sábado, 23 de abril de 2011 | By: Rodrigo Pael

A verdadeira expansão da mente

Muitos tentam atingir uma certa expansão da mente ou  chegar até outras dimensões, por meio de substâncias entorpecentes, drogas, dos mais variados tipos. Eu, que nem beber bebida alcoólica bebo, acredito que apelar para essas substâncias, no mínimo, não é saudável. Mas explorar a potencialidade de sua mente é uma obrigação.
Nos anos de 2005 e 2006, fui assessor de comunicação do vice-governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Egon Krakhecke, um homem erudito e intelectualizado. Na companhia de Egon, conheci grande parte do meu Estado. Na época, eram muitas viagens, sempre muito rápidas, por vezes, visitávamos até 4 cidades em um só dia, já aconteceu de acordar em um quarto de hotel sem saber que município era aquele.
Nas incursões pelo Estado do Pantanal, as vezes, esticava o pescoço para conferir o que o chefe estava lendo no banco da frente do automóvel,  dentre notas técnicas e memorandos, havia sempre clássicos e poesias. A figura austera e séria impõe respeito, e no carro imperava o silêncio, apenas quebrado quando o vice ligava o som.
Desde muito pequeno, estabeleci alicerces que acreditava seguir pela vida inteira, princípios éticos, condutas morais e padrões estéticos, mas a vida nos ensina a cada esquina.
Foi viajando a trabalho que percebi a simplicidade da tão falada expansão da mente, que povoava minha cabeça quando lia os livros de Fritjof Capra. Egon tem um gosto musical diferente do meu, e dentro do carro, hierarquicamente, respeitávamos o que ele colocava para tocar. Em um certo dia, fiquei com a impressão que ele tinha passado dos limites, quando por horas ininterruptas um CD de música andina se repetia em nossos ouvidos. Obrigado, tive de escutar.
Ouvindo aquelas músicas que nunca tinha me dedicado a prestar atenção, fui percebendo a beleza de sua emoção e a tradução da voz milenar de um povo. A música andina é forte, emocionante e avassaladora, transmuta em música sons do altiplano, do correr de regos de água gelada e límpida, dos sons de pássaros que desaparecem nas alturas. Tudo aquilo é ritualístico, simbólico e espiritualizado, é de uma beleza incomum.
Percebendo e, principalmente sentindo tudo isso, minha impressão é que dentro de minha cabeça acabava de criar um espaço imaterial, mas pronto para elaborar, formular, criticar e aprender um outro padrão estético, diferente das músicas que eu ouvia até então. A apropriação de um outro padrão estético mexe com o espírito, influencia a alma.
Depois desta oportunidade, além do enriquecedor contato com uma amostra de sistemas de uma cultura mágica, também aprendi a me portar frente a possibilidade de me conectar com formas diferentes de expressar os sentimentos pelo ser humano e pelo mundo. As formas peculiares de cores e sons que encontramos no contato com o outro,  podem transformar nosso dia, nossa semana, nossas vidas.
Acredito que, se fechar em seus paramentos estéticos é limitar suas possibilidades filosóficas. Ao invés de experimentar substâncias, convido a todos a experimentar sensações, emocionar-se com a produção artística do outro e expandir a mente visitando novas dimensões.
quarta-feira, 20 de abril de 2011 | By: Rodrigo Pael

