domingo, 3 de abril de 2011 | By: Rodrigo Pael

Da fisiologia às boas notícias


Escolhi morar em São Paulo para cursar o mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC, no final de 2006 e começo de 2007, a decisão foi mais uma prova de que aprendendo muito observando as pessoas. Quando me inscrevi no processo de seleção, além da vontade de pesquisar o meu tema, queria colocar em prática aquilo que via o Josian, namorado de minha querida prima Naiara, fazer: ser empreendedor, mudar de ares, buscar um diferencial e investir em mim.
Nem sempre essas decisões significam conforto e acolhida pelo novo ambiente. Mesmo sendo completamente apaixonado pela capital da garoa, tendo feito amigos para a vida toda e sendo muito grato a tudo que aquela cidade e aquela instituição me proporcionaram, o começo não foi fácil.
Caí de pára-quedas em São Paulo conhecendo pouquíssimas pessoas, todas bem receptivas, mas com os seus compromissos particulares que não possibilitavam suprir a carência de um filho caçula e longe de casa pela primeira vez. Em relação a grana, nem se fala, com um orçamento extremamente restrito, porém bem planejado, era possível me alimentar com R$ 11 por dia, ou seja, dois pratos feitos. Não podia reclamar, foi minha escolha, com as condições que conseguimos construir, o jeito era mergulhar nos estudos.
Porém, com o passar dos meses, o somatório da carência afetiva e das dificuldades enfrentadas com a falta de dinheiro, inevitavelmente o ser humano titubeia, balança, murcha, e isso trás reflexos na própria aparência. Cinco meses e dez quilos mais magro, barbudo como um terrorista, ou um sindicalista da década de 70, percebi que estava sofrendo desses sintomas. Na época, ainda não tinha sido aprovado na prova de proficiência em línguas e todo aquele esforço poderia ir por água abaixo.
Telefonemas de minha mãe, meu irmão e minha avó acalentavam meu coração, a lembrança das expectativas de meu pai, me preocupavam. Em uma determinada manhã, olhei-me no espelho e vi que demonstrava em minha face aflições, medos e inseguranças, assim tomei uma decisão: fiz a barba, coloquei uma calça jeans nova e fui cortar meu desgrenhado cabelo. Na volta do salão, me sentindo mais apresentável, meu celular tocou, era a querida secretária do programa de Mestrado, comemorando aos berros minha aprovação naquela famigerada prova de inglês.
Alegria, felicidade, festa e muita dança, no meu quarto, sozinho. No computador, a música que tocava era ‘Vamos Celebrar’ de  Oswaldo Montenegro – escutem - . Mas esta alegria momentânea não durou tanto tempo assim, sou desconfiado do destino e um eterno descontente. Com o passar dos meses a solidão, a carência e a crise financeira apertavam novamente. Só para pagar os estudos, eram mais de R$ 1 mil por mês, já havia pleiteado a bolsa da CAPES, mas o resultado nunca saía.
Mais uma vez aqueles sintomas me acometeram, 3 meses depois e 7 quilos mais magro, barbudo e cabeludo, percebi que alguma coisa tinha que ser feita. Lembrei que, há alguns meses, uma estratégia inexplicável tinha dado certo, “a mudança de minha aparência para mexer com as minhas entranhas”.
Adepto que sou da mística de nossas ações, novamente fiz a barba, coloquei aquela calça, com uma bonita composição e fui dar um jeito nos poucos cabelos que me restam. Como uma reprise melhorada de eventos passados, meu celular tocou, era a Cida,  sensivelmente emocionada, já havia criado um carinho por aquele sul-mato-grossense que queria dar um jeito na vida. “Corre para cá, você foi selecionado para a bolsa, mérito do teu projeto”.
Quando encontro pessoas que, por algum motivo estão entristecidas, de imediato já cobro uma mudança de postura, se não dá para mudar de dentro para fora, que seja de fora para dentro. As vezes, por uma combinação feliz, estamos mais apresentáveis que outros dias e temos que aproveitar esses momentos.
Na semana passada, encontrei alunos desta forma, bem arrumados, cabelos escovados e tudo mais, de imediato, já aventei a possibilidade deles estarem armando uma balada, pois são jovens e cheios de energia e, para minha surpresa, eles disseram que não, que estavam indo para casa.
“Meus queridos, vão dar uma volta. Quando estamos especiais desta forma, temos que andar por ai, buscarmos a felicidade no contato com o outro e esperarmos as boas notícias, pois elas virão.”

