sábado, 25 de junho de 2011 | By: Rodrigo Pael

Sobre pais e filhos

Já faz algumas semanas, um grande amigo, que está vivendo uma oportunidade profissional excepcional, veio passar uns dias em minha casa. Por mais agradável que seja sua presença e por maior que seja nossa amizade, este gerente de negócios veio a trabalho. Suas atividades compreendem articulações políticas em Brasília e vistorias técnicas no Norte e Nordeste do País.
Tendo em vista suas atribuições, viagens e distância de casa estão se tornando cada vez mais cotidianas. Uma aventura muito atraente para um jovem empreendedor como ele, porém é casado e pai de uma linda menininha de menos de um ano. Pai de primeira viagem.
Em uma madrugada, percebi que meu amigo estava bastante incomodado e sentei com ele para conversar. Era isso mesmo. Ele me relatou quanta angústia o causava ficar longe de sua esposa e companheira e de sua filha. Afirmou que estava perdendo fases importantes do desenvolvimento da criança e que sua mulher estava tendo que arcar com tudo sozinha: “levar à creche, a médicos”. Com lagrimas nos olhos, o paizão me deu abertura: “O que fazer?”, me perguntou ele.
Nesta oportunidade, contei para ele como era a relação do meu irmão mais velho e a minha com nosso pai. Quando eu e meu irmão éramos pequenos, a rotina do meu pai era viajar, passava dias fora de casa. Meu pai é engenheiro agrônomo e o trabalho dele estava fora de nossa cidade, em cidades do interior, fazendas, assentamentos... Com o tempo, começamos a ir com ele. Que aventura! Não tomar banho no frio, nos enrolar em jornais quando o frio apertava ainda mais, estradas longas, comidas gordurosas.
Lembro de uma vez em que chegamos a um hotel tão ruim, que meu pai perguntou: “Que horas sai o café da manhã?” e a proprietária respondeu: “O senhor quer café da manhã?”.
Meu pai é aquele de quem eu menos falo em meus textos. Faço isso para protegê-lo, porque todos que o conhecem querem um pai como ele. Não faço elogios a ele, pois todos já os foram feitos. Minha cunhada diz que um dia meu irmão colocará um busto do meu pai no meio da sala, por tanta admiração. Meu pai é o homem mais honesto e correto com quem pude ter contato. Uns dizem que ele nasceu para ser político; outros para ser engenheiro agrônomo. Eu posso garantir que ele nasceu para ser pai.
Bom, voltando à história, na minha infância meu pai viajava muito, mas se eu disser que ele foi ausente um raio cairá sobre minha cabeça. Quando meu irmão nasceu, meu pai estava fazendo um curso na Colômbia. Deixou minha mãe com minha avó. Ele não podia perder a oportunidade de estudar ainda mais.
Meu pai tinha uma estratégia muito clara: quando ele estava em casa, ele era só nosso, brincava de lutinha para espantar o frio, jogava bola com a gente, dava catequese aos sábados pela manhã – um saco. Não me lembro de uma reunião de pais e mestres na escola que ele tenha perdido. Se acontecesse algo comigo na escola, a diretora Teruko, uma japonesa, já ligava para ele. Até hoje, se a Tia Bethe, a Tia Beló, ou a própria Teruko passarem por ele, vão cumprimentá-lo sorridentes.
Esta dedicação do meu pai não significava permissividade. Meu pai, com um olhar, recobrava a disciplina, não por medo, mas sim pelo respeito que temos a ele.
Sempre afirmei que educar uma criança é imputar pequenos traumas para que ela não faça algo errado. Meu pai fazia isso por meio de exemplo. Sempre sério e correto, nunca o vi furar um sinal vermelho, tratar alguém sem elegância, não ser devoto a minha mãe com todo amor e zelo.
Meu pai sabe bem a diferença entre qualidade de tempo e quantidade de tempo. Para ele, seus filhos merecem qualquer sacrifício, até mesmo a distância por alguns dias, para proporcionar a eles mais estrutura e, também, para ser um pai realizado profissionalmente.
Tenho neste exemplo uma grande frustração: nunca o superarei como pai. Mas caso consiga ser um terço do que ele é para a gente, já serei um magnífico pai.
Meu pai sempre conserva uma cara de certeza, um olhar para frente e uma fé inabalável.
Esta é a referência que tenho e acredito que, desta forma, confortei o coração de meu amigo.

2 comentários:

Camila Gonzaga disse...

Achei lindo o texto, a nossa família é a nossa base, a nossa referência!

Christiany Borba disse...

Meu pai também ficava muito tempo fora, o pouco que pude viver com ele não tenho do que reclamar, não me lembro uma vez se quer que ele não tenha olhada pra mim como tanto amor, os olhos brilhavam. Perdi ele com 13 anos, justamente quando estava começando a entender o valor de um pai, mas ele soube passar pra mim esse papel tão importante de chefe da casa. Um vazio enorme ficou e por muito tempo a família desestruturou. Hoje seguimos nossas vidas, mas o lugar dele nunca foi ocupado. Vejo amigas da minha idade com pai e me pergunto: nossa até hoje elas tem pai? O problema é que o meu partiu muito cedo. A importância de um pai é muito grande. Se hoje sou o que sou foi com o pouco que ele soube me passar juntamente com minha mãe, o restante a vida me ensinou. Vendo o texto me fez lembrar com grandes saudades do meu pai. Deixo aqui uma homenagem a ele que foi o homem mais importante em toda a minha vida.

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