O poder da escolha


Um grande amigo do meu irmão e por conseguinte, também meu amigo, estava terminando dois mestrados ao mesmo tempo quando eu morava em São Paulo. O personagem é de uma inteligência espetacular e, em um determinado dia, fomos a um rodízio de comida japonesa, o terceiro melhor da cidade segundo uma revista especializada. A conversa estava boa e entramos em alguns assuntos dos saberes econômicos, área de estudo do prodigioso acadêmico, até que, depois de muito nos explicar, objetou de forma assertiva: “economia está ligada aos efeitos psicológicos”.
Impactante informação para mim, que sempre acreditei na pragmática dos números.
Acabo de me despedir de um outro amigo que está fazendo sua primeira viagem internacional. Há menos de 5 meses, ele apresentava uma situação completamente diferente, trabalhava em um ambiente insalubre e era intensamente assediado moralmente por seu chefe. Mesmo reconhecidamente competente, aquela realidade o fazia muito mal, e aquelas condições tendiam a piorar.
Com dificuldades em outras áreas da sua vida, resolveu mudar, fazer um limpa, ousar e fazer escolhas diferentes. Mesmo com um cenário muito negativo, conseguiu olhar para dentro e identificou a pessoa maravilhosa e cheia de virtudes que residia naquele espaço. Confiando naquilo que viu internamente, teve a epifania de perceber o potencial de suas decisões e a certeza de que, as conseqüências das coisas que acontecem conosco, na grande maioria das vezes, são frutos dessas decisões.
Não suportando mais as injustiças e os acontecimentos de seu trabalho, pediu demissão e em questão de dias estava contratado em um outro lugar, e depois de uma semana já era respeitado por causa de sua cavalar competência. Ao mesmo tempo, outras áreas da vida, por meio exclusivamente de suas escolhas, foram se organizando e se mostrando muito melhores que aquele período anterior.
Convencendo psicologicamente os números de suas finanças, resolveu abrir uma empresa e mediante aos frutos de sua ousadia, e atento aos parâmetros de sua responsabilidade, hoje está tirando uns dias no exterior. Antes de viajar, suas palavras para mim foram “eh 2011 maravilhoso.”
Eu vou além, ‘eh escolhas maravilhosas’, ‘eh características maravilhosas’. Esse meu amigo é um grande exemplo em diversas áreas, mas no quesito de chamar a responsabilidade para si e mudar o próprio destino, apesar da pouca idade, deveria estar dando aula. Expresso aqui o desejo de boa viagem e um convite para te visitar e comemorar as mais recentes vitórias.
Acredito que temos de ter a coragem de decidir, de mudar aquilo que é preciso e que não está nos fazendo bem, não podemos delegar a responsabilidade das nossas decisões nas mãos de outros entes. Faça a escolha certa, tenha como base princípios simples, como por exemplo, respeito ao outro e honestidade de caráter, desta forma, até os mais consolidados postulados econômicos se renderão à você.
domingo, 17 de abril de 2011 | By: Rodrigo Pael

Ciência acelerou o tempo, que atropela a própria ciência

Sempre gasto o que não posso quando vou à livraria ‘Cultura’, no Shopping Iguatemi (Brasília-DF). A minha intenção era apenas comprar um livro didático para a mais nova empreitada que inventei, aprender a falar francês, tentar, pela segunda vez. Porém, acabei passando pela seção de livro em comunicação, encontrei as mais recentes publicações de Norval Baitello Jr. e um desejo antigo, ‘Semiótica Russa’, de Boris Schinaiderman. Lá se foi uma grana que não poderia gastar.
Procurando com os olhos onde eu poderia gastar o dinheiro que não tinha, observei uma série de títulos que num passado muito recente faziam todo o sentido, mas hoje, qualquer adolescente descarta como obsoleto. No espaço reservado aos livros de comunicação, obras tratando da ‘blogosfera’ ou do fenômeno ‘orkut’, já foram amplamente superados pelos ‘face books’ e ‘twitteres’ da vida. O interessante é que a mesma escola de pensadores que teorizava os avanços tecnológicos, no momento de reproduzi-los no papel, já se tornam ultrapassados.
Percebo que a estratégia dos autores mais antenados com o marketing e o posicionamento de seu produto (livro teórico), no mercado, é ampliar os conceitos no título e fundar novas filosofias a cada modernidade, como: teoria das “novas mídias”, “cibercultura”, ‘dromocracia”, dentre outros. Não estou aqui fazendo juízo de valor, todos os que estão denominando suas obras desta forma são grandes mestres para mim.
O que quero evidenciar aqui é que, se você não percebeu ainda, essas coisas estão fora de controle. Neste momento estou lendo alguns autores que publicaram na década de 40, 50, 60, 70, como Vilen Flusser, por exemplo, e que ainda percebo acertos importantes quando apontavam para o futuro. Atualmente, encontro erros até naqueles que tentam desvendar o passado.
Se tínhamos a ilusão de que o homem de certa forma controlava a edificação do futuro, hoje tenho a sensação que o progresso caminha sem rédeas, sendo debatido pelas maquinas em um espaço que é pura virtualidade. O próprio Diertmar Kamper, fala sobre uma crescente abstração do corpo, aqui defendo a abstração do homem. Fico preocupado, centrado no meu famoso pessimismo, se qualquer investimento hoje, não estará retrógrado amanhã.
Nesta imersão, também reflito sobre aqueles que iniciam sua experiência intelectual hoje, o que dizer para esses jovens: ‘mergulhem na técnica rentável de como fazer’, ou ‘preparem seus espíritos para entender a vocês mesmos’? Vou rezar, como bom católico que sou, para que alguém esteja gerindo essas inexplicáveis mudanças.
Apelo a outras alternativas por perceber que, qualquer proposta de diminuir o aceleramento, além de ser antagônica é muito pouco palatável, confesso que até para mim. Mas o ser humano é incrivelmente criativo e posso ser surpreendido com formulas de prolongar a existência das coisas.
domingo, 10 de abril de 2011 | By: Rodrigo Pael

