade, mas ainda assim se deliciam no desfrute de experiências alheias, sem reflexão.

O posicionamento da Ana Guimarães deve ser respeitado, mas acredito que se o objetivo dela era apenas criticar, deveria ter lido o texto, ao menos, com mais atenção.

Letícia disse...

Concordo com a Ana. Na tentativa de desmistificar o comportamento feminino/balzaquiano em relação à comunicação e seus meios, Pael acabou por colocar no cerne da discussão nada mais do que a liberdade de expressão, em um texto de tom conservador, machista e pasteurizado. Se a repetição do mesmo cansa, é mais fácil parar de ler do que criticar quem escreve.

Ana Guimarães disse...

Pessoal, segue a opinião de uma amiga que teve dificuldade em postar o comentário.

A tipologia temporal das revistas ditas femininas apresentadas por ele no início do texto não faz o menor sentido: na segunda fase, que revistas são essas que ensinavam "a libertar a mulher para o amor com um homem? E que papo é esse de avanço da medicina ensinando as mulheres a ter prazer? O que ele quer dizer? Ele viu na capa da Nova alguma manchete sobre o ponto G e acha que isso significa a contribuição da medicina? Que bobagem... Já que o autor preza a erudição, há uma diferença entre representação do conhecimento biomédico e as descobertas da ciência ocidental propriamente ditas - não quero parecer prepotente, mas há toda uma discussão sobre a linguagem e apropriamento das categorias científicas e seu uso como marcação de autoridade que é bem interessante (sugiro Bruno Latour, para começar)

O que significa a "abstração" que ele atribui à relação entre as mulheres e as coisas, retratadas pelos veículos de comunicação? Ele defende que há uma relação distinta de homens e mulheres com o bombardeio midiático? E o das mulheres ele nomeia como abstrato? O dos homens é o que nesse caso? Concreto ou pragmático - conforme a apresentação do perfil. O que ele sente é concreto, objetivo e mantém uma correspondência com o real. Já as mulheres tem uma relação abstrata com as informações midiáticas? Para completar, ele exemplifica a crescente abstração que nos acomete: da responsabilidade com "o gigantismo do lar" (1ª fase), passa pelo "amor ao seu único homem" (2ª fase) e, hoje, "o encontro consigo mesma" (3ª fase). Nesse ponto há uma contradição, pois a relação sexual / genital é abstrata porque reflexiva! Uau! Nossa! Que torção no argumento! Há estudos interessantes sobre comunicação de massa que justamente analisam as posições objetais e desejantes e sua indiferenciação com o gênero. Indico um bom texto do Stuart Hall (crítico cultural e teórico da comunicação) que analisa o olhar e o desejo nas propagandas.

Tambeḿ não entendi o que ele diferencia como "bom nível de reflexão de suas experiências, mas se esquecem do fator individualidade". Que frase vazia é essa? O confessional ou reflexivo dos blogs de mulheres que escrevem sobre suas próprias experiências carece de individualidade? Não é uma contradição em termos? Escrever sobre as próprias experiências carece de individualidade? Pensei, pensei e acho que entendi: é porque as mulheres estão mais ligadas a moda, então os seus textos estão pautados por uma moda (que vem das revistas ditas femininas); já os blogueiros homens que escrevem sobre sucesso profissional, mobilidade ascendente, aconselhamento profissional, sobre a própria família, sobre suas perspectivas sobre o casamento, religião ou a mulher ideal (como no caso do post em que ele aconselha um amigo a escolher a mulher estável, tranquila e "concursada" ao invés da aventureira "com quem viveu loucuras") não é moda, não é influenciada por um tempo, por um presente histórico ou relacionada a posicionalidade dele no mundo? Quanta ingenuidade...

Resumo: há a verdade e a ilusão. A primeira porta o autor que se apresenta como "taurino, católico, de esquerda, corintiano, comum, conservador, apaixonado, militante, jornalista, professor, pragmático". E a ilusão está conosco, que insistimos "em buscar estratagemas", conforme ele nos alerta.

Ai, ai, que preguiça!

Tatá disse...

Integralmente de acordo com Ana Guimarães e sua amiga, que flagram a superficialidade da argumentação do autor.

Ao professor, recomendo a leitura atenta desses comentários. Se quer pensar as revistas e blogs que chama de femininos, informe-se.

Professoras, somos muitas!

Clarinha disse...

Vamos lá: não é só gente sem educação formal e/ou pobre que tem preconceito. Tá cheio de professor machista ditando como as mulheres devem ser, como devem agir. Chega disso.

Danilo Almeida disse...

