Já faz algumas semanas, um grande amigo, que está vivendo uma oportunidade profissional excepcional, veio passar uns dias em minha casa. Por mais agradável que seja sua presença e por maior que seja nossa amizade, este gerente de negócios veio a trabalho. Suas atividades compreendem articulações políticas em Brasília e vistorias técnicas no Norte e Nordeste do País.
Tendo em vista suas atribuições, viagens e distância de casa estão se tornando cada vez mais cotidianas. Uma aventura muito atraente para um jovem empreendedor como ele, porém é casado e pai de uma linda menininha de menos de um ano. Pai de primeira viagem.
Em uma madrugada, percebi que meu amigo estava bastante incomodado e sentei com ele para conversar. Era isso mesmo. Ele me relatou quanta angústia o causava ficar longe de sua esposa e companheira e de sua filha. Afirmou que estava perdendo fases importantes do desenvolvimento da criança e que sua mulher estava tendo que arcar com tudo sozinha: “levar à creche, a médicos”. Com lagrimas nos olhos, o paizão me deu abertura: “O que fazer?”, me perguntou ele.
Nesta oportunidade, contei para ele como era a relação do meu irmão mais velho e a minha com nosso pai. Quando eu e meu irmão éramos pequenos, a rotina do meu pai era viajar, passava dias fora de casa. Meu pai é engenheiro agrônomo e o trabalho dele estava fora de nossa cidade, em cidades do interior, fazendas, assentamentos... Com o tempo, começamos a ir com ele. Que aventura! Não tomar banho no frio, nos enrolar em jornais quando o frio apertava ainda mais, estradas longas, comidas gordurosas.
Lembro de uma vez em que chegamos a um hotel tão ruim, que meu pai perguntou: “Que horas sai o café da manhã?” e a proprietária respondeu: “O senhor quer café da manhã?”.
Meu pai é aquele de quem eu menos falo em meus textos. Faço isso para protegê-lo, porque todos que o conhecem querem um pai como ele. Não faço elogios a ele, pois todos já os foram feitos. Minha cunhada diz que um dia meu irmão colocará um busto do meu pai no meio da sala, por tanta admiração. Meu pai é o homem mais honesto e correto com quem pude ter contato. Uns dizem que ele nasceu para ser político; outros para ser engenheiro agrônomo. Eu posso garantir que ele nasceu para ser pai.
Bom, voltando à história, na minha infância meu pai viajava muito, mas se eu disser que ele foi ausente um raio cairá sobre minha cabeça. Quando meu irmão nasceu, meu pai estava fazendo um curso na Colômbia. Deixou minha mãe com minha avó. Ele não podia perder a oportunidade de estudar ainda mais.
Meu pai tinha uma estratégia muito clara: quando ele estava em casa, ele era só nosso, brincava de lutinha para espantar o frio, jogava bola com a gente, dava catequese aos sábados pela manhã – um saco. Não me lembro de uma reunião de pais e mestres na escola que ele tenha perdido. Se acontecesse algo comigo na escola, a diretora Teruko, uma japonesa, já ligava para ele. Até hoje, se a Tia Bethe, a Tia Beló, ou a própria Teruko passarem por ele, vão cumprimentá-lo sorridentes.
Esta dedicação do meu pai não significava permissividade. Meu pai, com um olhar, recobrava a disciplina, não por medo, mas sim pelo respeito que temos a ele.
Sempre afirmei que educar uma criança é imputar pequenos traumas para que ela não faça algo errado. Meu pai fazia isso por meio de exemplo. Sempre sério e correto, nunca o vi furar um sinal vermelho, tratar alguém sem elegância, não ser devoto a minha mãe com todo amor e zelo.
Meu pai sabe bem a diferença entre qualidade de tempo e quantidade de tempo. Para ele, seus filhos merecem qualquer sacrifício, até mesmo a distância por alguns dias, para proporcionar a eles mais estrutura e, também, para ser um pai realizado profissionalmente.
Tenho neste exemplo uma grande frustração: nunca o superarei como pai. Mas caso consiga ser um terço do que ele é para a gente, já serei um magnífico pai.
Meu pai sempre conserva uma cara de certeza, um olhar para frente e uma fé inabalável.
Esta é a referência que tenho e acredito que, desta forma, confortei o coração de meu amigo.
