Ontem, ao sair no começo da noite da Câmara dos Deputados, com o objetivo de esperar minha esposa Deine que daria uma carona para mim até em casa, parei em uma Kombi velha, que com uma propaganda toscamente estilizada, anunciava seus salgados.
Estava faminto e ao cumprimentar o jovem vendedor, logo pedi um cachorro quente. Deu-se início a aula prática de marketing e comportamento do consumidor, disciplina que ministro. O vendedor, ao se aproximar da Kombi parou repentinamente em uma de suas portas e inqueriu: "posso te mostrar meus salgados assados? são delicioso e acabaram de sair do forno, esta esfirra é tradicional de carne e seus temperos eu compro em uma loja árabe na Asa Sul. Este calzone é chileno e é a especialidade do meu cheff, ele é um senhor de idade, só não peço para ele fazer mais para não perder a qualidade. Agora, este bauru está delicioso, as crianças adoram. O senhor tem filhos?"
Respondi que não tinha filhos e aceitei o bauru. Enquanto o degustava, acompanhei que a mesma cena se repetiu seis vezes com o mesmo esquema narrativo: alguém chega e pede cachorro quente, o vendedor começa a descrever seu produto com garbo e elegância, o cliente compra o bauru.
No sétimo cliente, mesmo depois de toda a propaganda dos salgados, permanece a insistência por um cachorro quente. Aí o vendedor confidencia: "não tenho cachorro quente". O cliente adquire uma esfirra.
No segundo ato, começa a descrição do quibe que era vendido na combe, "delicioso, acabei de fazer, muito especial, os assessores do Aécio Neves só comem deste quibe, José de Alencar ia onde eu estivesse para comer este quibe".
Comprei o quibe também.
Agora imaginem se no começo desta história, o vendedor, ao ouvir a solicitação de um cachorro quente apenas informasse: "não tenho cachorro quente". Em quinze minutos teria perdido oito clientes.
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