Quero manifestar primeiramente que, por mais que tentasse não entrar neste debate, não resisti, tamanha a quantidade de comentários a favor e contra o post do Pael. Seguem as minhas impressões sobre este debate.
Na verdade, não vi crítica a quem escreve e sim uma orientação quanto às mulheres terem filtros em relação ao que lemos em determinados blogs. Importante ressaltar que, por se restringir apenas a blogs de mulheres, o tema, em sua essência, torna-se polêmico. Talvez se houvesse referências a blogs com o mesmo perfil voltado para homens (que possuem piadas preconceituosas e, estes sim, machistas) o impacto em relação aos filtros individuais não teria a mesma força.
Claro, a questão do filtro é muito relativa, vai de um conjunto de experiências individuais de cada ser humano. Como você pode ver acima, a mesma quantidade de comentários que concordam com o ponto de vista do autor iguala-se ao número de comentários contrários.
Uma observação importante é que, nas décadas de 1930, 1940, 1950, por exemplo, às quais o autor do post se refere, os editores de revistas femininas no Brasil eram, em sua maioria, homens e, bem sabemos que, naquela época, a sociedade era carregada de preconceitos em relação ao papel das mulheres, cujas atividades profissionais predominantes eram nada mais do que extensões dos afazeres domésticos, além de magistério e enfermagem, por exemplo.
Seguem alguns trechos extraídos do Jornal das Moças (que circulou no país até 1965). Nessa época, as publicações voltadas para o público feminino tinham o objetivo de ditar um dito “comportamento moralmente aceitável” às mulheres e dar-lhes “dicas” de como manter o relacionamento. Isto sim, absurdamente, um machismo escancarado:
“A desordem na casa-de-banho desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa”. (Jornal das Moças, 1945)

“A esposa deve vestir-se depois de casada com a mesma elegância de solteira, pois é preciso lembrar-se de que a caça já foi feita, mas é preciso mantê-la bem presa”. (Jornal das Moças, 1955)

“Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas”. (Jornal das Moças, 1957)”
Acredito que o autor se referia a este papel de ditadora de comportamentos assumido pela mídia. Mais informações sobre este jornal especificamente, que utilizei como exemplo, podem ser obtidas neste artigo de Nukácia M. Araújo de Almeida > http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem03pdf/sm03ss14_06.pdf
Lembro que, respeito e compreendo todas as colocações feitas até aqui. Todavia, concordo em parte. A questão deve passar por aí também: a compreensão e o respeito, mesmo que não concordemos. Por mais que a questão seja que determinadas colocações do autor pareçam machistas, não cabe-nos julgá-lo ou, de qualquer forma, denegrir sua imagem como um jornalista e/ou um comunicólogo, assim como todos os que utilizaram este espaço.
No espaço da www, por mais que seja enorme, sabemos que em posts devemos “resumir” nossos pensamentos a uma quantidade limitada de caracteres. O que pode ter acontecido neste caso, não podendo o autor explicar onde baseou cada linha, trecho, “palavra mais forte de seu texto”. Isto pode ter gerado um “impacto” negativo maior nos filtros de determinados leitores.
Pela atenção neste longo comentário, obrigado.

Pr_Ludyney_Olson disse...

Pael, conservador?? não... :) genial em seu conservadorismo...congratulations my best friend!
É como dizia o mestre:"...subi no muro do quintal e vi uma transa que nao era normal...e ninguem vai acreditar, eu vi duas muié botando aranha pra brigar..."

\o/ disse...

Eu também concordo com a Ana. O texto é preconceituoso, machista e conservador. Mulheres contarem suas experiencias sao promíscuas? Individualidade comprometida? responsabilidade em publicar o que pensa na internet? como assim? não entendi o subtexto? Claro que entendi. Individualidade é exatamente uma mulher dizer o que pensa, o que quer, onde quiser, sobre o que quiser sem ter um homem a dizer que está errado, que é "feio", promiscuo ou irresponsavel. reveja seus conceitos Pael e assuma-se conservador, que aliás está bem escrito em seu perfil... não finja-se outro para dizer o que vc de fato pensa. boa noite! Pietra Luña http://nasruasdebrasilia.blogspot.com/

Aline N. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aline N. disse...

Muito bom o texto! Confesso que cancelei a assinatura de uma dessas revistas "da mulher moderna" e antes disso enviei um e-mail até um pouco desaforado p/ a redação porque não aguentava mais abrir as páginas da revista todo-sando-mês e encontrar os mesmos assuntos sobre sexo, corpo perfeito, como ser uma super-mulher. E o pior é que a situação da maioria das mulheres nos relacionamentos, na vida sexual e afim não muda, parece que só piora... vemos mulheres em crises, ansiosas, inseguras, fazendo de tudo para agradar um homem a ponto até de expor o relacionamento a uma terceira pessoa na cama, como se fosse algo mais normal do mundo... mulheres que gastam mais tempo da vida dentro de uma academia em busca de um corpo perfeito do que em qualquer outro lugar... chega, né. Será que é preciso sermos bombardeadas o tempo todo (revista, tv, internet) com informações que muitas vezes não nos fazem tão bem?? Quando é que alguem realmente vai escrever algo que nos sirva de verdade??

DanielleLontra disse...

Pael, adorei como você abordou esse tema que gerou tanta polêmica! Apesar da conquista da revolução sexual alcançada pelas mulheres, elas continuam se queixando da temida solidão! A verdade é que as relações baseadas na quantidade só serviram para aumentar o buraco afetivo deixado por essas relações casuais. No fundo o que todo mundo busca, independente de ser homem ou mulher, é poder ter relacionamentos de qualidade com cumplicidade, com companheirismo, com amor! Daí surge o conflito: a sociedade de hoje tolera como aceitável relacionamentos do tipo tribalistas - "Eu sou de ninguém. Eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". Mas não ensina as mulheres como fazer para não se apegar no dia seguinte e querer mudar as regras do jogo já estabelecidas nesses encontros passageiros! bjs, Danielle Lontra

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