Ao equilibrar experiência e
humildade, minha mãe entra em qualquer ambiente iluminando a todos como um
agradável feixe de luz. Professora por mais de 20 anos, ensinou centenas de
alunos, sempre equilibrando conhecimento científico e carinho. Lembro com emoção
daqueles pequenos estudantes que, prestes a serem expulsos da escola, eram
convidados a passar um final de semana em minha casa para ter uma densa
conversa sobre comportamento, família, exemplos e valores. O padre Fábio de
Melo, em uma de suas músicas, afirma que Deus ama mais os piores homens deste
mundo. Minha mãe parecia amar os alunos mais terríveis.
Minha mãe sempre equilibrou
discrição e polidez, com esclarecido posicionamento político e luta pelos seus
direitos. Não me canso de relembrar as manifestações em que íamos juntos,
quando era criança. Aos nove anos, já era um cara pintada junto com minha mãe e
nesta idade tomei a maior chuva da minha vida fugindo da tropa de choque do
Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, quando lutávamos por pagamento em dia
para os professores.
Dona Adélia – como meu pai
faz questão de apresentá-la – não vê a cara de quem a está aconselhando, apenas
escuta humildemente o conselho. Esta característica a torna diferenciada,
humilde e minha melhor amiga. Ao escutar um filho com atenção, faz dele
importante, faz de si autocrítica e faz de nossa família um ambiente melhor.
Se a evolução me mete medo
por nos aproximamos do fim, minha mãe evolui ao propor recomeços estáveis, maduros
e seguros. Dentro de seu exemplar casamento de mais de três décadas, a retidão
moral e a reinvenção me provaram, por diversas vezes, que relacionamento não
pode ser mistificado e que o coração de minha mãe é fundamentalmente dependente
do bem estar de seu companheiro.
Na casa de meus pais, por
posicionamento óbvio de minha mãe, nunca entrou CD pirata, “gatonet”, esquema,
jeitinho, produto falsificado, dentre outros. Minha mãe nunca usou o vocábulo
honestidade para a criação de seus filhos, mas vive a honestidade para manter o
brilho nos olhos, para olhar olho no olho das pessoas e para se equilibrar neste
mundo tão desequilibrado.