Das revistas femininas aos blogs balzaquianos
Em 30 ou 40 anos, as pesquisas em comunicação estarão abordando um tipo de conteúdo midiático que está fazendo muito sucesso nos últimos anos: os blogs escritos por mulheres com aproximadamente 30 anos. Sendo assim, já antecipo minhas superficiais impressões.
Como todo olhar crítico, as revistas femininas das décadas de 60 e 70, que traziam em suas páginas uma religiosa pregação da relação da mulher com sua casa e, por conseguinte, com seus filhos e maridos, as publicações das décadas seguintes começaram a libertar a mulher para uma relação de amor com um homem. Depois, com as descobertas da medicina, começaram a ensinar a mulher a ter prazer na relação sexual, até chegarmos aos dias de hoje.
Atualmente, a relação da mulher com as coisas, retratada pelos veículos de comunicação, está no ápice de uma escalada da abstração. Se em determinado momento a relação era com o gigantismo do lar, depois passou a ser uma relação de amor e, logo em seguida, um ligeiro encontro com si mesma. Agora, a moda é uma relação que não é sexual, mas quase sem o sentido do toque apenas possibilitado pela intimidade. Chegou o momento de uma relação genital.
Percebo as jovens se encantando com os textos fáceis, ligeiros, quase que poéticos sobre relações, por vezes promíscuas – não quero parecer conservador – retratadas em blogs de mulheres que atingiram um bom nível de reflexão de suas experiências, mas se esquecem do fator individualidade.
É fundamental termos responsabilidade com o que colocamos na rede mundial de computadores. Às vezes, experiências íntimas ganham o poder de bandeiras a serem erguidas ou frases de efeito a serem bradadas. Acredito que estes novos meios estão eclipsando a individualidade, aprisionando as mulheres a um comportamento aparentemente festivo e leve, mas que não é diferente do modismo das mulheres retratadas nas revistas femininas.
Certamente é válido saber como esta ou aquela balzaquiana agiu em determinada situação sexual. Provavelmente podem vir a serem experiências edificantes, mas apenas cada um e cada uma “sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Nada mais extremo, fascinante, diferente, avassalador, erótico, incrível e libertário que uma relação de amor em si e nas suas particularidades.
Reitero meu desejo de não parecer conservador. Na verdade, o que me cansa é a repetição do mesmo. Existem vários blogs com o mesmo perfil atraente de mulheres com cerca de 30 anos, que viveram diversas experiências e que contam, com um texto ligeiro, como é legal enxergar os momentos delas como elas os enxergaram.
Acredito que ler é sempre válido, mas não busque em nenhuma leitura uma saída, um estratagema para as relações. Temos todo um histórico de relações, contendo erros, mas também acertos. Quem deve julgar como proceder e, efetivamente, executar, é você mulher moderna.
Faço este recorte por perceber a surpresa das mulheres, assíduas na leitura de determinados blogs, encontrarem uma felicidade extrema em comportamentos que julgavam antiquados ou que nunca fariam. Seja sempre esta ebulição da complexidade que é só sua.
Como todo olhar crítico, as revistas femininas das décadas de 60 e 70, que traziam em suas páginas uma religiosa pregação da relação da mulher com sua casa e, por conseguinte, com seus filhos e maridos, as publicações das décadas seguintes começaram a libertar a mulher para uma relação de amor com um homem. Depois, com as descobertas da medicina, começaram a ensinar a mulher a ter prazer na relação sexual, até chegarmos aos dias de hoje.
Atualmente, a relação da mulher com as coisas, retratada pelos veículos de comunicação, está no ápice de uma escalada da abstração. Se em determinado momento a relação era com o gigantismo do lar, depois passou a ser uma relação de amor e, logo em seguida, um ligeiro encontro com si mesma. Agora, a moda é uma relação que não é sexual, mas quase sem o sentido do toque apenas possibilitado pela intimidade. Chegou o momento de uma relação genital.
Percebo as jovens se encantando com os textos fáceis, ligeiros, quase que poéticos sobre relações, por vezes promíscuas – não quero parecer conservador – retratadas em blogs de mulheres que atingiram um bom nível de reflexão de suas experiências, mas se esquecem do fator individualidade.
É fundamental termos responsabilidade com o que colocamos na rede mundial de computadores. Às vezes, experiências íntimas ganham o poder de bandeiras a serem erguidas ou frases de efeito a serem bradadas. Acredito que estes novos meios estão eclipsando a individualidade, aprisionando as mulheres a um comportamento aparentemente festivo e leve, mas que não é diferente do modismo das mulheres retratadas nas revistas femininas.
