sábado, 20 de outubro de 2012 | By: Rodrigo Pael

O Capitalismo doutrina a nova classe média


Nos últimos 10 anos, o Brasil presenciou uma extraordinária mobilidade social com a ascensão de cerca de 40 milhões de pessoas, que saíram da linha da pobreza. Ao comemorar este feito, o capitalismo inicia a inserção desta nova classe média na escola que formou nossa elite exibicionista, preconceituosa e sem educação financeira.

Hoje, na hora do almoço, fui a um restaurante em uma região administrativa do DF e, ao pagar a conta, fui surpreendido pelo aumento do valor do quilo do alimento. Há um mês, o estabelecimento cobrava menos de R$ 40,00 pelo peso e agora cobra quase R$ 50,00. Mesmo com este crescimento, percebi que a fila para entrar no restaurante aumentou muito, assim como a espera para pagar o almoço. Ou seja, mesmo com essa inflação apenas vivida por este restaurante, o público, engrossado pela ascensão social, continua crescendo sem critérios e sem exigir a melhoria na qualidade dos serviços ofertados.

O valor do quilo não sofreu apenas um aumento abusivo, mas também está fora do contexto até mesmo se comparado a bons restaurantes da região central da Capital Federal. Quem vive e trabalha em Brasília sabe que com menos de R$ 50,00 poderá realizar uma refeição festiva em bons estabelecimentos. A comparação entre restaurantes pode ser realizada também em lojas de roupas, sapatos, utensílios domésticos, dentre outros. O capitalismo doutrina a nossa nova classe média para que ela reproduza os erros históricos de nossa elite.

A elite brasileira não é culta, mas sim metida e preconceituosa. Ela não se destaca, mas se separa, colocando obstáculos para uma maior interação, como se fosse diferente biologicamente de outras classes sociais. Sabemos hoje, por meio da imprensa estrangeira, que os ricos – chamados de burros nas linhas das reportagens – compram carrões de luxo três vezes mais caros que os vendidos nos Estados Unidos ou na Europa. Exibicionismo.

Os ricos do Brasil viajam para países sem saber a exata localização geográfica ou a história desses locais, leem pouquíssimo e produzem uma juventude sem limites – que abusa de álcool e de drogas (financiando a violência da periferia), amorais e hipócritas, que não se destacam na academia, não produzem o novo, sem assunto e sem planos, e assistem inerte as mudanças sociais.

O futuro que se avizinha é uma classe média muito semelhante a esses ricos, porém ainda pior, desmobilizada politicamente, formando uma massa amorfa dada a misticismos e desejosa por repetir a aparência, a gastança e os preconceitos da elite. Mesmo porque se revoltar com o preço de um restaurante por quilo “é coisa de pobre”.   
segunda-feira, 1 de outubro de 2012 | By: Rodrigo Pael

O Leilão da Virgindade e a falta de assunto


O mal da falta de assunto não acomete apenas a mídia, mas também a massa de jovens retratada por ela. Na noite deste domingo (30), em um programa jornalístico na rede Record, assisti o esforço hercúleo de um repórter tentando construir uma matéria razoável, ao entrevistar a jovem brasileira que resolveu leiloar a virgindade.

Como a pauta e a fama espontânea e efêmera da moça são alicerçadas pelo único evento do leilão, o que poderia tornar o vídeo interessante seria a possibilidade de a personagem ser alguém diferenciada, com uma causa ou um conteúdo diferenciado. Não foi o que aconteceu. A menina, que afirma nunca ter tido relação sexual, resolveu leiloar sua virgindade por falta de assunto.

A estratégia tem um apelo midiático, pois faz parte de um reality show que pretende cobrir a primeira relação sexual da brasileira, desde o cadastramento da moça no endereço eletrônico da promoção, até o final da experiência, que deve ocorrer dentro de um avião em trânsito para se evitar entraves legais.

Além do valor financeiro obtido pela “compra do produto” – como a própria personagem afirma –, os produtores receberão vultosas somas pela ideia, produção e cobertura do evento, sem ao menos ter que desembolsar para pagar a principal atração. A jovem, depois de desembarcar da aeronave, pelo que demonstrou no programa da TV Record, também desembarcará da atenção da mídia, relegada ao ostracismo de portais de notícias triviais menores.

A busca da moça é – pelo vazio em sua vida real – se transformar em imagem midiática na sociedade do espetáculo. Estamos na era da velocidade, da interatividade, dos emissores que são receptores e do carinho falso dos meios de comunicação. Porém, caso não consigamos sustentar a imagem, o regresso a falta de assunto pode ser danoso e patológico.