sábado, 26 de fevereiro de 2011 | By: Rodrigo Pael

Aos meus queridos afilhados de casamento...

Nos últimos dois anos, fui convidado para ser padrinho de quatro casamentos, três já aconteceram: Samara e Cícero construíram uma bela história e hoje me enchem de orgulho com a beleza de seu lar; já no casamento de meu ex-aluno Elizeu e sua atual esposa Priscilla, tive a honra de participar de uma encantadora cerimônia; no final do ano, serei padrinho de um casal de noivos que se conheceram em uma inusitada ocasião, e eu estava lá...
Mas do último casamento que participei, Wolney e Marina me conquistaram por, além de me convidar para ser padrinho, me cobraram uma conversa séria e madura sobre matrimonio. Quem sou eu para dar conselhos sobre casamento? Deste assunto, conheço apenas teoricamente.
Pela distância geográfica, não pude dialogar com ambos sobre o enlaço matrimonial, por isso estou utilizando este espaço para registrar minhas particulares impressões sobre a escolha de uma vida a dois. Sou fruto de um casamento de mais de três décadas e quem observa meus pais juntos, viajando para lá e para cá, sempre juntos, me questiona: ‘sempre foi lindo assim?’
Nos últimos 50 anos, uma forma de construção de lógica está cada vez mais roubando o espaço de nosso repertório cultural – experiências, crenças, vivências, sensações e construção filosófica -, atualmente nossa avaliação da realidade é mistificada pelas histórias da televisão. Falamos como se fala nos telejornais, sonhamos como se sonham nas novelas, nos relacionamos como se relacionam no ‘Caldeirão do Huck’, rezamos como orienta os padres e pastores que povoam os canais de TV,  conversamos como se estivéssemos em uma entrevista com o Jô Soares e nos emocionamos de maneira tão verdadeira como faz o Gugu, em seu Programa de auditório.
Para os mais apegados a realidade, e aos pessimistas, a vida é um pouco diferente, ora eles já perceberam que as rédeas da vida estão unicamente nas suas mãos, ora estão começando a se incomodar com uma série de situações onde os desfechos não são finais felizes para sempre, estão sentindo que a mística televisiva se baseia na realidade, mas não a reproduz.
No casamento não é diferente, aquelas imagens de jovens se casando, sarados, belíssimos, onde os movimentos são sincronizados e a química é perfeita, nem sempre acontece nos casamentos da vida real, às vezes a blusa prende e não sai, a agilidade não é a de um acrobata. Às vezes caem da cama, às vezes batem o dedinho do pé na quina da parede, às vezes o que era para ser um musical da Brodway é apenas o cotidiano.
As pessoas que se casam são reais e humanas e, por mais que queiram, não são personagens. Acredito que a maior lição que aprendi observando os casamentos de sucesso foi essa, a não mistificação do relacionamento, existe sabedoria de quem faz esta escolha, mas está escolhendo algo real, nada de ‘outra dimensão’, é o mesmo espaço/tempo, com menos espaço e com mais tempo... juntos.
sábado, 19 de fevereiro de 2011 | By: Rodrigo Pael

Comunicação Organizacional I: O segredo era água

Em determinada época de minha vida, fui convidado a trabalhar na área de comunicação de uma empresa de grande porte. A organização era de sucesso e consolidada no mercado, mas percebia que algo impedia o seu crescimento vertiginoso, porém, mesmo assim, gradativamente, sua força e influência ganhavam musculatura.
Articulado que sou, aproximei-me, e até fiz amizades pessoas, com os principais dirigentes dessa Instituição. Com o passar do tempo e as distâncias geográficas, infelizmente, perdi contato com pessoas que aprendi muito. Os encontros com esses chefes/amigos tinham as mais variadas pautas, de religião à política organizacional.
Foi desta forma que presenciei, dentre outras situações, oportunidades perdidas de grandes negócios e a ausência de ânimo para enfrentar desafios, mas o que mais me chamava à atenção eram as deficiências comunicativas, em especial, a comunicação interna, gerencial e administrativa.
No que tange a comunicação social, esta empresa se sagrava exitosa, mas internamente, ‘feudos’ e a ‘rádio peão’ atrapalhavam avanços importantes. Atualmente, estou cada vez mais interessado nos assuntos de gestão estratégica da comunicação organizacional e, um livro especificamente, fez lembrar-me desta instituição que trabalhei. O livro é ‘Tratado de Comunicação Organizacional e Política’, de Gaudêncio Torquato.
Na obra de professor Torquato, estou tendo contato com a história da Comunicação Organizacional, com conceitos de fluxo de comunicação interna, vertical - descendente e ascendente -, horizontal e diagonal, além de comunicação cultural, social e administrativa. Com essas teorias é possível se diagnosticar falhas nos processos comunicativos.
Uma das limitações que ocorrem nas grandes empresas é a retenção de informação descendente com o objetivo de conservação no poder. Em nível hierárquico, geralmente gerentes, que estão no meio da comunicação entre patrões e o ‘chão das fábricas’, impedem que a comunicação flua, segurando para si detalhes de acontecimentos para valorizar a informação que tem. Este mecanismo apresenta como conseqüências o descontentamento dos funcionários, gera fofocas e esquenta o clima interno da empresa.
A Instituição que eu trabalhava tinha uma sede administrativa muito bonita, branca, grande, com obras de artes belíssimas, um saguão que lembrava naves de catedrais clássicas, mas sem os afrescos. Do dia para noite, na madrugada, tamparam parte daquele belo saguão com uma imensa lona preta...
Daquela manhã em diante, muito se aventou sobre o que estava por trás daquela lona, ‘é uma cópia fiel da Pietá’, diziam uns, ‘é um novo departamento pessoal’, afirmavam os mais temerosos. A desconfiança era tanta, que até o pensamento de demissão em massa por causa da obra estava, sendo cogitado.
Não agüentando a pressão, fui levado, como líder informal da organização, a questionar sobre aquele imperioso mistério, aos meus gerentes, porém não obtive êxito. Nem a mim, que me julgava articulado, foi revelado aquele enigma. Por semanas, a principal discussão da empresa era “o que há por de trás daquela lona preta?”, nada mais se debatia, nem políticas de aumentar os lucros, novas promoções, o crescimento da empresa, não! Apenas: “O que há por de trás da lona preta?”.
Algumas semanas depois, o mistério foi ‘descortinado’, ‘deseclipsado’ e pudemos então presenciar o que estava lá e que ninguém podia saber: a instalação de um bebedouro novo...
Com a ausência da fluidez na comunicação, por vezes a Instituição pára, a espera do novo, e por vezes, o novo é uma besteira.