Texto encomendado pelas minhas alunas Taciane Silva e Sabrina Duarte

10 comentários:

Unknown disse...

Não posso deixar de passar por aqui ler todos esses textos e não parabenizá-lo.
Parabéns Pael, pela história de vida, por ser tão observador!!
E o agradeço também, ao ler alguns de seus textos pude notar que mudanças são necessárias...
De ser humano para ser humano as mutações de um modo geral variam, mas sejam quais forem elas, sempre é importante aproveitá-las!!

Gostei muito de todos os seus textos!
By: Bel Nunes

Unknown disse...

Vamos agir em bando, meu amigo!

Unknown disse...

Verdade! Se tiver que acontecer uma mudança, então faça. Não importa se de fora para dentro ou dentro para fora. Talvez seja aquela história da ordem dos fatores não alterar o produto.

Eu também sou adepto das mudanças físicas. O cabelo, a sobrancelha, a pele, as unhas e tudo mais. Não é que eu fique mais bonito (até porque é difícil), mas é que eu fico melhor, mais sorridente e de bem com a vida!

Semana Abençoada para nós!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

É verdade, Pael. Faço isso... quando não consigo nenhuma mudança interior, procuro a melhor roupa, arrumo o cabelo e faço uma bela maquiagem. Talvez, para muitos, isso seja bobagem e até mesmo fútil, mas para quem busca uma mudança -não importa qual- é muito importante. Realmente não importa se a mudança vai acontecer de fora para dentro, o que devemos fazer é nunca desacreditar em nós mesmos! Adorei o texto! Beijos.

Revista Universo Feminino disse...

Bom, não posso reclamar da minha vontade em querer sempre estar bem comigo mesma no quesito aparência. Cobro isso todos os dias, porque nem semppre fui assim. Aceito e entendo de que devemos mesmo aproveitar os momentos nos quais estamos mais "elegantes". Isso pode parecer viagem, mas reflete coisas boas, te dá uma segurança maior em relação a pessoa que representa no seu meio social. Eu não ligo para o que dizem ao meu respeito, se me visto assim ou assado. O que importa é a sua paz interior, estar bem consigo mesma e com isso correr atrás dos seus objetivos. Quero ter mudanças que causem assim como as que ocorreram com você Pael, conquistas profissionais... Otimo texto!! E agora nada de voltar para casa arrumada, só bagunçada de alegrias!kkk

Bjuuu

Caroliny Rodrigues disse...

Excelente texto! Muitas pessoas recomendaram essa leitura, mas acredito que as coisas só acontecem quando mais precisamos. Hoje era o dia certo para me inspirar numa história como a sua. Somado ao texto está a nossa conversa, que me ajudou muito.
Parabéns por ser essa pessoa fantástica, por ser o professor que não quer apenas dar a sua aula, mas sim ajudar a cada aluno, seja na vida pessoal, seja na acadêmica.

Anônimo disse...

Creio que entendi o que você quis passar com seu texto. A grande questão não é a sentença: “Se não é possível a mudança interior, vamos mudar a aparência”. Vai além disso. Parte da constatação que não devemos esquecer de nós mesmos. Temos que cultivar quem somos. De preferência, os melhores hábitos, sentimentos e momentos.
A melhor coisa é essa capacidade de celebrar as vitórias, de torcer por você mesmo, sem depender ou esperar que outros o façam. Talvez o melhor seja dançar, nem que seja sozinho, até ficar extasiado e, assim, pronto para acolher todas as coisas boas, que apenas começam com as notícias.

Nayara Mota disse...

Gente... Tô indo cortar o cabelo (rsrs)

Pael, você me surpreende a cada texto. Esse em especial, me fez pensar nos planos que fiz, faço e refaço, ao longo do curso.
Penso que a palavra-chave da vida é mudança. Não importa se é interiormente ou exteriormente, é preciso mudar. É preciso conhecer pessoas novas, lugares diferentes, novos gostos... Conhecimento.

Adorei o texto. (usando suas palavras rsrs) Você é meu orgulho!

Adriana Keyla disse...

Será que se eu arrumar os cabelos e colocar uma roupa legal, esse sentimento de vazio vai embora??? rs
Adriana keyla

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