O mal da falta de assunto
não acomete apenas a mídia, mas também a massa de jovens retratada por ela. Na
noite deste domingo (30), em um programa jornalístico na rede Record, assisti o
esforço hercúleo de um repórter tentando construir uma matéria razoável, ao entrevistar
a jovem brasileira que resolveu leiloar a virgindade.
Como a pauta e a fama
espontânea e efêmera da moça são alicerçadas pelo único evento do leilão, o que
poderia tornar o vídeo interessante seria a possibilidade de a personagem ser
alguém diferenciada, com uma causa ou um conteúdo diferenciado. Não foi o que
aconteceu. A menina, que afirma nunca ter tido relação sexual, resolveu leiloar
sua virgindade por falta de assunto.
A estratégia tem um apelo
midiático, pois faz parte de um reality show que pretende cobrir a primeira
relação sexual da brasileira, desde o cadastramento da moça no endereço
eletrônico da promoção, até o final da experiência, que deve ocorrer dentro de
um avião em trânsito para se evitar entraves legais.
Além do valor financeiro
obtido pela “compra do produto” – como a própria personagem afirma –, os
produtores receberão vultosas somas pela ideia, produção e cobertura do evento,
sem ao menos ter que desembolsar para pagar a principal atração. A jovem,
depois de desembarcar da aeronave, pelo que demonstrou no programa da TV
Record, também desembarcará da atenção da mídia, relegada ao ostracismo de
portais de notícias triviais menores.
A busca da moça é – pelo
vazio em sua vida real – se transformar em imagem midiática na sociedade do
espetáculo. Estamos na era da velocidade, da interatividade, dos emissores que
são receptores e do carinho falso dos meios de comunicação. Porém, caso não
consigamos sustentar a imagem, o regresso a falta de assunto pode ser danoso e
patológico.
3 comentários:
Pofessor Pael, tenho o observado a falta de assunto nos programas ultimamente, fazem uma série para cobrir a gravidez da mulher de Rodrigo Faro, Angela Bismarch vai fazer uma cirugia de reconstituição de hímem e etc, viram destaques ou seja o que percebemos em tudo isso é a banalização da mídia e um bom critério para seleção de coisas boas.
Muito boas e concisas considerações!
Sobre a garota, se, de fato, existe nela um eco existencial não ouso dizer, mas bem que ela poderia ter evitado o título de piranha.
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