O Menino do Pijama Listrado: Um menino comum em um ambiente diabólico

Assisti tardiamente, mas o fiz...
Ainda relutante no início do filme, o assisti por insistência, estavamcertos: “você vai gostar”. Tão certos que na metade da película comecei a anotar minhas sensações, e é o que estou escrevendo aqui, e aproveito a oportunidade para fazer um convite a  você, que está lendo este texto neste momento, você mesma, são pouquíssimas pessoas que lêem meus textos, quando sentir que deve, anote suas sensações e tente colocá-las no papel...
         Meus amigos mais próximos sabem que não sou atraído em nada por filmes que não se enquadram em grandes sucessos americanos, gosto de me divertir, relaxar com grandes bilheterias, nada de filme Cult, ou alternativo. Por vezes, confundem filmes alternativo com mal feitos, mas novamente fui surpreendido. O Filme “O Menino do Pijama Listrado” está longe de ser uma grande produção, mas é extremamente bem feito, tem evidente começo, meio e um baita fim, retrata uma bucólica Alemanha nazista e o conflito entre dois mundos, o do nacionalismo e o da exclusão.
         Como pequeno detalhe quase que imperceptível o apoio religioso ao Estado nazista foi lembrado, mas isso é quase que insignificante perto das sensações. Acabo de assistir o filme e inicia-se em mim uma leve dor de estomago, não estou arrependido, assisti uma obra de arte que me trouxe a emoção de sair de uma aguda crise renal, das mais fortes que já passei, uma dor importante e fantástica, que remonta um encontro com sentimentos desencontrados, porém de profunda relevância, saio desta crise avaliando alguns valores que apresentam contornos com maior relevo depois da dor.
         A história fala de um menino normal em condições nada normais, vivenciando a sua infância avizinhado por um campo de concentração, lá, na ausência de alternativas e com uma sorte incomensurável, faz um amigo do outro lado da cerca, este menino normal de oito anos, é filho de um militar da alta patente, uma espécie de coordenador do centro de extermínio judeu. No desenrolar, este ótimo filme nos arrebenta com o choque entre dois mundos da época da Segunda Guerra Mundial, a soberana Alemanha e o confinamento monstruoso de Judeus.
         Outro aspecto que me chamou a atenção no filme – e isso sempre acontece -   foi o papel de duas mulheres, a avó do menino com pequenas aparições mas ressoante desaprovação daquela estrutura militar, e a degradação e decadência emocional da mãe quando começa a sentir o cheiro do verdadeiro trabalho de seu marido.
         Também somos levados a participar da história quando sentimentos como medo, covardia, desonra e arrependimento são tratados de maneira sensível e azulada pelos olhos dos pequenos atores. Com isso encerro este breve comentário, mais leve, mais tranqüilo e menos ansioso, reiterando o chamado para você se emocionar também...
domingo, 3 de abril de 2011 | By: Rodrigo Pael