Certamente é válido saber como esta ou aquela balzaquiana agiu em determinada situação sexual. Provavelmente podem vir a serem experiências edificantes, mas apenas cada um e cada uma “sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Nada mais extremo, fascinante, diferente, avassalador, erótico, incrível e libertário que uma relação de amor em si e nas suas particularidades.
Reitero meu desejo de não parecer conservador. Na verdade, o que me cansa é a repetição do mesmo. Existem vários blogs com o mesmo perfil atraente de mulheres com cerca de 30 anos, que viveram diversas experiências e que contam, com um texto ligeiro, como é legal enxergar os momentos delas como elas os enxergaram.
Acredito que ler é sempre válido, mas não busque em nenhuma leitura uma saída, um estratagema para as relações. Temos todo um histórico de relações, contendo erros, mas também acertos. Quem deve julgar como proceder e, efetivamente, executar, é você mulher moderna.
Faço este recorte por perceber a surpresa das mulheres, assíduas na leitura de determinados blogs, encontrarem uma felicidade extrema em comportamentos que julgavam antiquados ou que nunca fariam. Seja sempre esta ebulição da complexidade que é só sua.
Aos verdadeiros guerreiros
“Você vai para frente por ter para onde voltar”, dizia o meu grande amigo Ludyney Claudino Moura, ao ficar sabendo que estava de malas prontas para Brasília, no ano de 2009. Meu amigo pastor não estava errado. Com muita luta e sacrifício, meus pais construíram um estruturado lar. Por vezes, acredito que eles construíram seus patrimônios não por eles, mas sim por nós, eu e meu irmão. Porém, tudo o que podiam já nos deram e agora é construir o nosso estofo para os nossos futuros filhos.
Mas não é apenas o conforto de poder regredir que nos faz alçar novos voos. Às vezes, é justamente não ter para onde voltar e esses são os verdadeiros guerreiros, e é sobre esses que quero falar hoje. Não vou citar nomes para não expor ninguém, mas eles se reconhecerão em minhas palavras.
Minha vinda para Brasília me ensinou muitas coisas, mas os encontros mais impactantes e até mesmo apaixonantes foram com esses verdadeiros guerreiros. Eles vieram para o Distrito Federal de vários lugares: do Nordeste, de Minas Gerais, de Mato Grosso do Sul, dentre outros. Vieram porque algo tinha que ser feito, vieram porque era isso ou nada, vieram para aprender, para trabalhar, para mudar e o fizeram.
Alguns deles fecharam os olhos e os ouvidos para as limitações. Estudaram 15 horas por dia, abriram seus negócios, trabalharam feito loucos, têm o orgulho de seus irmãos, hoje, estudarem na Europa, sustentam suas famílias, venceram e ainda apenas estão no começo de suas vidas.
O que esses jovens, de 20 a 25 anos, têm de diferente é não ter como voltar. É não ter retrovisor, mas sim faróis. Mas a história deles não para por aqui. O futuro deles é muito maior que o passado. Caso parem para avaliar até onde chegaram, vão redobrar as suas forças para alcançar o topo da montanha. Este aprendizado é a vida.
Neste texto, agradeço a Deus a oportunidade de observar vocês de perto – uns mais de perto que outros –, sempre com o aprendizado de seguir em frente, ultrapassar obstáculos, pular os muros das limitações, aprender aquilo que ainda não sei e acreditava nunca conseguir aprender.
Por vê-los chorar, querendo ajudar mais os seus, é que os abraço, tento acalmá-los, lembrando os quem são e aonde vão, que são os melhores partidos dentre seus iguais e que já fazem o possível e o impossível por aqueles que amam.
Aqui, faço um convite: olhem-se no espelho e, com um sorriso no canto da boca, perguntem à imagem que aparecer na sua frente até onde você pode chegar.
Mas não é apenas o conforto de poder regredir que nos faz alçar novos voos. Às vezes, é justamente não ter para onde voltar e esses são os verdadeiros guerreiros, e é sobre esses que quero falar hoje. Não vou citar nomes para não expor ninguém, mas eles se reconhecerão em minhas palavras.
Minha vinda para Brasília me ensinou muitas coisas, mas os encontros mais impactantes e até mesmo apaixonantes foram com esses verdadeiros guerreiros. Eles vieram para o Distrito Federal de vários lugares: do Nordeste, de Minas Gerais, de Mato Grosso do Sul, dentre outros. Vieram porque algo tinha que ser feito, vieram porque era isso ou nada, vieram para aprender, para trabalhar, para mudar e o fizeram.
