sexta-feira, 13 de maio de 2011 | By: Rodrigo Pael

Discurso da sustentabilidade: fragilidade e desconfiança


Mesmo amplamente favorável a uma profunda modificação em nossos modos de produção e ciente de que o desenvolvimentismo atual nos aproxima da finitude, ainda não fui convencido pelo discurso da sustentabilidade.

A fragilidade deste debate reside na consciência filosófica de que o ser humano, segundo os filósofos da comunicação Vílem Flusser e Ivan Bistrina, produzem, a partir da natureza, uma outra tipologia de coisas que denominamos cultura, desta forma, dividimos aquilo com o qual nos relacionamos nestas duas classificações: natureza e cultura.

Fazendo um mergulho ainda maior, podemos subdividir a classificação cultural em sistemas como: mitologia, religião, arte, utilidades práticas, dentre outras. Porém, Flusser identificou que a cultura ainda é transformada novamente pelo ser humano, e este subproduto é o lixo.

Flússer  defende um conjunto de saberes que se especializa para estudar este lixo, exemplo disso é a arqueologia e a antropologia – estudam o lixo do passado – e a psicologia, que estuda nosso lixo interno. O que os autores que me embasaram para escrever este texto não apontam, e não o fazem porque ainda não existe, é uma saída para resolver este subproduto acumulativo.

Percebendo que existe um terceiro reino das coisas, além da natureza e a cultura, o lixo, e que este só se faz acumular, não volta para a natureza e foi expulso da cultura, podemos vislumbrar um futuro poluído até agora. Acredito que nossas especulações podem tardar este futuro, mas não resolvê-lo.

Esta não é uma percepção recente, quando criança, não conseguia acreditar nas frases de efeito do “Capitão Planeta”, em um desenho animado da época. Era muito novo, não tinha embasamento nenhum, apenas sensações e assim não me sentia convencido de nada.

Há algumas semanas, em um importante colóquio, na mesa de um bar, um colega professor da Universidade Federal do Amazonas afirmou: “a sustentabilidade apenas se sustentará quando o homem começar a comer seus próprios excrementos”, obviamente com o intuito de chocar, o docente não está errado, o nosso lixo não tem lugar.

Reitero de que esta é uma discussão filosófica e que, das tentativas de solução, possam surgir discursos com mais musculatura, porém, na atualidade, estamos apenas empilhando, coisas em cima de coisas.

segunda-feira, 9 de maio de 2011 | By: Rodrigo Pael

Na vida, às vezes, é preciso mudar de pauta

Há alguns anos, fui convidado para fazer parte da coordenação de uma campanha política no nordeste do País. O renomado, sério e intelectual Secretário de Estado iria concorrer a única vaga ao Senado, que estava sendo disputada naquele ano. Apesar da fraca concorrência, sua campanha não deslanchava.
Apesar de já experiente, o político participava da campanha com a energia de uma criança, não se cansava, viajava por todos os cantos do Estado, por onde ia, conquistava eleitores por sua vida ilibada e por seu carisma de homem bom. Com o passar do tempo, consegui identificar o que estava limitando a conquista da vitória, mas já era tarde de mais.
Na intimidade, conversando amenidades, percebi uma profunda tristeza e uma repetição temática, todas as vezes que conversávamos, o nosso “senador”, murchava ao falar de um antigo assessor, pelo qual fez de um tudo para que ele fizesse parte deste projeto político, mas o “ingrato resolveu se meter com uma parte obscura da política e foi convidado a se retirar da campanha.”
A coordenação da campanha agiu corretamente, retirou-o da campanha, mas emocionalmente, nosso candidato não conseguia se desligar do assunto, não conseguia mudar de pauta, avançar... acabamos perdendo a eleição.
No ano passado, um grande amigo meu, em diversos encontros, almoços, jantares e reuniões, também apresentava uma repetição temática, por vezes cansativa. No caso deste jovem e vaidoso rapaz, a grande dúvida estava entre dois amores, o primeiro era um caso antigo, uma ex-namorada que sempre se deram bem e juntos realizaram as maiores loucuras. Esta mulher era impressionante, bem sucedida, empreendedora, ativa, uma visionária de sucesso.
Mas a segunda sim era amor mesmo, uma mulher tranqüila, séria e honesta, concursada, com sonhos mais modestos, porém apresentava como pontos positivos a estabilidade psicológica e a segurança dos pés no chão. Todas às vezes, nós nos encontrávamos, fazíamos uma lista de pontos positivos e negativos de ambas.
Foi em um almoço que, pela vigésima vez, ele apresentava as suas indecisões, no entanto, este dia foi diferente, ele me perguntou: “O que devo fazer?”
Com a possibilidade de tecer minha opinião ofertada pelo questionamento, contei a ele a história de meu candidato ao Senado que não prosperou, fiz isso para introduzir o assunto: “o que eu quero que você faça é mudar de pauta”.
“Você é um homem brilhante, com opiniões fortes e com um grande sucesso com as mulheres. É um advogado que, apesar de não estar exercendo a profissão, obviamente faria muito sucesso se abrisse um escritório. Posso estar parecendo grosso e radical, caso eu seja mal interpretado, me questione e eu me defendo, mas não vou mais conversar sobre estes seus relacionamento que estão empatando sua vida, apenas conversarei com você sobre seu futuro escritório de advocacia.”
Tive tempo hábil, ao contrário de meu candidato do começo da história, para esse meu amigo, o diagnóstico funcionou. Ele focou em sua vida profissional, casou-se com o verdadeiro amor e está super feliz.
Não sei se ele será feliz para sempre em sua vida afetiva, mas tenho certeza que hoje ele tem uma outra forma de se realizar também: a vida profissional.
Esta estratégia, mudar de pauta, herdei de meus estudos em marketing político, “nunca devemos ser pautados por ninguém, nem por nada, temos que criar as nossas pautas.” Se na política, nosso adversário nos pauta, nos faz ficar na defensiva, respondendo a questionamentos, com isso a gente perde tempo, dinheiro, energia e a eleição.
Na vida não é diferente, não podemos nos deixar nos pautarem, temos que construir nossas próprias pautas, contudo, quando, inevitavelmente estamos presos a uma pauta que nos limita, temos que mudá-la, transformá-la, investir em outro assunto.
Você, neste momento, está preso em uma pauta que está te impedindo de ganhar a eleição? Mude de pauta.