Da fisiologia às boas notícias


Escolhi morar em São Paulo para cursar o mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC, no final de 2006 e começo de 2007, a decisão foi mais uma prova de que aprendendo muito observando as pessoas. Quando me inscrevi no processo de seleção, além da vontade de pesquisar o meu tema, queria colocar em prática aquilo que via o Josian, namorado de minha querida prima Naiara, fazer: ser empreendedor, mudar de ares, buscar um diferencial e investir em mim.
Nem sempre essas decisões significam conforto e acolhida pelo novo ambiente. Mesmo sendo completamente apaixonado pela capital da garoa, tendo feito amigos para a vida toda e sendo muito grato a tudo que aquela cidade e aquela instituição me proporcionaram, o começo não foi fácil.
Caí de pára-quedas em São Paulo conhecendo pouquíssimas pessoas, todas bem receptivas, mas com os seus compromissos particulares que não possibilitavam suprir a carência de um filho caçula e longe de casa pela primeira vez. Em relação a grana, nem se fala, com um orçamento extremamente restrito, porém bem planejado, era possível me alimentar com R$ 11 por dia, ou seja, dois pratos feitos. Não podia reclamar, foi minha escolha, com as condições que conseguimos construir, o jeito era mergulhar nos estudos.
Porém, com o passar dos meses, o somatório da carência afetiva e das dificuldades enfrentadas com a falta de dinheiro, inevitavelmente o ser humano titubeia, balança, murcha, e isso trás reflexos na própria aparência. Cinco meses e dez quilos mais magro, barbudo como um terrorista, ou um sindicalista da década de 70, percebi que estava sofrendo desses sintomas. Na época, ainda não tinha sido aprovado na prova de proficiência em línguas e todo aquele esforço poderia ir por água abaixo.
Telefonemas de minha mãe, meu irmão e minha avó acalentavam meu coração, a lembrança das expectativas de meu pai, me preocupavam. Em uma determinada manhã, olhei-me no espelho e vi que demonstrava em minha face aflições, medos e inseguranças, assim tomei uma decisão: fiz a barba, coloquei uma calça jeans nova e fui cortar meu desgrenhado cabelo. Na volta do salão, me sentindo mais apresentável, meu celular tocou, era a querida secretária do programa de Mestrado, comemorando aos berros minha aprovação naquela famigerada prova de inglês.
Alegria, felicidade, festa e muita dança, no meu quarto, sozinho. No computador, a música que tocava era ‘Vamos Celebrar’ de  Oswaldo Montenegro – escutem - . Mas esta alegria momentânea não durou tanto tempo assim, sou desconfiado do destino e um eterno descontente. Com o passar dos meses a solidão, a carência e a crise financeira apertavam novamente. Só para pagar os estudos, eram mais de R$ 1 mil por mês, já havia pleiteado a bolsa da CAPES, mas o resultado nunca saía.
Mais uma vez aqueles sintomas me acometeram, 3 meses depois e 7 quilos mais magro, barbudo e cabeludo, percebi que alguma coisa tinha que ser feita. Lembrei que, há alguns meses, uma estratégia inexplicável tinha dado certo, “a mudança de minha aparência para mexer com as minhas entranhas”.
Adepto que sou da mística de nossas ações, novamente fiz a barba, coloquei aquela calça, com uma bonita composição e fui dar um jeito nos poucos cabelos que me restam. Como uma reprise melhorada de eventos passados, meu celular tocou, era a Cida,  sensivelmente emocionada, já havia criado um carinho por aquele sul-mato-grossense que queria dar um jeito na vida. “Corre para cá, você foi selecionado para a bolsa, mérito do teu projeto”.
Quando encontro pessoas que, por algum motivo estão entristecidas, de imediato já cobro uma mudança de postura, se não dá para mudar de dentro para fora, que seja de fora para dentro. As vezes, por uma combinação feliz, estamos mais apresentáveis que outros dias e temos que aproveitar esses momentos.
Na semana passada, encontrei alunos desta forma, bem arrumados, cabelos escovados e tudo mais, de imediato, já aventei a possibilidade deles estarem armando uma balada, pois são jovens e cheios de energia e, para minha surpresa, eles disseram que não, que estavam indo para casa.
“Meus queridos, vão dar uma volta. Quando estamos especiais desta forma, temos que andar por ai, buscarmos a felicidade no contato com o outro e esperarmos as boas notícias, pois elas virão.”

Texto encomendado pelas minhas alunas Taciane Silva e Sabrina Duarte