Nos últimos dois anos, fui convidado para ser padrinho de quatro casamentos, três já aconteceram: Samara e Cícero construíram uma bela história e hoje me enchem de orgulho com a beleza de seu lar; já no casamento de meu ex-aluno Elizeu e sua atual esposa Priscilla, tive a honra de participar de uma encantadora cerimônia; no final do ano, serei padrinho de um casal de noivos que se conheceram em uma inusitada ocasião, e eu estava lá...
Mas do último casamento que participei, Wolney e Marina me conquistaram por, além de me convidar para ser padrinho, me cobraram uma conversa séria e madura sobre matrimonio. Quem sou eu para dar conselhos sobre casamento? Deste assunto, conheço apenas teoricamente.
Pela distância geográfica, não pude dialogar com ambos sobre o enlaço matrimonial, por isso estou utilizando este espaço para registrar minhas particulares impressões sobre a escolha de uma vida a dois. Sou fruto de um casamento de mais de três décadas e quem observa meus pais juntos, viajando para lá e para cá, sempre juntos, me questiona: ‘sempre foi lindo assim?’
Nos últimos 50 anos, uma forma de construção de lógica está cada vez mais roubando o espaço de nosso repertório cultural – experiências, crenças, vivências, sensações e construção filosófica -, atualmente nossa avaliação da realidade é mistificada pelas histórias da televisão. Falamos como se fala nos telejornais, sonhamos como se sonham nas novelas, nos relacionamos como se relacionam no ‘Caldeirão do Huck’, rezamos como orienta os padres e pastores que povoam os canais de TV, conversamos como se estivéssemos em uma entrevista com o Jô Soares e nos emocionamos de maneira tão verdadeira como faz o Gugu, em seu Programa de auditório.
Para os mais apegados a realidade, e aos pessimistas, a vida é um pouco diferente, ora eles já perceberam que as rédeas da vida estão unicamente nas suas mãos, ora estão começando a se incomodar com uma série de situações onde os desfechos não são finais felizes para sempre, estão sentindo que a mística televisiva se baseia na realidade, mas não a reproduz.
No casamento não é diferente, aquelas imagens de jovens se casando, sarados, belíssimos, onde os movimentos são sincronizados e a química é perfeita, nem sempre acontece nos casamentos da vida real, às vezes a blusa prende e não sai, a agilidade não é a de um acrobata. Às vezes caem da cama, às vezes batem o dedinho do pé na quina da parede, às vezes o que era para ser um musical da Brodway é apenas o cotidiano.
As pessoas que se casam são reais e humanas e, por mais que queiram, não são personagens. Acredito que a maior lição que aprendi observando os casamentos de sucesso foi essa, a não mistificação do relacionamento, existe sabedoria de quem faz esta escolha, mas está escolhendo algo real, nada de ‘outra dimensão’, é o mesmo espaço/tempo, com menos espaço e com mais tempo... juntos.