Alguns deles fecharam os olhos e os ouvidos para as limitações. Estudaram 15 horas por dia, abriram seus negócios, trabalharam feito loucos, têm o orgulho de seus irmãos, hoje, estudarem na Europa, sustentam suas famílias, venceram e ainda apenas estão no começo de suas vidas.
O que esses jovens, de 20 a 25 anos, têm de diferente é não ter como voltar. É não ter retrovisor, mas sim faróis. Mas a história deles não para por aqui. O futuro deles é muito maior que o passado. Caso parem para avaliar até onde chegaram, vão redobrar as suas forças para alcançar o topo da montanha. Este aprendizado é a vida.
Neste texto, agradeço a Deus a oportunidade de observar vocês de perto – uns mais de perto que outros –, sempre com o aprendizado de seguir em frente, ultrapassar obstáculos, pular os muros das limitações, aprender aquilo que ainda não sei e acreditava nunca conseguir aprender.
Por vê-los chorar, querendo ajudar mais os seus, é que os abraço, tento acalmá-los, lembrando os quem são e aonde vão, que são os melhores partidos dentre seus iguais e que já fazem o possível e o impossível por aqueles que amam.
Aqui, faço um convite: olhem-se no espelho e, com um sorriso no canto da boca, perguntem à imagem que aparecer na sua frente até onde você pode chegar.
Das responsabilidades
Aconteceu em Mato Grosso do Sul, claro. Em uma madrugada, há alguns anos, o Governador André Puccinelli, então prefeito da Capital, Campo Grande, ordenou – “ranque os trilhos do meio da cidade”. O prefeito da época sempre se baseou em pesquisas e, uma especificamente, indicava que 70% da população da capital morena queria a retirada dos trilhos. As alegações eram as mais diversas: “atrapalha o trânsito”, “estraga os amortecedores do carro”, e por ai vai.
Porém, o que a maioria da população campo-grandense desconhece, ou ignora, é que a cidade onde nasci, cresceu em volta dessa linha férrea. Cada dormente daqueles, cada madeira de lei – não sei onde se encontram na atualidade – além do valor econômico, também tinham um valor cultural inestimável.
No dia seguinte da retirada dos trilhos, o secretário de cultura do Estado, que não me lembro o nome agora, esbravejou em uma rádio da capital: “Os trilhos foram retirados, isso é um absurdo, alguém tem que fazer alguma coisa”.
“Alguém tem que fazer alguma coisa”. Esses dias, estava dando aula, e uma aluna muito querida chegou atrasada e justificou a situação com um discurso enérgico e forte. Empolgante. Ela reclamava da ausência de estacionamento para estudantes, da falta de iluminação no local onde estacionou o carro e da segurança pública no DF. E, para finalizar soltou esta: “Alguém tem que fazer alguma coisa”.
Uma frase puxou a outra e as duas histórias explicitaram uma mesma dificuldade: o distanciamento de nossas responsabilidades como coletivo, como um todo que forma o espírito público.
Na primeira história, quando o secretário de cultura evidenciou que alguém tinha que fazer alguma coisa, com toda certeza, esqueceu de sua militância nos movimentos culturais e do papel hierárquico que ocupava ha época. Quando minha aluna, com a energia que lhe é peculiar, discursou em sala, talvez não tenha se atentado que, na faculdade onde estuda, não tem um diretório central dos estudantes e nenhum centro acadêmico, algo que prego tanto, por já ter participado do movimento estudantil.
Temos que ter muito cuidado quando proferimos a frase: “alguém tem que fazer alguma coisa”, por vezes estamos eclipsando a nossa responsabilidade sobre aquilo. Sempre digo que, em cada momento de crise que vivemos, temos que refletir qual é a nossa responsabilidade sobre o que ocorreu, por mais que seja nenhuma. É por meio desta avaliação que tomamos rédeas das coisas.
Imaginem se o secretário realizasse uma ação política para preservar o patrimônio da Capital de meu Estado? Imaginem se esta minha aluna eternizasse seu nome, na Instituição que estudou, fundando o diretório central dos estudantes?
Acredito que o nascedouro dos grandes feitos está na indagação de qual é nosso papel em uma demanda coletiva, como posso fazer mais?
Bom, essas oportunidades passaram, não deixemos as próximas passarem também.
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