sábado, 4 de dezembro de 2010 | By: Rodrigo Pael

Não era apenas um café

Minha mãe anda freqüentando muito os meus textos, mas vamos lá...
Em um sábado de manhã, na casa de meus pais, acordei cedinho e fui deitar na cama de minha mãe, meu pai já havia acordado, e fazia sutis barulhos na cozinha, estava preparando nosso café. Fui deitar com minha mãe para aproveitar o carinho sem toque que é especialidade dela, mesmo assim, quando estou lá, me sinto amado.
Para minha frustração, ela já havia levantado, e por sinal já estava toda serelepe, em atividade, ‘á mil pelo Brasil’, como diz o outro. Mas por algum motivo se negava a sair do quarto, aproveitando, alertei a ela que meu pai já estava na cozinha e o café já deveria estar pronto, poderíamos ir até a cozinha, ajudá-lo e tomarmos o café todos juntos. Não, ela não queria, apesar de amplamente despertada, não queria sair daquele ambiente.
Minha mãe chegava duvidar de minha inteligência, era perceptível que não havia nada a fazer naquele quarto, não havia motivo aparente para estar lá... aparente.  Não mais que de repente, meu pai apareceu na porta, o sol e a claridade o seguiam nas costas, seu sorriso se confundia com aquela luz, porta branca, paredes verdes, café em uma pequena xícara nas mãos. Ambos, apesar de respeitarem minha intelectualidade , sorriam como se compartilhassem  algum segredo  e naquele dia especial, resolveram dividir comigo...
‘Este café tem que ser no quarto’, confidenciou minha mãe feliz. Um pequeno segredo de um casamento de mais de 3 décadas, um casamento feliz, mas não mistificado, um casamento normal, com problemas, erros e  acertos, um  verdadeiro exemplo, aparentemente já sendo seguido, um dia farei o mesmo.
Parece que naquela casa, acordar ainda é algo especial. Lembro-me com saudade de quando acordava ás 5 e meia da manhã, tomava banho, me arrumava para ir para a escola, pegava o meu som, entrava sorrateiramente no quarto do meu irmão e ligava o rádio na 104,7, tinha certeza que lá estaria tocando uma boa e tranqüila música para acordar, acho que ele gostava.
Meu irmão casou, ele e sua mulher fazem, em outra casa, um amanhecer especial, na casa de meus pais eu continuei, acordando cedo e depois do banho, meu café já estava pronto, minha mãe ainda dormia, até lanche para levar para o trabalho ainda  tinha, chá, manteiga no pão integral e caseiro  - obra de minha mãe, o melhor pão do mundo -  e lá ia eu trabalhar.
Tudo isso é saudade, faz mais de  um ano que cheguei em Brasília, atualmente meu amanhecer tem outros sabores, mas ainda há um gosto do acordar em Campo Grande nos braços de minha família latente em minha boca.

1 comentários:

Adriana Mesquita disse...

É engraçado, você parece uma pessoa muito dura, mas é nos seus textos que você deixa tranparecer que é alguém um tanto sensível. Gosto muito desse Paelito.

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