sábado, 19 de fevereiro de 2011 | By: Rodrigo Pael

Comunicação Organizacional I: O segredo era água

Em determinada época de minha vida, fui convidado a trabalhar na área de comunicação de uma empresa de grande porte. A organização era de sucesso e consolidada no mercado, mas percebia que algo impedia o seu crescimento vertiginoso, porém, mesmo assim, gradativamente, sua força e influência ganhavam musculatura.
Articulado que sou, aproximei-me, e até fiz amizades pessoas, com os principais dirigentes dessa Instituição. Com o passar do tempo e as distâncias geográficas, infelizmente, perdi contato com pessoas que aprendi muito. Os encontros com esses chefes/amigos tinham as mais variadas pautas, de religião à política organizacional.
Foi desta forma que presenciei, dentre outras situações, oportunidades perdidas de grandes negócios e a ausência de ânimo para enfrentar desafios, mas o que mais me chamava à atenção eram as deficiências comunicativas, em especial, a comunicação interna, gerencial e administrativa.
No que tange a comunicação social, esta empresa se sagrava exitosa, mas internamente, ‘feudos’ e a ‘rádio peão’ atrapalhavam avanços importantes. Atualmente, estou cada vez mais interessado nos assuntos de gestão estratégica da comunicação organizacional e, um livro especificamente, fez lembrar-me desta instituição que trabalhei. O livro é ‘Tratado de Comunicação Organizacional e Política’, de Gaudêncio Torquato.
Na obra de professor Torquato, estou tendo contato com a história da Comunicação Organizacional, com conceitos de fluxo de comunicação interna, vertical - descendente e ascendente -, horizontal e diagonal, além de comunicação cultural, social e administrativa. Com essas teorias é possível se diagnosticar falhas nos processos comunicativos.
Uma das limitações que ocorrem nas grandes empresas é a retenção de informação descendente com o objetivo de conservação no poder. Em nível hierárquico, geralmente gerentes, que estão no meio da comunicação entre patrões e o ‘chão das fábricas’, impedem que a comunicação flua, segurando para si detalhes de acontecimentos para valorizar a informação que tem. Este mecanismo apresenta como conseqüências o descontentamento dos funcionários, gera fofocas e esquenta o clima interno da empresa.
A Instituição que eu trabalhava tinha uma sede administrativa muito bonita, branca, grande, com obras de artes belíssimas, um saguão que lembrava naves de catedrais clássicas, mas sem os afrescos. Do dia para noite, na madrugada, tamparam parte daquele belo saguão com uma imensa lona preta...
Daquela manhã em diante, muito se aventou sobre o que estava por trás daquela lona, ‘é uma cópia fiel da Pietá’, diziam uns, ‘é um novo departamento pessoal’, afirmavam os mais temerosos. A desconfiança era tanta, que até o pensamento de demissão em massa por causa da obra estava, sendo cogitado.
Não agüentando a pressão, fui levado, como líder informal da organização, a questionar sobre aquele imperioso mistério, aos meus gerentes, porém não obtive êxito. Nem a mim, que me julgava articulado, foi revelado aquele enigma. Por semanas, a principal discussão da empresa era “o que há por de trás daquela lona preta?”, nada mais se debatia, nem políticas de aumentar os lucros, novas promoções, o crescimento da empresa, não! Apenas: “O que há por de trás da lona preta?”.
Algumas semanas depois, o mistério foi ‘descortinado’, ‘deseclipsado’ e pudemos então presenciar o que estava lá e que ninguém podia saber: a instalação de um bebedouro novo...
Com a ausência da fluidez na comunicação, por vezes a Instituição pára, a espera do novo, e por vezes, o novo é uma besteira.

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